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sexta-feira, 26 de julho de 2019

Saudade

O dia de hoje tem um sabor ambíguo. A minha Mãe, que nos deixou há seis meses, faria hoje 85 anos. Fiquei com o nome dela: “Não me lembrava de nenhum em especial e sempre gostei do meu”, justificou-se um dia à terceira filha, a mais nova de cinco filhos num plano de quatro. Troquei-lhe as voltas. O cordão umbilical também, duas voltas ao pescoço, já a revelar a minha falta de jeito e total ausência de sentido de orientação no mundo que, encolhendo os ombros, lá me acolheu. Completa-se também um ano da publicação deste meu romance, o primeiro. Chamei-lhe «Entre Mulheres» pelo facto de o protagonista ter, na sua órbita, um conjunto delas, que deixaram a sua marca: avós, criadas e empregadas externas, mulher, mãe, filha, cunhada, namorada e outras tantas, que vão compondo o manto das suas memórias e planos, por vezes tecidos à margem da sua percepção e ingenuidade. Enquanto reescrevia esta história, apercebi-me de que uma força interior me obrigava a incluir muitas das memórias da minha própria mãe, reflectidas na Maria José Munro, mãe do protagonista. Mal sabia eu que três meses depois do lançamento iríamos receber a notícia da sua doença e que, outros três meses mais tarde, estaríamos a chorá-la. A herança que nos deixou foi imensa, daquela que não se pode entregar numa loja de penhores e a que poderemos sempre recorrer em silêncio, na hora de perguntar: O que faria a minha mãe? O que diria, nesta situação? As saudades são incalculáveis, um sentimento com que vamos aprendendo a viver. E a diluir. Nem que seja escrevendo. Um beijo até si, Mãe.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Gastão

Mal se encontram palavras para explicar a tristeza de perder um amigo de 4 patas. As fotografias - alguns dos inúmeros momentos captados ao longo destes 10 anos, na sua companhia -, foram tiradas pelo dono, meu marido, e por mim. A música é um tema original composto pelo próprio (dono), há 2 anos: Passo de Gastão: a linha do baixo a lembrar os passos pesados e bamboleantes deste cãozarrão incrível, que por vezes lembrava um pequeno urso, outras um belo lobo de orelhas arrumadas em baixo. Ficam as memórias. Mas a tristeza de o seu tempo ter chegado ao fim é imensa. Pela casa, em cada canto, nos gestos da nossa rotina, está a força da sua  ausência. Este novo e estranho silêncio, a que teremos de nos habituar. Hoje o carteiro passou e fez falta, a imponência da tua indignação, Gastãozola, o teu corpanzil a correr de um lado ao outro da casa, a ralhar com aquele homem atrevido, que regularmente aqui passa de mota, grande parte das vezes para deixar contas e recados oficiais antipáticos; tinhas toda a razão, pois tão raro é hoje em dia chegar pelo correio algo gentil para a alma, como cartas manuscritas, um postal, um presente, um livro. Guardavas a nossa casa, uma sentinela atenta, mas pousavas a cabeçorra sobre a mesa de jantar ou nas nossas pernas, a pedir 'pãozinho', a palavra mágica. A 'manita di plata', a namorar o petisco. Os olhos castanhos enormes, para cá e para lá, a explicar: 'é aquilo ali que eu quero, ali, ó'. Uivavas sentado no cimo das escadas do terraço, só porque sim, e eu chamava-te 'cãotor'. Uivavas em casa quando o dono começava a estudar saxofone, para te juntares em dueto, às primeiras notas. Além da mania de sacar guardanapos, que mastigavas e comias, gostavas de roubar o nosso chinelo do pé ou ir apanhar o sapato mais à mão, para mostrar que estavas contente por nos ver de manhã ou por entrar em casa - ninguém te ensinou esse truque, era uma arte só tua. Nos anos vividos em todo o teu esplendor, entravas em casa a atirar com a porta, para desatar a correr escada- acima-escada-abaixo, a contornar os móveis como podias, e lá vou eu outra vez galgando degraus e reaparecendo para nova corrida, alegria pura de viver. Adormecias naquela posição como que de corpo desarticulado, uma espécie de coreografia do Lago dos Cisnes, e fazias-nos sorrir e enternecer quando, à nossa passagem, esticavas a patorra para nos deter ou pedir festas e massagens. Quando fazias asneira, de pouco ou nada servia ralhar contigo: a personalidade era muita em ti, parente de lobo; olhavas impávido, como quem explica, 'roubei porque te distraíste, não tenho culpa'. Um dia foram 3 farinheiras de uma feijoada; noutro, um pedaço de queijo da serra. Como larápio tinhas bom gosto, é preciso admitir. Pela casa novelos do teu casaco em constante renovação, com o passar das estações. Vou varrendo a casa e despedindo-me de ti. Por muito tempo ainda darás um ar de tua graça em recantos mais escondidos, em mantas de lã, nas nossas peúgas e camisolas, em todas as peças de roupa. Um serra da estrela de pêlo comprido: um compromisso e uma batalha perdida. E agora olha, vou perdendo os vestígios de ti, a cada dia. As memórias agarro, essas não me fogem. 
Eras bonito e elegante, com o teu 'casa-cão', assustador para os intrusos e meigo com os amigos da casa. Perfeito, portanto. 
 Adeus, querido Gastão. Obrigada pelos anos que nos deste.
Música e execução: Nanã Sousa Dias

