...e aqui está a imagem de Rodney Smith mais uma vez, em jeito de despedida, com um conto de outro amigo que aceitou o desafio de escrever a partir do que os olhos vêem.
© Rodney Smith |
Olhou para o alto da velha
árvore descarnada que se erguia gigantesca contra um céu cinzento, e viu-se a
si mesmo a olhar para baixo na sua direcção. Ficou perturbado e perplexo, o
homem que o olhava de cima era um perfeito reflexo de si próprio, quer nas suas
características físicas quer no seu vestuário. Até o ridículo chapéu alto que
ostentava era o mesmo. E o homem sentado na árvore parecia também espelhar a
mesma perturbação e perplexidade que ele sentia. Será que estava a pensar o
mesmo que ele? Dirigiu-lhe a palavra, quebrando o silêncio, “Olá, como está?”,
e a frase soou ao mesmo tempo na boca do homem sentado no alto da árvore. E de
novo as mesmas emoções se espelharam no rosto de ambos. Rodeou o enorme tronco,
procurando forma de subir a árvore e, quando a julgou ter encontrado,
elevou-se, não sem dificuldade, até ao lugar onde o outro homem se encontrava.
Para sua surpresa não estava ali ninguém. Sentou-se, olhou para baixo, e viu-se
a si mesmo a olhar para cima na sua direcção, como num labiríntico desenho
de Escher.
(Luis
Nogueira, Faro)
Sugiro uma espreitadela ao blogue ESTRADA DE SANTIAGO, de José Eduardo Lopes, que também aceitou o desafio. É muito curioso ver como a mesma imagem pode despertar histórias tão diferentes... Agradeço a todos os que participaram!
Sem comentários:
Enviar um comentário