segunda-feira, 29 de abril de 2013

Bichos

É por estas e por outras que eu adoro bicharocos. Tenho uma colecção muito boa de momentos como estes.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

À moda antiga

De saída para Braga. Fiquem bem, portem-se mal, mas não muito, que é como quem diz, transgridam, divirtam-se, mas com (algum) juízo. Não terei computador. Comigo levo livros, canetas e cadernos, como uma menina de escola. O objectivo é ler e escrever à moda antiga, sem ecrãs; observar, percorrer caminhos, perguntar coisas às pessoas, em vez de pesquisar no GPS, no Google e na Wikipedia. Lembram-se como é? :) Eu vou ver se ainda sei fazer isso...
                            

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Ella Fitzgerald

Parabéns! A minha querida Ella faria neste dia 96 aninhos. Foi a cantora que mais escutei ao longo da vida e continua a ser, até hoje, a minha cantora preferida. Conseguia interpretar baladas com uma ternura e doçura que lembram um manto de cetim púrpura, ou carmesim. Pelo menos são as cores que eu vejo quando a escuto.
No "scat" não houve ninguém como...Ella. Improvisava, dizia, usando a voz como um trompete, no que respeita ao ataque das notas e ao fraseado.
Deixo-vos com dois vídeos: uma balada (1950), "I've Got a Crush On You" e "Well Allright, Okay, You Win" (1969, o ano em que nasci), um bom exemplo da "garra" que a caracterizava num género mais dançável e contagiante. O seu swing e sentido rítmico  eram impressionantes. E a afinação, claro, mesmo nas "manobras" mais ousadas, ao vivo. O que irão ouvir dá uma amostra do que foi esta grande senhora do jazz, que gravou cerca de 200 álbuns e ganhou inúmeros prémios e condecorações. Um pedaço do meu coração está com ella, sempre. 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Dois mundos


Caminhando, chegam-me lanças de luz entre os ramos dos pinheiros. O vento traz-me ondas de incenso composto de folhas frescas que um agricultor queima; o verdor da salsa, que emoldura as bermas da estrada que serpenteia e vai descendo, inunda-me as narinas e abre-me o apetite por alimentos frescos, temperados com azeite maduro e vinagre de frutos vermelhos. Há pombos que se atravessam à frente dos meus olhos, recolhendo-se ao pombal da D. Alberta. A tarde finda. Os meus passos acontecem ao ritmo de Symphonicities, de Sting, que os auriculares entornam nos meus ouvidos. Na sombra, arranco, à passagem, fragmentos de cedros, que esfrego nas mãos. Enquanto um melro me olha, calando a melodia e dançando sobre as flores silvestres, sinto-me apaziguada com este meu isolamento. Não estou longe do mundo: este é apenas o MEU mundo. Preciso somente de me lembrar, como quem anota uma tarefa num post it: visitar o outro mundo de vez em quando.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Entre as ervas


Era pequena como um grão de café. Habitava entre as ervas e brincava com os bichos rasteiros, diluindo-se, reunindo-se de novo, inteira uma e outra vez. Numa certa manhã, a lagarta disse: — deves regressar a casa e quebrar a tristeza da tua mãe. Quando esta a viu, chorou de alegria. Há muito que havia perdido aquele seu rebento, uma gota entre tantas. A filha da Chuva, gota de água morna, voltara transformada em orvalho. Nesse dia houve aguaceiros e o céu, em festa, encheu-se de cor.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Frankenstein

Hoje, ao pequeno-almoço, liguei o televisor, sintonizado, por acaso, no canal História. O programa que estava  a dar era interessante e deixei-me ficar na sua companhia: tratava-se da descoberta da electricidade. Passando por Luigi Galvani e Alessandro Volta, cheguei a Shelley. 
Aprendi que Shelley, MARY Shelley, foi quem escreveu, aos 19 anos(!), a história original de Frankenstein. Sabiam? Foi publicada anonimamente com o título "Frankenstein or The Modern Prometheus" em 3 vol., quando ela tinha 21 anos e só cerca de 4 anos depois, em 1823, é que ressurge com o nome da jovem autora. Mary estava habituada a ter a casa, onde ela vivia com os pais, frequentada por gente das ciências, que ficava até altas horas discutindo os progressos de vários "filósofos naturais" (que faziam experiências, tal como Aldini, com cadáveres, ligando eléctrodos e tentando reanimá-los). Consta, neste programa do canal História, que ela se deixou impressionar por esses acontecimentos, que estiveram na origem da sua famosa história; outros defendem as palavras da própria autora: que foi "um sonho que teve", misturado com um imaginário fruto das suas leituras góticas e Românticas.. Mistério...