domingo, 5 de maio de 2019

The Durrells

Hoje, no Dia da Mãe, regresso a este meu canto para partilhar convosco uma série imperdível, a passar aos Domingos na RTP2. Haverá sempre mil pretextos para dizer ou pensar: A minha Mãe ia adorar isto. Um abraço apertado, Mãe, onde quer que esteja. Vejo, encanto-me e rio com cada episódio e olho para o lado, como se tivesse, pousado no ombro, um anjo qualquer, que lhe leva notícias daqui.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Infâncias

Legenda escrita pela minha Mãe, na fotografia
« (...) a Mãe recordou os anos que viveu perto do Largo do Rato:
− Foi onde passei alguns dos melhores tempos da minha infância.
A vista do meu quarto era fabulosa… em vez do Hotel Ritz havia um monte muito verde, onde pastavam ovelhas.
Tenho dificuldade em imaginar um rebanho ali, ou a paisagem verde. Parece coisa de séculos, naquelas gravuras antigas que vemos da cidade de Lisboa, no tempo do Terramoto, mas não, na infância da minha mãe havia ovelhas no centro de Lisboa.
− Para lá do monte e mais abaixo ficava a Rua Castilho, que naquela zona não tinha casas. Depois era o Parque Eduardo VII. Víamos Lisboa inteira do lado nascente, com o Castelo de S. Jorge e tudo.
− Devia ser bestial andar de bicicleta por Lisboa nessa altura.
− Ah sim, era tão diferente…
E os olhos ficaram sonhadores, pousados no relógio de parede, situado ao fundo da sala.
− Estava aqui a lembrar-me…em 43, tinha eu oito anos, o meu pai disse-me um dia, “vamos até à Baixa para a menina ver uma coisa”. Quando lá cheguei e vi as bicicletas, nem queria acreditar. Escolhi uma verde com campainha, uma Triumph. Essa bicicleta fez-me companhia até ele me ter oferecido a super Raleigh, já depois da guerra, e que fazia a inveja de todos os ciclistas meus amigos. Mas a bicicleta verde representou a liberdade. Em Lisboa, ao fim do dia, ia pedalar ali ao pé do parque.
Interrompeu para beber dois goles de chá Earl Grey sem açúcar. Achei cómico, a Mãe dizer “com campainha”. É claro que tinha campainha. E rodas. E assento. E volante. Vi a Mãe transformada em criança outra vez, os olhos brilhantes, apesar do corpo de garça-azul, ou pilrito-das-praias, saltitando de alegria na rebentação, enquanto ia revivendo os instantes mais felizes.»

(excerto de Entre Mulheres - diário de um lisboeta, p.115, Poética Edições, Setembro 2018)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Adeus, Mãe

Talvez um dia consiga escrever. Hoje não, Mãe. Ainda não.
Sesimbra, 1976

Lisboa, Marquês de Tomar, 1972

Sofia, eu, Mãe, Neca e Milú, Sesimbra 1977

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Textura

Já subi e desci muitas vezes os degraus que dão acesso à cave, na minha casa, e embora esta parede e este tecto estejam aqui há 13 anos, nunca os tinha visto. Refiro-me a ver. A parede tem uma colecção de vassouras "velhas", entre aspas porque foram compradas e nunca usadas, e esta forma redonda, quase feminina do tecto abaulado sempre me passou despercebida. Esteve ali, desde que foi feita pelo construtor, sem que eu me tenha detido nos degraus e estendido o braço, para lhe tocar com a palma da mão, a sentir-lhe a textura. É fria e ligeiramente rugosa, mas senti-la deu-me um estranho conforto. Muitas vezes assim é a nossa vida: coisas e pessoas que sempre estiveram ali, mas nas quais mal reparamos. Hoje notei-lhe a presença, toquei-lhe e logo este recanto ganhou outro significado. A partir de hoje é mais minha, passou a fazer parte de mim, não está só ali. Conquistou a sua razão de ser. Imaginem a quantidade de tesouros que temos, sem que houvesse oportunidade de se fazerem possuir por nós. 


quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Foi preciso isto

Resultado de imagem para whatsapp 
5nunes. De repente, os cinco tornam-se outra vez irmãos. Embora arrumados em pontos distintos no mapa, a geografia deixou de ser um entrave e os cinco inauguraram uma intimidade que não tinham, desde os tempos vividos sob o mesmo tecto. Foi preciso isto.
WhatsApp. O que se passa convosco? O que é feito? Como têm vivido vocês, em todos estes anos? Foi preciso isto. Os filminhos-tour vão mostrando as casas de um e de outro, cada refúgio, tudo o que é mais precioso, na vida de cada um, na tentativa de recuperar a distância perdida, Vejam a pessoa em que eu me tornei, com a personalidade já por todos conhecida, como quem se confirma: vejam, é assim que eu vivo, esta foi a vida que escolhi. Os sofás, as molduras, os filhos, as efemérides e colecções, os vasos com ou sem flores, o panorama da janela, os móveis, a herança e, até, o futuro próximo: isto vai ser assim, aqui gostávamos de fazer assim… e de repente estamos – não só a mostrar o presente – mas a partilhar os desejos do futuro. Foi preciso isto.
De repente, a irmã mais velha faz a confissão há muito esperada, já esquecida, da parte das irmãs mais novas, sem expectativas: gostaria imenso que todos os meus irmãos me tratassem por tu. E pelo meio do diagnóstico que ninguém deseja viver, há esta coisa singela – Tratem-me por tu –, como quem sente a urgência de encurtar distâncias, esquecer as coisas pequeninas e celebrar a palavra Família, sendo mais irmãos; estando juntos à mesa, ainda que apenas com a ponta dos dedos, nos telemóveis, a mostrar que a intimidade de uma imagem vale por mil palavras de circunstância.
Foi preciso isto. A nossa mãe teve um pesadelo esta noite. Sonhou que decorava montras com vestidos lindos e que, uma vez prontas, vinha alguém e destruía tudo. Agora fazia aqui falta um psicólogo, ou assim, para interpretar que montras serão estas. As coisas bonitas, na vida da Mãe. Juventude, Beleza, Saúde, Glamour, Aventura, Felicidade, Futuro. Foi preciso isto, para sentirmos, enfim, que o Futuro está a ficar cada vez mais apertado. E que chegou uma força estranha e inevitável, para destruir tudo.
Mas será que veio para destruir tudo?
WhatsApp?
O que têm feito?
Estamos juntos, nesta montra feita de belas coisas, para ver a construção das nossas vidas.

Dedico este texto aos meus quatro irmãos e aos meus pais. 

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Uma aventura

Lembro-me de estar na sala de aula, no Secundário, e a minha querida professora de Português informar os alunos da turma dirigindo-se, em particular, a mim e à minha melhor amiga nessa época:
- Está a decorrer o concurso «Uma Aventura», para jovens, e quem quiser pode concorrer com um conto. A história vencedora vai ser publicada em livro, pela Caminho.
Fiquei de antenas no ar, mas deixei passar a oportunidade. Na altura andava mais dedicada a namoros do que à escrita. A minha amiga entregou um conto. Lembro-me da história: um senhor perdeu os óculos e estes passaram por uma série de aventuras, até irem parar dentro de um peixe. Um dia, o dito senhor está sentado à mesa de um restaurante e, ao arranjar a sua dourada (pargo? Safio? Um carapau gigante...?), dá de caras com os seus óculos perdidos.
Que idade teríamos? 14, 15, 16 anos?
Tenho pena de não ter concorrido. Quem sabe quais teriam sido os diferentes caminhos na minha vida, com esse pequeno gesto? O namoro com as palavras de ficção surgiu mais tarde, cerca de dez anos depois. Mas a minha amiga Ana Margarida concorreu. E ganhou. E viu o seu pequeno conto publicado. Fiquei feliz e orgulhosa por ela. Inveja zero. Como disse, andava namoradeira. Para quê a ficção, se eu andava mergulhada em romance, mistério e aventura? 

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Aos escondidos

De tanto adiar a escrita da trilogia, dedicada a outros projectos, os personagens da 2º volume d' «A Ilha de Melquisedech» esconderam-se de mim. E agora, encontrá-los? Um sarilho. Procuro pela casa, vasculhando os potes da cozinha, as cestas, as fissuras da pedra, os tachos e panelas de cobre, suspensos do tecto, em gavetas, arcas e gavetões, entre as camisolas de inverno, mantas e cobertores - não vão eles ter sentido um frio abandono que mais parece desamor... mas os malandros continuam bem escondidos. Terei de lhes pegar com  jeito, levá-los com falinhas mansas, torrões de açúcar e mezinhas caseiras,  para que venham até mim como corças num bosque desencantado. É sempre assim, ficam ofendidos pela espera e com razão: Sukkar, o duende de Hidromel, Furfuris, o ajudante do moleiro Grotti, as ondinas, que há muito não visitam a superfície do Lago dos Segredos, adormecidas nas suas grutas de cristal; Mnemina, Evangelina, Zacarias, Aracne, Scribendi, Graziela, Rigoletto... todos permanecem em silêncio, amuados, até o corcunda Ratatosk, exilado na Ilha de Nullius.
Mais me envergonha a forma como tratei as novas personagens, que mal haviam começado a ver contada a sua história, quando as deixei paralisadas num gesto, como injusta  maldição: Mutatis, nascido no Outro Mundo, os espantalhos Iratus, Rusticus e Pertinax, e os humanos Benjamin Somers, Katherine e Rosemary Doolittle, Sr. Alfa e Sr. Beta, Cécile Picard, Francine Clément, Marie e Olivier La Fontaine, os irmãos Carlos e Luis Asunción e até uma família de Sintra, em Portugal, que irá participar nesta aventura. Do vilão que dará nome ao segundo volume nem me atrevo a falar, para já, não vá ele amaldiçoar eternamente esta trilogia.
Mostrem-se! A vossa espera terminou. Estou pronta.
Roubei a imagem aqui

