quarta-feira, 31 de julho de 2013

Amizade

Há amigos que nos salvam vezes sem conta. Para junto de quem vimos partilhar o choro, o riso, uma celebração, um desabafo, uma frustração. E fica assim, uma dívida eterna, que não tem nome nem preço, nem prazo, nem perdão nem cobrança. São uma espécie de montanha, de chão, de farol, de braço que nos segura antes que caiamos no abismo dos pequenos nadas em que nos deixamos enredar. Trazem-nos à superfície e acendem em nós uma lamparina que nos permite continuar a caminhada, já de si frágil, em direcção aos nossos sonhos. Mesmo que saibam que o caminho percorrido, e a clareira que nos aguarda, se irão certamente traduzir ambos no despertar desses sonhos: com paciência e compreensão, nem por isso deixam de nos aconchegar a roupa ao corpo, de nos ajeitar a almofada sob a nuca, abandonando o quarto discretamente e deixando uma fresta de luz à saída, para que a inocência das nossas noites jamais se perca na escuridão.
E é assim que podemos viver um sonho, em vez de o sonharmos apenas.
Obrigada, P.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Muppets

E porque os meus dias têm sido feito de ensaios (felizmente sem o Feelings, safa! Já estes me compreendiam, ainda eu não sonhava em ser cantora profissional), e como há pouca disposição para textos, deixo-vos na companhia desta pérola musical dos Marretas, que me faz sempre rir... Enjoy!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Swing

Swingando entre várias actividades profissionais, confesso que esta semana está a ser quase inteiramente invadida pela música. Ando cantora: entre organização de reportório, escolher tonalidades, ver vídeos no Youtube, imprimir letras, ensaiar sozinha, ensaiar com os músicos.
E ao andar à caça de versões do tema "It Don't Mean a Thing", dei com esta pérola que partilho convosco :) Até porque a minha vida cada vez se faz mais assim, swingando entre uma e outra coisa...ora a música, ora a escrita, ora os livros...

sábado, 20 de julho de 2013

Margarida Fonseca Santos

Sinceramente, irrita-me um bocado esta moda de baptizarem os dias todos de Dia Disto, Dia Daquilo. Hoje é Dia do Amigo? Vá, pronto, está bem. Mas não resisto a publicar hoje aqui o tema da Margarida Fonseca Santos, com direcção musical e orquestração de Francisco Cardoso. Não deu para resistir mesmo, ora oiçam lá este miminho...

sexta-feira, 19 de julho de 2013

B34

9h10m à porta das Finanças. A máquina das senhas avariada há vários dias. Haverá um qualquer funcionário desgraçado que, diariamente, escreve à mão, em rolos de papel:
A1, A2, A3, A4, A5, A6...
B1, B2, B3, B4, B5, B6...
C1, C2, C3, C4, C5, C6...

Tirei a senha B34.

Fui à pastelaria. Escrevi.
1 poema, 1 café, 1 fradinho e 1 água mais tarde, voltei: B12...
11h10m: B26

Sentada nos degraus do 2º andar, transformei as conversas ao meu redor num murmúrio longínquo e fugi para um A4 (não, não é uma senha, por acaso a senha A vai agora no 36) e trabalhei o meu novo poema.
Depois fiquei assim, aparvalhada, ao descobrir que era possível acontecerem alguns versos numa repartição de finanças. Como um recém-nascido resguardando-se do mundo num sono profundo, fui-me evadindo, dos impostos para a poesia. Foi-me Imposto, para não EnloUqUeCeR: só assim poderão acusar-me de evasão fiscal.
Que farão estes outros, enquanto aguardam, como eu, nos degraus da escada?