File:Frank1818.jpg
1ª edição, 1818

domingo, 21 de abril de 2013

Demoníaco

"Pimento lampião, (Capsicum chinese), também conhecido como Habanero de cor típica vermelha (indicativo de que está maduro) no entanto pode ser encontrado em diversas cores, amarelo e laranja. A sua forma lembra um lampião, com mais ou menos 5 cm de comprimento e 3 a 6 cm de diâmetro. É um dos pimentos mais picantes, não pertencendo ao grupo dos pimentos doces, é sim um pimento malagueta. Combinam perfeitamente com pratos à base de tomate, em molhos, marinadas de mariscos, e picles.
Cuidado, Extremamente Picante."

SIM, MEUS AMIGOS. EU, O MEU MARIDO E OUTROS 3 AMIGOS PUDEMOS CONFIRMAR ISSO MESMO HÁ POUCOS DIAS. Ainda nos rimos bastante à conta disso...mas só depois de passar a aflicção! :) Só com menos de metade de um, ficamos sem conseguir respirar nem falar, palavra de honra. Muito cuidado com estes malandros! São MESMO dos Infernos! 

sábado, 20 de abril de 2013

Jane Austen

"Orgulho e Preconceito", lançado em 1813, concedeu à escritora Jane Austen o status de uma das mais populares escritoras da Inglaterra. Esse mesmo livro completa agora duzentos anos, como um dos romances mais importantes da literatura. Como celebração  da obra e em homenagem à autora, foi lançada uma colecção de selos comemorativos em Inglaterra.
                     

sexta-feira, 19 de abril de 2013

a imagem e a escrita IV

...e aqui está a imagem de Rodney Smith mais uma vez, em jeito de despedida, com um conto de outro amigo que aceitou o desafio de escrever a partir do que os olhos vêem.
© Rodney Smith
Espelho Meu

 Olhou para o alto da velha árvore descarnada que se erguia gigantesca contra um céu cinzento, e viu-se a si mesmo a olhar para baixo na sua direcção. Ficou perturbado e perplexo, o homem que o olhava de cima era um perfeito reflexo de si próprio, quer nas suas características físicas quer no seu vestuário. Até o ridículo chapéu alto que ostentava era o mesmo. E o homem sentado na árvore parecia também espelhar a mesma perturbação e perplexidade que ele sentia. Será que estava a pensar o mesmo que ele? Dirigiu-lhe a palavra, quebrando o silêncio, “Olá, como está?”, e a frase soou ao mesmo tempo na boca do homem sentado no alto da árvore. E de novo as mesmas emoções se espelharam no rosto de ambos. Rodeou o enorme tronco, procurando forma de subir a árvore e, quando a julgou ter encontrado, elevou-se, não sem dificuldade, até ao lugar onde o outro homem se encontrava. Para sua surpresa não estava ali ninguém. Sentou-se, olhou para baixo, e viu-se a si mesmo a olhar para cima na sua direcção, como num labiríntico desenho de Escher.
(Luis Nogueira, Faro)


Sugiro uma espreitadela ao blogue ESTRADA DE SANTIAGO, de José Eduardo Lopes, que também aceitou o desafio. É muito curioso ver como a mesma imagem pode despertar histórias tão diferentes... Agradeço a  todos os que participaram!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

a escrita a e imagem III

Para enriquecer este exercício, escolhi um conto de alguém que aceitou o desafio aqui lançado e me surpreendeu com uma história belíssima, de grande efeito poético.
© Rodney Smith