sábado, 27 de maio de 2017

Consolos

Atravessámos o eucaliptal e fomos entregar um artefacto que nos foi emprestado, para resolver um problema no automóvel. Regressámos de casa dos vizinhos como tantas vezes acontece, carregados com nêsperas e morangos, alhos, rúcula, alface, alho francês, couve roxa, pés de cacto e brócolos, tudo acabado de arrancar à terra. Os quatro cães sempre de roda, felizes por terem mais companhia. Parecia que tínhamos ido ao mercado. Estes encontros dão qualidade de vida aos nossos dias e aquecem-nos o coração.
Depois, chegar a casa e regressar à leitura de um livro que terá segunda edição e algumas surpresas.
Para breve está marcada uma ida à Feira do Livro - dia  4 de Junho, Domingo. às 15h - a ver se os últimos exemplares da 1ª edição encontram dono. O marido entrega-se ao estudo do saxofone, o seu instrumento. Os cães a meus pés, na modorra da tarde cinza. A música encantada de Danny Elfman, nos meus ouvidos.
A vida pode estar longe de ser perfeita, os problemas existem, alguns de raízes profundas, mas há dias em que, apesar de tudo, há um consolo do que vamos tendo e do que ainda está para vir.



terça-feira, 23 de maio de 2017

Michael Franks

"Time Together", um tema composto em 2011, para o álbum com o mesmo nome, em homenagem a Flora, uma cadela que o casal encontrou. Isto é o amor aos cães. Um ternura de ver e ouvir. Os direitos desta canção foram oferecidos à Hearts United for Animals.

Flora, though you sleep
On our guru's lap now
All we see everywhere is you
As we recall our time together
Lucky is how we felt
The day we found you
And we were such a happy three
O how we loved our time together

Why must the Present
Turn to Past so fast?
The disappearing Now
I wish I had a golden bough
To bring you back somehow

Someday when all our hearts
Are reassembled
Love will connect us once again
And we'll resume our time together

domingo, 14 de maio de 2017

Se um dia

Esta noite sonhei que milhões de portugueses se mantinham colados às televisões do mundo inteiro, aonde quer que vivesse um português, mas não era para ver futebol. Nem desastres. Nem eleições. Sonhei que andavam há semanas, imagine-se!, dançando ao som da mesma valsa ad libitum, enamorados por uma voz, o condão de ser pura em cada verso, cantando por todos nós, salvando-nos, como se os corações do mundo se fossem quebrar em dois, a qualquer instante, transformados em cristal, a respiração em suspenso, o braço dado - Só mais uma volta, não caias, salva-nos! -, rogando-lhe que entregasse todas as palavras aninhadas assim, na ternura das cordas, e num piano conduzindo a melodia de veludo que ninguém consegue abandonar. As salvas de palmas e os votos, neste meu sonho, foram para aquela que era a poesia cantando o amor, e o país inteiro, a Europa e o mundo, todos se rendiam, no meu sonho, à súplica de um mendigo com voz de frágil pássaro, flautista de Hämelin seduzindo e levando consigo todos aqueles capazes de amar pelos dois.
E ainda não tinha acordado, eu, quando a valsa dos irmãos, que todos unia numa prece sem Deus, avançava e subia até à dimensão da esperança, infiltrando-se, camada por camada, na pele de quem por ela se deixava adormecer, para sonhar também. E uma voz dentro de mim dizia:
-  Seria tão bom, tão bom que um dia fosse possível, a um poema simples, inteiro, sem demasias, vencer...! Ser escutado com o coração e a mente, deixando para trás o fogo de artifício, ganhando a todos, até aos de valor, a dar peso à nossa conquista...!
Na lenda que o meu sonho ia tecendo, a feiticeira criadora nunca deixava cair o duende da floresta, imerso no seu cântico enfeitiçado:
- "Cuida das palavras, meu irmão, não te distraias, não te percas no caminho, repara que despertámos as pedras e encantámos as fadas, vamos embalar o seu espanto e mostrar que é possível dizer tudo na penumbra de um beijo".
Foi então que acordei. As nossas pessoas, milhões de gente, de muitas línguas, ainda traziam os lenços e os olhos molhados, o vinho e o champanhe nos copos, as vozes roucas e o coração cheio. À luz lilás do amanhecer, pequenas gotas de orvalho eram resquícios da festa. No ar o cheiro morno da felicidade.
Despertei e fui dar de frente com um sonho acontecido.
Se um dia alguém perguntar por nós, digam que nos fomos salvar.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Adeus, Luísa

