quinta-feira, 4 de abril de 2013

in vino veritas

A mulher pousou o copo e desabafou:
- Começo a dar-me conta de que não vale a pena passarmos o tempo a lutar contra a vida que temos. 
- Só agora é que descobriste?
- Então, não andam sempre a dizer que devemos fazer isto e aquilo, conseguir este mundo e o outro?
A amiga ficou calada porque, na verdade, era dessas, das que diziam que devíamos conseguir este mundo e o outro. A outra explicou:
- É como viver frustrado por ser de alta ou baixa estatura: não podemos caminhar de pernas dobradas ou tornar desconfortáveis os nossos passos, só por causa das convenções. 
- Eu gosto de andar de saltos altos.
A primeira concluiu que ninguém a compreendia, nem sequer aquela sua amiga.
- Não estás a perceber, há vidas que se colam a nós de tal forma, que o melhor é abrir de vez a porta e dizer-lhes, Vá, entrem lá e sentem-te. E uma vez cá dentro, até pode ser que nos surpreendam...
A amiga disse, Pois é, sem convicção, e mandou vir nova garrafa.

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