A Árvore


Airoso e elegante na sua figura de aristocrata que normalmente desvalorizava, A. observou com minúcia a excessiva ordem no salão onde lia. "Escapa-me aqui qualquer coisa." - reflectiu.
Erguendo-se das suas longas pernas tão difíceis de arrumar, de soslaio vislumbrou ainda uma pequena mancha no soalho. Instintivamente inclinou-se para a limpar, mas um impulso parou-o. Decerto aquela ínfima imperfeição ocultava um mistério.
Com o estilete que em geral utilizava para abrir as cartas esgravatou-a. Sob os tacos escurecidos encontrou um punhado de sementes negras.
A ocasião merecia uma melhor aparência.
Atravessando a mansão até ao quarto, dirigiu-se ao armário de roupa quase igual onde a custo conseguiu encontrar uma bela indumentária. Sobre uma antiga cartola do avô a sua mão hesitou. "Que se dane!" - pensou, enquanto a colocava.
Sob os olhares esgazeados da criadagem foi em direcção ao exterior. O terreno à volta possuía a geometria adequada aos jardins de Versailles, mas nele nada florescia. Ao invés, encontrava-se povoado de incontáveis esculturas de gárgulas, belas na sua bizarria e solidão. Cuidadosamente construído ao longo dos anos, o jardim de pedra era o seu grande feito. Os únicos seres viventes que nele se podiam contemplar eram as flores no coreto, recebidas todas as semanas de figura anónima cuja existência A. aceitava sem se questionar.
Em passo febril desviou-se do caminho para uma pequena colina que mantivera incólume àquela parafernália de quimeras de pedra. Não se apercebeu da lama que subia pelos sapatos acima e entrava nos seus pés. Viram-no mergulhar na terra as mãos delicadas de quem nunca trabalhara, escavando e plantando as sementes que trouxera consigo no bolso.
E eis que ela nasceu. A Árvore. Portentosa, podia conter inúmeras outras árvores dentro de si. Mas era sinuosa como um labirinto e nela pareciam nascer os mesmos rostos de angústia do seu jardim. O cúmulo foi quando de um ramo brotou uma figura humana em tudo idêntica a ele. Observaram-se com mútuo espanto.
Foi então que o Primeiro falou. "Tudo isto é teu."
Tranquilamente desceu a colina e foi em busca de quem lhe enviava as flores do coreto.
(Soraia Costa, Lisboa)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

a escrita e a imagem II

Como ficou dito ontem, aqui vos deixo um conto que escrevi com a mesma imagem, e que nada tem a ver com o primeiro conto. A pergunta que se coloca, é: com esta imagem (ou outra qualquer), que história imaginam? Quantas histórias se esconderão atrás do que os nossos olhos vêem? A IMAGinação é que sabe!
Amanhã mostro-vos a terceira :)
© Rodney Smith

Noivos em fuga

A igreja estava cheia de convidados. Boquiabertos. Ainda ninguém se refizera do escândalo. Só os rapazolas riam ainda, inconscientes da gravidade da situação; apenas reviviam aqueles momentos inesperados que os haviam resgatado ao tédio: o tabefe, os gritos, o bouquet lançado ao altar-mor, pela noiva ofendida.
O noivo fugira antes do sim. A família da noiva estava desolada e pedira ao padrinho que fosse incutir algum bom-senso na cabeça do outro pateta, a cujo pai eles deviam tantos favores. A noiva fazia um drama intraduzível, cuspindo impropérios dignos do mais vil taberneiro; as mães tapavam os ouvidos às crianças; os velhos perguntavam, O que é que se passa? Eu ouvi bem o que ela disse? 