ASAS - de Maria Luísa Baptista
É no teu corpo que invento
Asas para o sofrimento
Que escorre do meu cansaço.
Só quem ama tem razão
Para entender a emoção
Que me dás no teu abraço.
Eu quero lançar raízes
E viver dias felizes
Na outra margem da vida.
Solta os cabelos ao vento,
Muda em riso esse lamento,
Apressemos a partida.
Aceita o meu desafio,
Embarca neste navio,
Rumo ao sonho e ao futuro.
Corta comigo as amarras
Que nos prendem como garras
A um passado tão duro.
Esquece o tempo e a dor,
Pensa só no nosso amor,
Vem, dá-me a tua mão.
Sobe comigo a encosta,
Porque quando a gente gosta
Ninguém cala o coração.
Despedimo-nos hoje da nossa querida amiga Maria Luísa, que gostava de escrever versos para fado, muitos dos quais ficaram muito bem entregues na voz da Katia Guerreiro, com quem tinha uma relação maternal e de grande amizade. Nunca esquecerei esse momento, a Katia junto do caixão, cantando Asas, mais uma vez, com uma voz que lhe nascia da dor. Adeus, querida Luísa. Um abraço forte ao nosso amigo João.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Vida silvestre

Estendo a roupa sob o canto dos pássaros, roupa lavada cujo amaciador me transporta para um campo de girassóis ou de uma qualquer flor silvestre, com cheiro a liberdade.
Trabalho no pequeno escritório com vista para o vale, tudo verde, azul e branco à minha esquerda, o resto são livros; de frente o serra da estrela deitado, sob a janela de rede que emoldura o pinhal, a poente.
E é daí que chegam os meus vizinhos, do pinhal, da Casa do Segredo para a Casa da Lua, a entregar-nos morangos tardios para a estação, acabados de colher.
Faço uma máquina de loiça, engano um almoço, também ele tardio, com um copo de leite e bolachas, antes de subir de novo ao escritório. Os cães sempre colados às minhas pernas, como sombras arfando.
Faço nova pausa no trabalho de revisão literária, um livro que fala dos astros, das conjugações do universo celeste, a fazer fé na fé do leitor que usa a astrologia como bússola, para que a sua vida não seja perdida em deserto.

Desço as escadinhas de madeira e faço um café na chávena de barro e pequena flor, gravada com o nome "Casa da Lua".

O sol deita-se na perfeição da tarde, enquanto eu regresso ao texto por rever. Os cães dormem. O meu frigorífico cheira a morangos e a roupa, ao vento, liberta o cheiro das flores silvestres e este vai, numa serpentina perfumada, ter com a planície e os pássaros, que durante todos os meus gestos nunca deixaram de cantar.
Tudo é entardecer, mas nada é demasiado tarde, por mais tardios que sejam os meus dias.


domingo, 8 de maio de 2016

Vitrais e retalhos

Às voltas com o meu próximo livro, fui invadida pela nostalgia, que tudo envolve num manto dourado. Ao dar com os vitrais de Almada Negreiros, na Igreja de Fátima, onde fui baptizada pelo Padre Barnabé (que não gostou do meu nome por este não ser cristão e teve azar, pois o nome escolhido para a terceira filha foi, precisamente, o da mãe do bebé), dou por mim a revisitar as cores tantas vezes fixadas pelos meus olhos míopes, ao longo da infância:


Acho que é daqui, em parte, que me vem o fascínio por vidro azul e por vitrais de cores intensas, desde os de motivos religiosos, como estes, passando pela flora e fauna, aos temas geométricos, em portas e janelas Arte Nova, que reencontro por vezes, embevecida, nalguns filmes de época ou de fantasia.
Emma Thompson, em Nanny McPhee (2005)
Colado à Igreja, que dele se apropriou entretanto, ficava o cinema Berna. Recordo a emoção e o orgulho que senti, por ter ido pela primeira vez, com o meu irmão Pedro, ver um filme para gente grande: «Era Uma Vez na América», de Sergio Leone (1984).
Eu tinha cerca de 15 anos de idade. O filme era enorme e intenso. Lembro-me de ter demorado algum tempo a regressar ao mundo real, enquanto atravessávamos a Av. Marquês de Tomar, para regressar a casa, a poucos metros.
Somos feitos de recordações, larápios da nossa própria vida, roubando memórias que levamos connosco para dentro dos livros, como quem vai tecendo a sua manta de retalhos de lã, a aconchegar a criança que fomos, para que não se desvaneça nas sombras do tempo.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

60 anos - Bodas de Diamante

1974
1972
Entre o dia real de casamento (21 de Abril de 1956) e o dia de celebração (amanhã, dia 23 de Abril de 2016), fica este post, temperado pelo espanto e orgulho de ter os meus pais com saúde, felizmente, e juntos, ainda, ao fim de 60 anos de casamento. Não é para todos. Deixo aqui um texto que há-de ser adaptado, para integrar um qualquer livro, e que escrevi há tempos em honra de ambos pois, como sabem, o mar é elemento essencial na nossa vida. Os anos passam, mas ficam as recordações mais profundas.

