Este mês completo um ano de artesanato. Estreei-me com esta caixinha de uvas, lembram-se?, e a caixa de presente para o Nanã (que faz 65 anos amanhã!).
e sei lá quantas embalagens de açúcar de coco, que vou fazendo, literalmente, para dar e vender. Continuo a espantar-me com a minha sorte, a facilidade com que as peças saem das minhas mãos para as de quem me diz "Eu quero". Ao início eram as próprias clientes que comentavam "Olha que acho barato, devias pedir mais. E o teu trabalho, não conta?!" E, a custo, lá vou compensando os custos e pedindo um preço mais justo, mas sempre tentando que seja acessível.
Vejo tutoriais, faço encomendas (um investimento considerável, mas que acho compensador); vou criando o meu portfólio e organizando uma espécie de stock de peças em bruto, que aguardam a sua vez, tal como um livro fechado e paciente, que um dia escolhemos ler e se nos revela, mesmo que meses ou anos mais tarde. As peças em bruto e os livros por ler são sempre um horizonte possível, um mundo por explorar. Encontro muitos elementos em comum, entre o artesanato e a escrita. Tenho um tabuleiro e duas caixas grandes que me foram encomendadas e que estão ainda por entregar (a minha amiga e eu já nos rimos, "Temos que nos encontrar!"). O que me aconteceu? Agora que as desembrulho e olho para elas, penso, “Já não as faria assim… e agora?” - apetece-me mudar tudo, fazer-lhes uma grande revisão, porque estamos sempre a transformar-nos e a Vera-artesã de hoje não é a mesma de há um ano.
Algumas peças deixam-me mais realizada que outras. Tal como um autor com os seus livros. Também aí encontro um paralelismo.
Ao deitar-me, hesito entre pegar num livro e ver mais uns tutoriais. O foco neste novo “ofício” é tal, que chego a ralhar comigo, “Não pode ser! Para tudo há um equilíbrio, mulher, escolhe o livro!” E quando sucumbo à leitura nunca me arrependo. Porque livros serão sempre livros e deles não me livro. Mas esse diálogo interior acontece, por culpa deste novo vício. Paixão, vá. É insignificante. A Ucrânia foi invadida e eu a pintar flores e pássaros e libelinhas e cavalos-marinhos. Mas o mundo continua a precisar de flores e de pássaros e de libelinhas e de cavalos-marinhos, não é? Talvez mais do que nunca.