Enquanto isso, tentando chamar o amigo à razão, compor o ramalhete - não o bouquet, entenda-se, que esse não tinha salvação possível - o padrinho fora no encalço do fugitivo, que se havia embrenhado na floresta, gritando Não-Não-Não ininterruptamente. 
Vamos encontrá-lo aqui, num velho freixo decepado, de traseiro encaixado  a três metros de altura. O chapéu alto ainda na cabeça, como um enfeite de bolo nupcial fora do sítio. A postura lembrava um bonifrate, um boneco de trapos, soluçando e deixando tombar as suas lágrimas sobre a lavandula angustifolia, que perfumava as sombras com a sua tapeçaria lilás e tenra.
- Amadeu?
- Que é (soluço).
- Sabes que não podes fazer isto à Giovanna...Vá, anda lá, recompõe-te, apruma-te e volta comigo, que todos irão esquecer esta cena que fizeste. Casam-se, faz-se a festa, e os copos lavam tudo, vais ver.
- Não quero! Nem por todo o dinheiro do mundo! Giovanna? Que raio de nome! "Dádiva de Deus?!" Essa é boa...! Do Diabo, talvez!
- Bom, tenho de concordar que não é nenhuma Helena de Tróia, nenhuma Cleópatra, mas...
- Nunca! Estás a ouvir? NÃO CASO! Não caso com a verruga, nem com os olhos tortos, nem com  aquele nariz pingado. E o bigode? Tu viste-me o bigode?!
O padrinho conhecia o seu amigo Amadeu desde a infância. Também lhe conhecia as namoradas. Por isso sabia que não valeria a pena insistir. Era um mimado, um egoísta, incapaz de uma atitude altruísta para salvar a família da bancarrota. "Realmente foi malandrice...o photoshop é tramado...mais valia que esta farpela não fosse o tema da festa e que estivéssemos mesmo no séc. XIX, nos tempos em que as fotografias eram verdadeiras...", pensou.
- Muito bem. Vou voltar para lá e anunciar que o casamento foi cancelado. Eu invento uma desculpa qualquer, não te preocupes.
Quando, já virado de costas, se dirigia de regresso à pequena igreja, ainda escutou a voz do outro:
- Diz que eu tenho outra a quem amo perdidamente! 
Mal sabiam eles que, numa das filas de trás, entre os convidados, se encontrava Amásio, o homem que entrara na igreja tardia e sorrateiramente, e que se preparava para interromper a cerimónia no momento infinitas vezes ilustrado em filmes, Quem conhecer... blablabla... que fale agora ou para sempre se cale".
Aquela cena fora para eles, Amásio e Giovanna, absolutamente perfeita. Uma saída airosa, Giovanna tornando-se vítima, ao invés de fugitiva. O carro da fuga já estava lá fora, a postos. Agora bastava fazer um pouco de teatro e apanharem o comboio. E, consolado, Amásio brincou com os dois bilhetes que tinha no bolso das calças. 

terça-feira, 16 de abril de 2013

a escrita e a imagem I

 Hoje quero mostrar-vos que uma simples imagem pode servir de estímulo à escrita. Paralelamente, estou a fazer uma nova experiência: irei exemplificar como a mesma imagem pode originar contos absolutamente distintos. Amanhã escrevei outro, com a mesma imagem...
© Rodney Smith

Mano a mano

- Estás aí, mano?
- Não…
- Ora, se me respondeste, estás!
- És muito esperto, mano.
O mais velho (por dez minutos apenas, diga-se de passagem), era um brincalhão e fazia sempre aquilo, deixar o irmão mais novo, cego de nascença e frágil nas emoções, sem saber se  gozava com ele ou o elogiava.
- Mas... o que fazes tu aí em cima, afinal?
- É que o artigo que escreveste esta semana provocou a ira do povo. Se fosse a ti, escondia-me. 
O mais novo tinha uma maneira muito especial de ver o mundo, de analisar pessoas e assuntos, e ganhava a vida publicando crónicas no jornal da pequena cidade, além de trabalhar como ghost-writer escrevendo tímidas biografias, homenagens e discursos de cariz político. Na crónica ele deixava escrito o que pensava realmente.
- Escondo-me? Então e tu? Irão passar por aqui, ver-te e julgar que tu...
- Deixa, posso bem com eles. É só fechar os olhos, que os engano bem, tu sabes. Eles vêm cegos de raiva, nem se lembrarão que tens um irmão gémeo que vê. Afinal, durante quanto tempo lhes permitirá a consciência pontapear um cego?
- Não tens de fazer isso por mim, mano...
- Eu sei, mas há dias safaste-me tu. Estou a dever-te este favorzinho. Vai, vai antes que eles passem por aqui. Já vejo as candeias lá ao fundo!
Resignado e muito grato, o mais novo lá foi esconder-se na cave secreta da casa onde moravam ambos. E enquanto atravessava o bosque e o nevoeiro que apenas sentia no rosto, assaltou-o outra dúvida: será que o brincalhão do seu mano, ao transcrever-lhe os textos em braille, não resistia a fazer-lhes algumas alterações? Francamente, não se recordava de ter escrito nada de ofensivo a ponto de provocar violência física.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Leonardo da Vinci