OS ÁLBUNS DE FOTOGRAFIAS 

Depois de folhear os álbuns de fotografias dos meus pais, os velhos e pesados álbuns de Sesimbra, recebi muito mais do que esperava. Em princípio, pretendia apenas caçar as imagens preferidas e digitalizá-las, com a ajuda do Nanã, para construir o meu próprio inventário de recordações. 
Ao fim de duas tardes de trabalho em roda dessas fotografias, cujas cores, há muito perdidas, o Nanã ia recuperando, ficou a aceitação dos meus primeiros vinte anos de vida. Não foi somente o averiguar de memórias, mas sim a confirmação do passado. Quando, num curto espaço de tempo, nos tornamos observadores da nossa própria vida, revisitando o berço, as casas, as metamorfoses do corpo, tomamos consciência do lugar que ocupamos na nossa família. Hoje, com trinta e oito anos, revejo-a com olhos adultos e sorrio: afinal, não há ali nada de dramático, injusto, errado: são apenas vidas a ganhar forma, a transformar-se. A chegada e a partida de uns, os rostos de outros (demasiados) que se retiraram para sempre − não apenas da nossa vida, mas da deles: “Olha…”, digo, às imagens que me recordam as pessoas há muito desaparecidas: os padrinhos, os eternos amigos (que afinal não eram eternos), o avô, a avó, o outro avô, a outra avó, o cão, o outro cão, a saudade. Lugares e paisagens transfigurados (irremediavelmente perdidos), barcos que já não poderão levar-nos pelas águas de tantos verões. Filha de um oficial de marinha, encontro agora o verdadeiro espaço que esse elemento ocupou na nossa família. Vejo, com uma nitidez inventada, as inúmeras viagens a dois que os meus pais iam fazendo, entre filhos. Fomos crescendo, entregues a nós próprios, desenvolvendo um instinto de sobrevivência que, em parte, se foi manifestando sob a forma de egoísmo. Sei que eu e os meus irmãos (rapazes) saímos à minha mãe nas doses generosas desse traço de carácter, mas até nessa verdade encontro perdão. Conciliei-me com as viagens frequentes que os levavam para parte incerta. Pelo menos, assim eu as encarava, sob o olhar ingénuo da minha (pouca) idade. Afinal, eram dois. Um casal. É preciso tempo para se ser apenas dois. A minha mãe sempre bonita, sonora, franca, uma fortaleza elegante. O pai, insondável, meigo, silencioso, um rochedo no mar alto. Rochedo e fortaleza. O mar outra vez. Cinco filhos. A casa sempre cheia, em movimento e caos. Ruído, gritos, modas, queixumes, risos, portas que batem com estrondo. É preciso respirar, sair. Hoje, que há muito vivo longe da sua asa e os vejo a envelhecer, resta-me a nostalgia e compreendo, finalmente: às vezes, é preciso ser egoísta. Traumas? Alguns. Contudo, nenhum de nós foi enclausurado em quartos escuros, pelo contrário, crescemos com dias solarengos e arejados, correndo pelos campos, ou navegando rumo ao azul escuro e límpido. Não raro se fecharam os olhos, muitas regras se quebraram. Caímos, chorámos, aprendemos. Fomos fortes, sempre que nos levantámos. Crescemos. Os meus pais ali, presentes, por entre os seus próprios temporais.
No segundo álbum, a infância abandona-me, até que me transformo numa mulher. Fiz as pazes com a minha ingenuidade e com os erros que se escondem por detrás das Veras que vou encontrando ao longo das páginas: intimidades e angústias que vou reconhecendo à medida que me cruzo com datas, vestidos, lugares. Afinal, eram tão poucos os anos, tão frágil a sabedoria. Namorados e amores que me acenam, mesmo sem aparecerem na fotografia, pois toda a vida que circunda aquele rectângulo de papel surge de repente, mostrando o invisível. É enternecedor assistir de perto a essa mudança desconcertante, veloz, desapiedada. Algures, por entre as fotografias, encontro o carácter fugidio do tempo. Assusto-me. À medida que avanço em direcção ao fim, concluo, com tristeza, que a vida nos foi separando e que as reportagens sempre atentas do pai se vão limitando ao casamento dos filhos, aos baptizados, ao aniversário de alguém que, em boa hora, serviu para reunir outra vez uma família que vai engordando e dispersando-se, como os ramos de uma árvore ao vento. Os momentos valiosos de cada um, que máquina nenhuma registou, são as folhas que ninguém conseguirá agarrar. Espalhámo-nos pelo país, os netos cresceram sem grandes cumplicidades entre eles. Nós, os irmãos, estamos prestes a ser avós, mal tendo ocasião de acompanhar a vida dos nossos sobrinhos. Tios, primos e sobrinhos ganharam para mim uma conotação natalícia…
É urgente que nos reunamos regularmente. Há que construir novos álbuns, prender os dias ao papel.
Fecho estes com orgulho, apesar de tudo.
Esta é a minha família. A minha vida.
(Verocas, Bracial, 14 de Abril de 08)