B27...

quinta-feira, 18 de julho de 2013

A ferros

Já vai sendo tradição partilhar convosco, anualmente, o ódio profundo que nutro pelo ferro de engomar.
É das obrigações mais idiotas que alguma vez foram inventadas pela sociedade.
O tempo que se perde...! As horas infindáveis realizando gestos fúteis, alisando tecidos, neutralizando pregas e vincos, enquanto temos a noção perfeita de serem esses gestos anulados em pouco tempo, assim que a peça de roupa  ou de cama sai do armário: basta encostar a camisa às costas de uma cadeira, sentarmo-nos, arregaçar as mangas, enfim, basta que a malta se mexa.
Exaspera-me nunca ver o fim ao cesto, desperdiçar um tão elevado número de horas a alisar algodões. É algo muito estúpido. No entanto, não podemos escusar-nos a engomar, temos, de forma generalizada, uma aversão inexplicável a pregas e vincos involuntários; precisamos de sentir a lisura das coisas, para bem do tacto e dos nossos olhos caprichosos.
Ah, como me irrita aquele momento em que a peça, quase-quase pronta, se deixa arrepanhar pelo ferro e fica com uma série de novas pregas feitas a quente, ainda mais difíceis de tirar! Ou quando descobrimos, na peça já pronta, uma nódoa que nos escapou! Nesse caso, então, fica a certeza de termos deitado pela janela minutos preciosos da nossa vida que nunca mais irão voltar. 
Sim, já sei, há quem goste. Nunca hei-de compreender como é isso possível.
Engomar deveria estar no Top 10 das Formas de Desperdiçar o Tempo. E sentir-me-ia-me tentada a dar-lhe o 1º lugar, não fosse o prazer que sinto ao deitar-me em lençois de linho acabados de engomar. Não fosse isso, iam ver...

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Silêncio

Voltei a sentir que não é honesto sentir.-me na obrigação de publicar algo todos os dias. Nada a fazer. Logo, irei publicar quando tiver algo para partilhar convosco. Quando fizer sentido. De contrário...o silêncio. E o que há de errado no silêncio? Não dizem que pode ser de ouro?
Ora aí têm.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

J. H. Santos Barros

FAZER VERSOS DÓI

Pregar um prego, lavar pratos, cortar a erva
custa. Mas nunca nada me custou tanto que
carregar um verso das coisas mais difíceis. A fazer
do outro lado da literatura os nós do mundo.
E a desfazê-los. Para os refazer simples
andei por missas, por mares e por selvas -
fossem as puras florestas do desejo ou caves de prédios muitos altos.
Nunca rezei por vós nem por mim porque Deus não estava,
mas em todos os sítios encontrei poesia
e dei-me a fazer versos e a fazer amor como quem se imola
e não se amola com a melancolia dos vizinhos
a vêr-me apanhar o autocarro ou a chegar
da vida burocratizada que é a profissão
de organizar processos de velhice
para os que vão morrer daqui a pouco.
Pregar um prego custa, se custa! E mais deve custar
oito horas diárias de cadência bruta nas fábricas da loucura:
(eu te digo isto, operário por quem não choro nem rezo e
nem te desprezo ao ponto de cantar as glórias do teu amanhã que não há.
porque sei que tu sabes ser a Obra tua).
Mas apalpar o verso disso também custa. A mim,
não é tanto a dor explorativa que dói mas o verso que explode
dolorosamente por trás e pela frente e em diagonal
no poema. Agora que começo a escrever a minha morte,
sabem-me os versos aos verões da infância que não houve
sabem à humidade das mesas frias onde vi
os poetas outonais que não conheço fingir que choravam
e recebiam das damas, através dum lenço
a noticia rendilhada da sua condenação à morte.
É certo: tudo aborrece quando já não há canções
iludindo a aspereza da voz que primeiro as cantou
quando se morre como o Ruy Belo de fazer versos.
Venham-me com cantigas!
Digam-me ainda o «mar» é «português»
o Senhor aguarda os «corações» que se elevam ao «alto»
as selvas servem de pulmões do mundo e não há buracos
nos lugares onde deixei bombas e me mataram
e vi a «morte com um sorriso nos lábios»!
Há um frio real nestes dedos e o verso de Fevereiro não os aquece.