Para celebrar o aniversário de leonardo da Vinci, aqui vos deixo um documentário de 10 minutos, rápido e lúdico, acerca do seu tempo, do homem e do mistério que o envolveu. parabéns, grande da Vinci.

domingo, 14 de abril de 2013

Do deserto, a flor

É um consolo quando nasce algo de bom da sinceridade absoluta. Sem artimanhas nem artifícios. Quando uma pessoa estranha nos presenteia com uma reacção absolutamente inesperada - não só manifestando total compreensão para com os motivos da nossa angústia - como se dispondo a oferecer a sua amizade e admiração. É nesses momentos que tornamos a acreditar na raça humana. Ainda há gente bem formada, boas almas que vale a pena descobrir. Do frio constrangimento pode nascer o calor. Da desilusão, a empatia. Da culpa, a paz.
Mesmo em coisas pequeninas que se revelam semente, como a erva nascendo entre as pedras ou a flor no deserto.
Obrigada, Ana. Um abraço até ao Norte.
Foto que tirei aqui perto de casa, nas minhas caminhadas.

sábado, 13 de abril de 2013

Vinicius Vinho e Vícios

Hoje é dia de dar música. Vou estar aqui com o Nanã Sousa Dias (saxofones e flauta) e o Alexandre Diniz (piano). É no Turcifal, perto de Torres Vedras: VINICIUS VINHO E VÍCIOS.
A casa voltou a abrir e ainda bem. É um cantinho maravilhoso. Iremos inaugurar as Noites de Jazz. Bom fim de semana, sim? E se quiserem aparecer, serão muito bem vindos.



sexta-feira, 12 de abril de 2013

Microficções


O mundo de Lumy

Habitava um mundo ideal, uma espécie de éden que só ele via. Aqueles que entrevistava sentiam-se tocados por uma luz que não mais se apagava. O fenómeno soube-se, criou raízes. Já vinham em grupos, na ânsia de obter salvação. Ao celebrar dez anos de carreira, Lumy inaugurou a Cidade da Luz, onde moravam todos os entrevistados. Dizia-se que era lá, o Paraíso.


(desafio de escrita de microficções: O jornalista cego, 300 caracteres)

quinta-feira, 11 de abril de 2013

São dias

Hoje estou a fazer batota, a escrever isto apenas para dizer que escrevi todos os dias. Façam de conta que aqui fiz a sugestão de um bom filme, que copiei um poema, que falei de um dos meus livros preferidos ou que vos confessei as minhas angústias que vão sendo mais ou menos as mesmas nos últimos anos até porque, na verdade, nada muda assim tanto. E de treta em treta lá vou fazendo de conta que tenho algo a dizer, como se fizesse diferença. Há alturas em que mais valia ficarmos calados, não acham? Hoje sinto a minha vida assim, uma espécie de spam digno de eliminar em definitivo, que aparece insistentemente, como um vírus. mas deixem estar, são dias.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Carlos Ruiz Zafón


Why I Write

Authors are often asked why they do what they do. Often by themselves, as they sit wondering why they didn't become corporate lawyers or dentists or arms dealers. Why do we choose this strange profession that would rank right below the vocational do-gooder in a list of the least-likely-to-bring-success occupations in the world? I can't speak for my colleagues, but as far as I am concerned, I write because I really have no other choice. This is what I do. This is what I am. 

I am in the business of storytelling. I always have been, always will be. It is what I've been doing since I was a kid. Telling stories, making up tales, bringing life to characters, devising plots, visualizing scenes and staging sequences of events, images, words and sounds that tell a story. All in exchange for a penny, a smile or a tear, and a little of your time and attention. 

I write for a living. I¥ve been writing and making stuff up to make ends meet since I left school. It is my way of surviving, of earning a living and of navigating this world. It is my way of bringing something to the table, contributing what I believe is the best thing I have to offer for others to enjoy. 

