sábado, 15 de outubro de 2016

Até quando?

Em arrumações no meu escritório minúsculo, e que mais minúsculo se torna dada a minha dificuldade em mantê-lo arrumado e em deitar fora o que pode ir fora, dou conta de que, graças às novas tecnologias e, em especial, ao recurso à Internet, muitos objectos se tornaram obsoletos. Refiro-me, por exemplo, às gramáticas e aos dicionários - português-inglês, inglês-português, francês, espanhol, latim, sinónimos, provérbios...

Os meus olhos assustam-se ao vê-los, não vá eu precisar deles debruçados nas folhas de papel amarelecido e nas letras tão pequeninas que preenchem as páginas daqueles livros malditos. Sabem-se incapazes dessa aventura antiga; só de lupa e mesmo assim. Imploram-me, por favor, dicionários desses nem vê-los, por favor! 
E têm toda a razão, os meus olhos. 
Para quê estes cartapácios pesados e poeirentos, que ocupam espaço precioso, quando as respostas às nossas perguntas se encontram ao alcance de meia dúzia de cliques? Um Google Tradutor, que despacha num segundo, embora falível, um pequeno texto ou uma frase? 
Por brincadeira, ao escrever isto abro o Google e experimento. De inglês para sueco, já que o Bob Dylan ontem ganhou o Nobel da Literatura:
The answer my friend
Is blowing in the wind

E ele escreve a resposta quase simultaneamente, sem que eu faça o mínimo esforço:

svaret, min vän blåser i vinden, Svaret blåser i vinden

Não há competição possível.
Por isso sei que mais dia menos dia terei de me desfazer dos velhos dicionários. Aqueles que ainda levam a assinatura do meu pai, com o seu nome completo e a data, ou a minha, mais tarde, com letra de adolescente, ou ainda os comprados até 2002, pouco antes de o Google e a Wikipedia entrarem pelas nossas casas transformando-nos, aos poucos, em preguiçosos. 
Um dia. 
Para já, ficaram fechados no armário, a roubar espaço também precioso. Para as estantes, apenas a literatura. E essa, até quando a guardaremos nas nossas estantes?

3 comentários:

  1. Não deites fora, Vera. Oferece a uma biblioteca.
    Uma boa semana.
    Um beijo, minha Amiga.

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  2. ... até algum dia em que, por infortúnio ou má sorte, a informação digital seja completa e definitivamente apagada. A electricidade não faz funcionar o livro fisíco. Mesmo que alimente a lâmpada... mas não a vela ou o luar.

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    1. Obrigada pelo aviso por email, Hugo Estrela, pronto, está resolvido o anonimato. :-)

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