sábado, 20 de janeiro de 2018

Anne with an "E"

Apaixonada por esta série maravilhosa da NETFLIX, baseada no romance da escritora canadiana L. M. Montgomery, publicado em 1908. Só o nome verdadeiro da jovem actriz, protagonista, é todo um nome literário e romântico: Amybeth McNulty. Uma série de coração cheio, daquelas que nos enchem de emoção, ao mesmo tempo que nos presenteiam com paisagens e uma fotografia de encher os olhos. Já ri, já chorei, já me enterneci e angustiei. Sorrio muitas vezes e torno a rir e choro quando a Anne sofre ou quando realiza um dos seus muitos sonhos. Enterneço-me a cada vez que me lembra a minha própria infância e juventude. Uma série de grande candura, para as almas mais sensíveis. Ah, e entra a Geraldine James, a Sarah d' «A Jóia da Coroa», que passou na RTP nos anos 80, lembram-se? Eu adorava. 
Pontuação no Imdb: 8.5

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Desencontros

Quando  pomos os pés no mundo, pela primeira vez, choramos com frio e susto, ofendidos por nos terem retirado ao ninho que era a nossa mãe. Em crianças, vivemos em pulgas para crescer. Depois de crescermos tudo, suspiramos pela meninice perdida. Aos primeiros sinais de velhice, queremos ser novos só mais uma e outra vez, e quem o negar mente, com todos os dias amontoados no corpo traidor. O que iremos nós desejar, ao morrer? Ainda não consegui perguntar a ninguém que tivesse morrido. Imagino que os mortos suspirem, com ganas de viver. 

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Uma aventura

Lembro-me de estar na sala de aula, no Secundário, e a minha querida professora de Português informar os alunos da turma dirigindo-se, em particular, a mim e à minha melhor amiga nessa época:
- Está a decorrer o concurso «Uma Aventura», para jovens, e quem quiser pode concorrer com um conto. A história vencedora vai ser publicada em livro, pela Caminho.
Fiquei de antenas no ar, mas deixei passar a oportunidade. Na altura andava mais dedicada a namoros do que à escrita. A minha amiga entregou um conto. Lembro-me da história: um senhor perdeu os óculos e estes passaram por uma série de aventuras, até irem parar dentro de um peixe. Um dia, o dito senhor está sentado à mesa de um restaurante e, ao arranjar a sua dourada (pargo? Safio? Um carapau gigante...?), dá de caras com os seus óculos perdidos.
Que idade teríamos? 14, 15, 16 anos?
Tenho pena de não ter concorrido. Quem sabe quais teriam sido os diferentes caminhos na minha vida, com esse pequeno gesto? O namoro com as palavras de ficção surgiu mais tarde, cerca de dez anos depois. Mas a minha amiga Ana Margarida concorreu. E ganhou. E viu o seu pequeno conto publicado. Fiquei feliz e orgulhosa por ela. Inveja zero. Como disse, andava namoradeira. Para quê a ficção, se eu andava mergulhada em romance, mistério e aventura? 

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Cinza

O silêncio do tempo, a conta-gotas. Ainda o ano mal começou já este cansaço. Falta a magia, a crença num qualquer milagre. Não há sonho no despertar para a manhã de cinza. No corpo o cheiro da uma solidão entranhada. Nuas de todos os gestos, nem as mãos falam por mim. Do céu desce uma chuva miúda, água, apenas. No meu ombro já não pousam anjos.