I have written for young readers, for the movies, for so-called adults; but mostly for people who like to read and to plunge into a good story. I do not write for myself, but for other people. Real people. For you. I believe it was Umberto Eco who said that writers who say they write for themselves and do not care about having an audience are full of shit, and that the only thing you write for yourself is your grocery shopping list. I couldn't agree more. 

As I said, I am in the business of storytelling. This is an art, a craft and a business, and I thank the Gods of Literature for that. I believe that when you pick up something I've written and pay for it, both in terms of your money and something much more valuable, your time, you are entitled to get the best I can produce. I believe this is not a hobby, it is a profession. If you're pretentious enough to believe that what you write might be worth other people's time (as I am), you should work hard enough to earn that privilege (as I do). Which brings me back to the question of why I write. Sometimes people ask me what piece of advice I would give to an aspiring author. I'd tell them that you should only become a writer if the possibility of not becoming one would kill you. Otherwise, you'd be better off doing something else. I became a writer, a teller of tales, because otherwise I would have died, or worse. 

I am happy I survived, and I am happy we met along the way. I plan to keep on doing this until they shoot me down. I hope you have enjoyed the things I've made up for you. If you didn¥t, give me another chance. I'm always working on something new, and hopefully better. What can I do? Make-believe is my business.

domingo, 7 de abril de 2013

Os Amantes

René Magritte, Os Amantes, 1928

A lua acaricia a pele dos amantes. No quarto, o silêncio. Apenas os olhos brilham na penumbra, reflectindo a inutilidade dos sons. Para mais, as bocas estão seladas com desejo.

(a partir dum desafio de escrita de microficções, "O casal sem tema de conversa", 150 caracteres)

sábado, 6 de abril de 2013

Zafón

Desde os livros de Enid Blytton, da minha infância, que não sentia esta paixão por ler o mesmo livro várias vezes. Aguardo a oportunidade de devorar o terceiro volume da tetralogia de Zafón, iniciada com "A Sombra do Vento", que já conta com diversos prémios literários. A escrita deste autor enche-me por completo as medidas. Assim que termino a última página, apetece-me voltar ao início. É a terceira vez que leio este livro de seiscentas e tal páginas. Sei que irei ler mais uma vez "O Jogo do Anjo", o segundo volume, e espero que, entretanto, uma boa alma se lembre de me oferecer o terceiro, que ainda não li. Senão, vou à livraria e compro. 
Ou roubo. 
Já avisei. 
Não consigo libertar-me das suas personagens, da sua história plena de mistérios e suspense, da sua escrita. E é a mais irresistível das prisões. Estou absolutamente viciada. Se o homem me aparecesse à frente, por mais insignificante que pareça a sua figura avaliando pelas fotografias de promoção, não poderia deixar de segurar-lhe nas mãos, como uma reles stalker, e dizer-lhe, Obrigada, obrigada  por estes livros, obrigada por escrever assim! É a minha Santíssima Trindade: Ella Fitzgeral (voz), Chico Buarque (compositor) e Carlos Ruiz Zafón (escritor).

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Nanã Sousa Dias

A casa cheia de amigos, familiares e estranhos, que os vieram ouvir. Foi muito bom. O ambiente também. Antes de começarem a tocar, fez-se um silêncio tal que alguém comentou: "Eh pá, parece uma casa de fados!". E assim é que é bonito. Houve riso, boa disposição, sim, mas na balada "In a Sentimental Mood" não se ouvia uma única voz senão a do tenor, com o seu timbre macio e uma expressão de ternura. No tema "Cameleon" alguém disse, Olha, eu tenho este sampler! Era um DJ que falava, daqueles que tem profissão certa e que ao fim de semana costuma "tocar" :)
Gostei de ver o  meu filho chegar com amigos, de comboio. Arranjei-lhes mesa mesmo junto ao quarteto, com lugares VIP. Neste clube não se posicionam as cadeiras de costas para o palco: a música é o que mais importa, e desse modo desencoraja-se a conversa. Não é, decerto, pelo cachet que aqui vêm ganhar que os músicos aceitam o convite, mas que se sentem bem aqui, sem dúvida. O piano de cauda ajuda...o clube ainda anda a pagá-lo. É um espírito especial que se sente ali. Sobretudo com a presença do António e do Manel, empregados muito pouco convencionais. A agenda está preenchida até Junho e há nove bandas à espera. Há fenómenos assim.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