Beijos e abraços aos meus quatro irmãos e, em especial, aos meus queridos pais, nesta data digna de muitas celebrações.
mãe, 5 filhos e algumas visitas: a mesa tantas vezes cheia...

domingo, 3 de maio de 2015

A minha mãe



"Estás cada vez mais parecida com a tua mãe", é o que oiço frequentemente. Para mim é um elogio, uma vez que a minha mãe sempre foi um exemplo de elegância e de charme. Os álbuns da casa-mãe estão cheios de fotografias da senhora que foi a modelo preferida do meu pai, num tempo sem photoshop, em que a máquina captava a verdade que os olhos viam. À minha mãe agradeço ter-me deixado ler todos os livros que eu escolhia das estantes, da casa de Lisboa e, sobretudo, da de Sesimbra, cuja biblioteca é maravilhosa. Muitos livros em francês, infelizmente, de contrário a minha primeira formação literária teria sido ainda mais rica. Também lhe devo, e ao meu pai, a formação musical: para sempre me ficou a influência do jazz e da bossa-nova, a recordação de muitos invernos na salinha da casa de Sesimbra, a ouvir Frank Sinatra, Paul Simon, Chico Buarque, Paul Williams, Carmina Burana, de Carl Orff... e os filmes, claro, boas "fitas", como ela dizia, acrescentando, quando eu torcia o nariz: "tem de ver, Vera". E eu via. E ainda bem: musicais, filmes italianos, franceses, ingleses, americanos. E as séries boas da época, que me deixava ver, mesmo que acabassem um bocadinho para o tarde...
A casa estava sempre cheia de gente, pudera, só filhos, éramos cinco e depois vieram os namorados, que engordavam ainda mais o grupo à mesa. Em Lisboa e, especialmente, em Sesimbra, a mãe cozinhava para todos, experimentando pratos com sabores do mundo, comida chinesa, tipo, galinha com amêndoas, algas e soja (acompanhado com chá de jasmim em chávenas autênticas, de porcelana "casca de ovo"), carne à bolonhesa (receita maravilhosa, que tantas vezes faço e o meu filho adora), souflé de peixe servido em conchas de vieira...tinha assim uma paciência incrível para fazer pratos criativos. E não falhavam as velas altas na mesa, acesas à hora do jantar, apagadas com uma campânula de prata, de haste comprida, rituais que se perderam, como compôr álbuns de fotografias em folhas enormes de cartolina, com legendas escritas a branco. Ainda hoje telefono à minha mãe para tirar uma dúvida qualquer de culinária (é um privilégio de que não abdico, enquanto puder). A ela devo tantas dicas de beleza, de bom-senso, o saber estar, o ter savoir-faire, e fazer a coisa certa, aquela que nos dita a consciência (ainda que por vezes fosse um pouco sob o lema "façam o que eu digo, não façam o que eu faço). Nunca foi mãe-galinha, mas sabe ser mãe leoa quando é preciso, apesar dos seus quase 81 anos. Parabéns, mãe! Que se mantenha assim, bonita, lúcida e com saúde, enquanto desejar.
Lisboa, 1970: a elegância em pessoa. 5 filhos postos no mundo. Eu tinha poucos meses.

Natal 1971, na casa da Marquês de Tomar. as estantes sempre recheadas de livros.
Lisboa, 1970. 4 filhos à mesa (eu não consto, ainda mal me sentava, quanto mais à mesa grande). Lá estão os castiçais com as velas, vêem? Sempre acesas ao jantar.
A minha mãe, 1977

Anos 70, com a mana Sofia, na tal salinha na casa de Sesimbra, em cuja lareira se assaram muitas castanhas.

Em Sesimbra, 1976, eu na muda do dente, com 7 anos, a minha mãe pouco mais nova do que eu sou agora
                                    
Não podia falhar uma fotografia à mesa na casa de Sesimbra, neste post de recordações. Isto era um dia normal :-)
1969, com os cinco filhos, eu ao colo.