(de 'S. Mateus, outros lugares e nomes', Vega, 1981)


J.H. Santos Barros foi um poeta açoreano. morreu em 1983, num acidente de carro, juntamente com a sua mulher poetisa, Ivone Chinita.)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Nevoeiro

Gosto da Ericeira com nevoeiro. A paisagem torna-se leitosa, esfuma-se a linha do horizonte; a terra une-se ao céu, envolta num lençol translúcido onde as formas se perdem, ganhando ares de mistério. Hoje filmei as pás das enormes ventoinhas de energia eólica, sumindo no nevoeiro. Apenas o longo tronco daqueles moinhos se erguia rumo ao céu; as pás girando invisíveis, surgindo apenas no instante em que quase tocavam o chão, para logo tornarem a desaparecer. 
Gosto de nevoeiro. De escutar a sirene dos navios, de ver a dança do farol, cuja luz corta o manto níveo; dos longos triângulos de vapor formados pelos faróis dos automóveis. Do arvoredo. Das árvores que nos transportam para a Sintra Romântica ou para as histórias de Dickens.
Há algo de belo na aura de mistério que o nevoeiro traz, transformando as árvores em espectros e fazendo-nos acreditar que nada é o que parece, nada se encontra à distância que os olhos vêem. E o que vêem, realmente, os nossos olhos, senão a mais pura Incerteza?
Imagem: Nanã Sousa Dias, Sintra



segunda-feira, 8 de julho de 2013

Ao volante

Bom, a brincar, a brincar, há meses que não conduzia para fora daqui, numa viagem acima dos 5, 10 km. Isto de viver fora da cidade e de ser conduzida nas raras vezes em que me ausento de casa dá nisto: há muito tempo que não sentia esta liberdade de dar umas voltas de Smart, e demorar o tempo que eu bem entender, ao meu ritmo, sem pressas. Ir onde eu quiser. Relembrar-me do que é fazer parte do caos urbano, dos lugares mais corriqueiros. É patético, eu sei, mas confesso que já tinha saudades de percorrer as lojas dos centros comerciais, a namorar aquelas mil inutilidades que não podemos comprar, mas que escolhemos mentalmente e arrumamos na gaveta dos desejos. 
Reparei na inevitável troca de lojas que o tempo traz: fecham umas, abrem outras, mantêm-se as mais bem sucedidas, cujos clientes há muito se fidelizaram. 
Os mochos e os bigodes estão na moda: há mochos e bigodes em tudo quanto é sítio, em acessórios, em roupas, em artigos de decoração. Ok, estou mais ou menos actualizada, já posso regressar. Mas juro que não vou comprar nada com bigodes, obrigadinho. Nem sequer com o do Salvador Dalí.
Portei-me bem: das muitas lojas onde entrei, comprei apenas uma coisa: uma nova bola para a Bolota, porque ela merece. (é uma tipo ténis, mas muito maior)
Enchi o frigorífico com frescos. Só apetece comer saladas, fruta, tudo muito fresco. E líquidos, líquidos gelados. Um calor que não se aguenta. E no hipermercado não havia gaspacho, o que me pareceu muito mal. Como é que sobrevivemos ao verão, sem este gaspacho, pronto a servir? 


domingo, 7 de julho de 2013

Buscar alívio

Palavras para quê? Cá em casa é isto. Os pés arrastam-se, a garganta anda seca, o serra da estrela  deita-se aos cantos, como uma osga, à procura dos lugares mais frescos e já largou metade do pelo.  A Bolota toma banho nos bebedouros e arfa ininterruptamente, a tentar refrescar o sangue. As portadas são mantidas fechadas durante o dia, as janelas escancaradas à noite, para que a casa possa ter alívio. Indiferentes ao calor e ao nosso desespero, as melgas fazem um festim. Ligam-se as ventoinhas para que seja possível dormir. Estar. Engomar? Só com a ventoinha ligada...e. É preciso reunir coragem para ir lavar os terraços. Mais logo, quando o inferno lá de fora acalmar o seu hálito demoníaco. 
Ao jantar de ontem valeu-nos um trabalho fotográfico do meu marido, cujo modelo bebemos em tragos abençoados, bem gelado, a acompanhar a salada de atum. É bom ter amigos enólogos. E dos bons. Os seus vinhos não param de ganhar medalhas de ouro e prata.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Franz Kafka

E porque hoje o Google nos lembra que Franz Kafka faria 130 aninhos, deixo-vos com o desenho publicado na página do mais famoso motor de busca, simplesmente porque achei a ilustração irresistível e porque, é claro, A Metamorfose é um dos meus livros preferidos.
Muitos parabéns, Sr. Kafka.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Quase, quase

O site está quase, quase... e terá página para este blogue, claro. Assim que estiver pronto, publico...e começo a promovê-lo, ou seja, a puxar pela vossa manga, pelo vosso braço.