in vino veritas

A mulher pousou o copo e desabafou:
- Começo a dar-me conta de que não vale a pena passarmos o tempo a lutar contra a vida que temos. 
- Só agora é que descobriste?
- Então, não andam sempre a dizer que devemos fazer isto e aquilo, conseguir este mundo e o outro?
A amiga ficou calada porque, na verdade, era dessas, das que diziam que devíamos conseguir este mundo e o outro. A outra explicou:
- É como viver frustrado por ser de alta ou baixa estatura: não podemos caminhar de pernas dobradas ou tornar desconfortáveis os nossos passos, só por causa das convenções. 
- Eu gosto de andar de saltos altos.
A primeira concluiu que ninguém a compreendia, nem sequer aquela sua amiga.
- Não estás a perceber, há vidas que se colam a nós de tal forma, que o melhor é abrir de vez a porta e dizer-lhes, Vá, entrem lá e sentem-te. E uma vez cá dentro, até pode ser que nos surpreendam...
A amiga disse, Pois é, sem convicção, e mandou vir nova garrafa.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Oferenda do dia

Camembert com mel e pimenta rosa
Uma excelente entrada, leve e deliciosa, para antecipar um prato de peixe. O mel e a pimenta rosa criam uma explosão de sabores na boca, com a cremosidade do camambert a ditar as regras!
Ingredientes:

1 queijo camembert
Mel q.b.
Pimenta-rosa q.b.

Preparação:

Regue o camembert à vontade com mel derretido. Salpique com pimenta-rosa e leve ao forno, pré-aquecido a 180 graus por aproximadamente dez minutos, ou até que o camembert amoleça. Faça um corte em cruz na superfície do camembert: isto vai fazer com que os sabores entrem de forma mais fácil.
Obrigada, Soraia :)

terça-feira, 2 de abril de 2013

Desafio 52,5


Cap.1
À semelhança de um prato que se vai compondo com os diferentes ingredientes, eles vão chegando à mesa, redonda. Pimenta Rosa; Bife; momentos depois, as restantes Pimentas. São servidas Batatas Fritas para controlar o apetite por conversas mais ousadas. Quem os observa, inveja a combinação perfeita, conseguida após uma longa amizade. Nem imaginam...
Cap. 2
É uma amizade à primeira vista, que nessa noite se torna corpórea. Vão-se contando, conto a conto, letra a letra. As conversas atropelam-se. Os olhares cruzam-se. O ruído da sala é cruel e mastiga-lhes o raciocínio, engolindo frases inteiras que se perdem no caminho. Ali não há truques nem rede de salvação. Têm algumas horas para mostrar que são reais.
Cap. 3
Inusitada e perfeita é a conjugação dos sabores naquele repasto! A terna crueza do bife com um pouco de sangue, ainda mais amaciada pela mamaliga servida por cima; o molho beurre-blanc de limão que serve de base à inesperada doçura da pimenta-rosa; as bizarras pimentas verde e preta, de essência idêntica mas diferentes ao paladar.
Cap. 4
Um prato bem condimentado saboreia-se devagar, mas a avidez altera as regras. Os ingredientes movem-se, trocam de posição — é inevitável que se toquem e se impregnem uns dos outros para se apurarem. Quando a refeição parece esgotada, a sobremesa e o café transfiguram-se em aperitivos. Uma iguaria que se devora a si própria só se alimenta do desejo de mais.
(texto escrito a oito mãos, limite de 300 caracteres)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Livrarias

No Blogue "A Devida Comédia", do jornalista MIGUEL CARVALHO, saiu um texto maravilhoso que me fez pensar. Leiam-no, que vale a pena. O Miguel escreve maravilhosamente, e o que diz é uma pedrada no charco (expressão que talvez me tenha ocorrido por andar a ler Urbano Tavares Rodrigues). Cliquem em "Miguel Carvalho", acima, e façam uma viagem, pelos seus olhos, através de algumas das nossas melhores livrarias e não só. Questionem-se: o que é, afinal, uma livraria "bonita"?