Outono 2011, os cinco filhos juntos (coisa muito rara)

quinta-feira, 19 de março de 2015

Pai

Meu pai, 1972
O meu pai tem quase 84 anos. Quando telefonei esta tarde, para o carinho da praxe, considerando a data de hoje, estava de saída para o veterinário (dois dos onze gatos tinham consulta), depois de já ter ajudado a preparar, imagino eu, o almoço para si e para a minha mãe, e realizado todos os gestos a que se entrega há tantos anos, numa rotina cinzelada pelo tempo.
O meu pai é marinheiro. Oficial da Marinha. Reformou-se como comandante, desembarcou de vez e foi morar com a minha mãe para a grande casa de férias, que alberga uma enorme parte das minhas recordações. Na casa, espalhado pelas paredes toscas, pintadas de branco-espuma, em armários e gavetas, sobre os móveis, sempre houve um rol de objectos que contam histórias do mar antigo e recente: astrolábios, sextantes, compassos, bússolas, cartas e triângulos náuticos, lemes, nós, pequenas réplicas de embarcações, bandeiras náuticas, altímetros... mas também cintos de chumbo, barbatanas, óculos de mergulho, rações de emergência para náufragos, dentaduras de tubarão e até um pequeno crocodilo embalsamado, em cuja bocarra aberta surgiam teias que ninguém queria retirar.
Uma amiga, que há treze anos acompanha o que vou escrevendo, disse-me um dia que eu tenho "essa coisa do mar, por causa do teu pai". Deve ser a tal história, quem sai aos seus. Haverá coisa mais literária do que um farol, sempre de sentinela, num cabo ou promontório batido pelas ondas? Pronto. Parece que os meus textos estão cheios de coisas marítimas, metáforas, lembranças, alusões a cheiros e texturas, inclusive o perfume que se escapava, em serpentinas, dos vários cachimbos do pai João Manuel. Há muito tempo que deixou de fumar. Mas ainda cuida do jardim, que pede ao meu pai esforços que me custa imaginar, além dos muitos gatos que vão tendo desde que lhes ofereci o primeiro - Fellini - ao engravidar do meu filho.
O meu pai, em terra firme desde que se reformou das viagens que o levavam para longe de casa durante meses, permanece, de uma forma ou de outra, ligado ao mar que lhe está no sangue. Um dos seus hobbies é a construção de barcos, a partir de kits sofisticadíssimos, cuja perícia e paciência implicam anos de trabalho. Tem cinco filhos e já construiu vários, entre os quais o Bismark, um imponente couraçado da II Guerra Mundial. Para mim, escolheu uma réplica bem diferente, que aguardo com impaciência. O meu filho também: é o Soleil Royal, um galeão lindo de Luís XIV. Já estou a vê-lo, partindo do porto de Havre ou de Brest, envolto em brumas.
Hoje, que sinto na pele a impiedade do tempo que nunca deixa de navegar connosco, levando-nos para um alto-mar de onde, um dia, jamais regressaremos, só desejo que Deus lhe dê saúde, que o meu pai continue, por mais algumas marés, a fechar e a abrir as escotilhas da casa enorme, a cuidar da sua tripulação de gatos junto da minha mãe, e a construir a sua frota num mar de faz-de-conta, enquanto eu, na ferrugem das palavras salgadas pela memória, vou tecendo uma rede de páginas de espuma, como quem apanha conchas à beira-mar, para que o passado não fuja.
Dedico este texto ao meu pai.
Os cinco filhos e a mãe dos mesmos (Vera Mãe), Agosto 1969

Eu, Eduardo, Sofia, Mariana, Pedro
Os cinco filhos, que é raro ver reunidos numa fotografia, porque a vida não deixa

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Gratidão

Quando o azar lembra um bebé adormecido, inocente no sono dos mais inocentes, sem reconhecer a nossa existência - fiel e infeliz companheira na cumplicidade de tanta má sorte -, andamos com pezinhos de lã, para que tão cedo ele não desperte, na esperança de prolongarmos a fase abençoada, em que as peças da vida parecem encaixar numa harmonia que já não julgávamos possível. As expectativas quase ao nível zero. O que vai surgindo deixa-nos nos olhos a mais grata expressão de espanto. Nas mãos, a gratidão e a esperança, sim, que é semente cultivada, a tentar que a maré construa corpo, solidificando o nossa sorte. Que estes dias não sejam feitos de vento mas rijos, tendões e músculos, carne e pele tonificadas por muitos amanhãs. Para que a vida se vá erguendo das cinzas...e a nossa esperança possua alicerces. Não seja apenas ilusão, o etéreo conforto dos infelizes que, a cada dia, inventam novas razões para sorrir.
Obrigada, mana Rita G. 

domingo, 25 de janeiro de 2015

Bolota

Faz três anos que adoptámos a Bolota. Nunca tinha tido uma cadela e estou fã. É maluca e adorável. Mimosa, brincalhona, esperta. Bendito o dia em que a fomos buscar ao canil de Torres Vedras, onde ela vivia há cerca de um ano. Ficará sempre na lista das melhores decisões.







Aqui o link para o post escrito no dia em que a Bolota chegou