quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Dia das Bruxas

Como tenho a desculpa de achar muito mais graça ao Dia das Bruxas do que ao Carnaval, aqui deixo, em jeito de celebração, um toque de Tim Burton: "The Worst Pies in London", do filme SWEENEY TODD (2007), interpretado por Helena Bonham Carter, mulher do realizador, e uma das suas actrizes preferidas, tal como o actor Jonny Depp.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Eugénio de Andrade

Versos tão actuais...
Óleo sobre tela (35x25) de Ana Paula Lopes
Urgentemente

«É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.»
(Eugénio De Andrade)



A Assírio & Alvim vai publicar a obra completa do autor e acaba de lançar os dois primeiros volumes. É uma boa notícia, uma homenagem mais que merecida a este autor semi-esquecido e que em boa hora vê de novo a luz do dia. Para mais, espreitem o excelente blog da Maria do Rosário Pedreira: 

PEN Clube

Não há dúvida de que, quando um autor confessa e partilha o tempo e os lugares que percorreu, a escrita sai sincera, logo, Verdadeira. Rita Ferro publicou, em 2011, o romance autobiográfico A Menina É Filha de Quem? O PEN Clube Narrativa acaba de lhe ser atribuído e eu, como admiradora e amiga da Rita, aqui deixo o meu orgulho! :)
Para mais informações sobre a atribuição deste e doutros prémios  PEN Clube acabados de sair do forno, leiam o artigo no JORNAL "PÚBLICO"

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

À mesa


O futuro, à mesa

Quero a minha casa 
Cheia de escritores, filósofos, pintores
Artistas, poetas, escultores
Gente louca que perfume o ar
Com o incenso insensato do seu riso
Com o espírito indomável do pensamento invulgar

Quero a minha mesa enfeitada com arte
Gente que chega e que parte, a toalha manchada
Das nódoas de vinho de Beaudelaires e Kafkas
De Pessoas e Rodins que me animem as manhãs
Todos os heterónimos das letras contemporâneas
Bocas cheias de musas, parras, cachos de uva
Espremendo o pensamento que jamais se clarifica
Antes se atropela e despedaça
Se incompleta e eterniza
Aguçando a ponta dos galhardetes
Hidratos na curva macia de um prato de massa

Quero o peito trespassado de abraços
A inteligência risonha de gente insana
Que não esqueço, que agarro e adormeço
Quando o dia rompe como um laço
De mortos sempre vivos em livros e telas e bustos
Em fotografias
A travessa transbordando, matando a fome à sede
Alimentando com loucura as ideias, puras
Iguarias.

Quero as janelas abertas ao sentir
De todos os grandes artesãos
Fazendo da casa a oficina dos seus poemas
Da paisagem os ouvidos, confessionários das mais artísticas mãos
Gargantas desesperadas de amores, paixões e outras dores
Que ao arvoredo incendiado
Deito em chamas nas manhãs de verão

Quero o prazer das estações reunido à minha mesa
Os tesouros de todas as idades
Os diálogos impossíveis de Alice
As narrativas barrocas dos inventores
Que da minha vida se faça arte, um embrião de personagens
E que a aragem das noites impeça
Que me lance na solidão das minhas memorias
Para que também eu, mesmo que pequena,
Tenha história.
(VERA DE VILHENA, inédito, Outubro 2012)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Graça Pires

"Aguardamos uma luz de seiva 
que reacenda a treva que nos cega.
Uma luz que não fira a brancura dos muros
nem as sombras dos alpendres
onde plantámos as giestas bravas.
Uma luz que devolva à terra
a farta lembrança das nascentes.
Uma luz para ficar como herança
quando as aves da morte se afastarem
para sempre deste caos
que, assustadoramente, nos acusa."

GRAÇA PIRES, in 
Uma vara de medir o sol, 2012

O blog da autora aqui, em Ortografia do Olhar, com muitos dos seus tesouros: versos, infinitos versos, sempre acompanhados por boas imagens. Lançamento de "Poemas Escolhidos" este sábado, no Porto (ver convite no blog). Sinto-me sempre grata pela descoberta de novos autores que me decifram a alma. Obrigada, Virgínia!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Manuel António Pina

Adeus senhor escritor, grande poeta. Gostava de gatos. Talvez possamos dizer que os cães são mais associáveis à prosa e os gatos à poesia. Concordam? o Manuel António era, sem dúvida, um poeta, um livre pensador, nunca submisso, nunca domesticado. Um pensador vadio. Uma perda imensa em tantos livros que ficaram por escrever, com esta partida tão prematura. Que pena não podermos domesticar a morte. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

M & m

Querida M.

Não tenho jeito para falar da morte, por isso prefiro deixar, sobre o luto deste fundo negro, uma imagem feliz das duas M's:

Meluxa 
e
Maria (Mia)

Vamos pensar nos momentos assim, de alegria, nos dias perfeitos que iluminavam os olhos, como nesta fotografia. Tão bonitas, as duas. A Maria continua connosco e nós tomaremos conta dela, pode ser? 
Fica bem, minha querida "cunhadinha melga", aonde quer que estejas. Estou certa de que será sempre um lugar mais belo, só porque lá te encontras.

