O dia de hoje tem um sabor ambíguo. A minha Mãe, que nos deixou há seis meses, faria hoje 85 anos. Fiquei com o nome dela: “Não me lembrava de nenhum em especial e sempre gostei do meu”, justificou-se um dia à terceira filha, a mais nova de cinco filhos num plano de quatro. Troquei-lhe as voltas. O cordão umbilical também, duas voltas ao pescoço, já a revelar a minha falta de jeito e total ausência de sentido de orientação no mundo que, encolhendo os ombros, lá me acolheu. Completa-se também um ano da publicação deste meu romance, o primeiro. Chamei-lhe «Entre Mulheres» pelo facto de o protagonista ter, na sua órbita, um conjunto delas, que deixaram a sua marca: avós, criadas e empregadas externas, mulher, mãe, filha, cunhada, namorada e outras tantas, que vão compondo o manto das suas memórias e planos, por vezes tecidos à margem da sua percepção e ingenuidade. Enquanto reescrevia esta história, apercebi-me de que uma força interior me obrigava a incluir muitas das memórias da minha própria mãe, reflectidas na Maria José Munro, mãe do protagonista. Mal sabia eu que três meses depois do lançamento iríamos receber a notícia da sua doença e que, outros três meses mais tarde, estaríamos a chorá-la. A herança que nos deixou foi imensa, daquela que não se pode entregar numa loja de penhores e a que poderemos sempre recorrer em silêncio, na hora de perguntar: O que faria a minha mãe? O que diria, nesta situação? As saudades são incalculáveis, um sentimento com que vamos aprendendo a viver. E a diluir. Nem que seja escrevendo. Um beijo até si, Mãe.
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