Com saudade e um peito vazio de palavras

Verocas.

domingo, 14 de outubro de 2012

Decisão difícil

Tenho o coração partido. Às vezes temos de tomar decisões que fazem doer. Tentámos, TENTEI, mas não está a resultar. O Suki precisa de outros donos, não seremos nós, que temos um serra da estrela por natureza bastante territorial, um portão por onde o Suki consegue escapar-se (é gafanhoto, canguru), para vir atrás de nós, enfim, a experiência tornou-se impossível. Foram 10 dias de convívio, com boas recordações e agora temos de nos despedir...
AOS INTERESSADOS: veravilh@gmail.com

sábado, 13 de outubro de 2012

Ainda


Escrevo para saber que ainda escrevo. Para me saber viva. Para deixar a vontade correr, escorrendo ideias etílicas, e ter o consolo de me saber ainda perdida. Nem tudo está perdido nesta minha perdição. O desespero ainda é o que dele se espera. O longo suspiro ainda é o que precede o choro, que ainda consegue ver, na imagem desfocada em água e sal, a ideia que ficou espezinhada. Ainda sou o meu próprio grito.
imagem: "O Grito",Edvard MUNCH, 1893.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

C

onfesso que uma certa letra, um dito caractere, era um símbolo de grande personalidade. Tudo o que o caracterizava andava intermitente, diluído em "c's" invisíveis, num estatuto duvidoso que o Acordo ortográfico ameaçava confusamente. Flutuando diáfano, de alma em alma, de palavra em palavra, de corpo leve apesar de caracteristicamente pesado, já não sabia onde se arrumar. Um sentimento de mal-querença, desajuste, dis-se-ia, até, injustiça. O C andava hesitante, cabisbaixo, sem mesmo ter a certeza da sua razão de existir. A antiguidade do corpo já não importava. Era, fatalmente, um caractere exilado, extinto, sem carácter.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Nobel da Literatura

"Não falhes", é o significado do pseudónimo de Guan Moye, vencedor do Prémio Nobel da Literatura 2012. MO YAN não falhou. Já havia sido por diversas vezes nomeado e desta vez, aconteceu. "Peito Grande Ancas Largas" foi proibido na China pelo cariz sexual da obra. O autor fica bem vingado com esta vitória, para mais, tendo sido obrigado a fazer uma auto-crítica pública da obra e a retirá-la depois de circulação no seu próprio país. É o único livro do escritor publicado em Portugal, pela editora Ulisseia. Agora venderá que nem pão quente, pelo mundo inteiro, sob a bênção da Academia sueca que acerca do escritor, disse:
"cujo realismo alucinatório funde contos tradicionais, História e contemporaneidade".
Para mais informações, leia AQUI

Para já, a única obra traduzida por cá:


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Prémio Hans Christian Andersen

A autora chilena Isabel Allende venceu o Prémio Hans Christian Andersen 2012 pela "capacidade narrativa mágica e fascinante". Este prémio, atribuído em coroas dinamarquesas no valor de 67 mil euros, é entregue ao autor cuja obra seja comparável à do célebre escritor escandinavo. Para mais informações, leia a notícia no Washington Post.


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Suki

Temos um hóspede preto, de quatro patas, a passar uns dias cá em casa. Amanhã talvez venha aqui deixar umas imagens dele. Ainda não tive coragem de lhe tirar uma única fotografia, talvez por recear o agoiro de lhe prender a alma e esta história ter um final infeliz, como tem acontecido. Chamamo-lo Suki e ele já dá pelo nome. Suki, porque me lembra muito o cão que tive na minha infância. Este tem uns olhos castanhos brilhantes que transbordam ternura. Foi abandonado ou fugiu, não sabemos. Tentámos ficar com ele, mas o serra da estrela não concordou e a coisa tem funcionado na base do regime de terror...para o Suki, é evidente. Neste momento dorme ao meu lado, deitado no soalho, junto à janela, descontraído e feliz, sem saber que esta casa não poderá ser a sua. É talvez um Schnauzer, ainda novo (avaliando pelos dentes branquinhos, com a flor de Lotus ainda por desbastar). Deve ter uns 2 ou 3 anos. O serra da estrela tem ficado lá fora (hoje à chuva, bem feito, para não ter mau feitio). Mas a coabitação pacífica é impossível e o esquema separatista não é solução para nenhum de nós. A cadela Bolota entendeu-se muito bem com ele, mas o Gastão, de 50 quilos é, decididamente, o que tem a última palavra.
E agora? Estamos todos assim, sem dono...

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Luís Sepúlveda

Muitos parabéns a este senhor que completa hoje 63 anos :)

Imagem publicada ontem, no facebook: :)
Comentário do autor: 
"En tiempos de crisis se comparte todo. El gato Esteban comparte conmigo un delicioso yogurt griego." :)

Um dos meus muitos livros favoritos 


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Coração


‎- Bom dia. Tem coração?
-Tenho, sim senhora. Que modelo deseja?
- Um que seja impermeável a tempestades.
- Bom, o tecido deste aqui é resistente,  quero dizer, com


uma tempestade maiorzinha é capaz de rasgar...mas olhe que mais forte do que isto não encontra.

- Então dê-me um desses. Mais vale prevenir, que remendar.
Roubei a imagem AQUI


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

núcleo

O seu coração era o epicentro de uma tempestade. A discussão dos dois foi o núcleo de uma espiral desenfreada. Os estragos? Imensos. No fim, restaram os escombros de uma gota de água suja.
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