quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Vícios

Dois dias sem café em casa e sem ter forma de sair foi como atravessar o deserto. Pela primeira vez na minha vida compreendi o que é o vício do corpo. Não conseguia pensar, agir ou reagir. Não conseguia concentrar-me em coisa alguma. Só desejei adormecer, dormir e acordar dentro de uma chávena transbordante de café escuro e espumoso, beber-lhe o sabor e o aroma e... renascer.
O meu marido regressou ontem no nosso Smart, quase às sete da tarde e, a meu pedido passou directo no supermercado, pondo assim um fim ao meu isolamento e desespero. Retirei (arranquei é o termo mais correcto) do saco o frasco de Nescafé Gold e bebi o líquido quente como se fosse o elixir da juventude. Foi com um sorriso de consolo infantil que hoje, depois do pequeno-almoço, preparei um café duplo, apaziguada por ver, na bancada da cozinha, a promessa de muitas chávenas de café. 
Nesses dois dias terríveis neguei a mim mesma o consolo de um expresso comprado ao balcão, a quatro quilómetros de caminho...a pé. Julgando que, nessa recusa, me convenceria da inexistência do meu vício, dizendo a mim mesma, Não, não te vais fazer à estrada de propósito, à chuva ainda por cima, só para ir beber café, não podes estar viciada a esse ponto, aguenta. Porém, o alívio que experimentei ao sentir a cafeína circular-me no sangue foi uma espécie de felicidade, de êxtase ilusório que só um vício nos pode trazer. 
Lição: ter vícios é muito feio? 
Não.    
Nunca mais ficar sem café em casa.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Hoje sinto que não tenho nada. estou vazia, nem chorar consigo, chorar por quê? para quê? para quem?
Vou afundar-me em mim mesma se este dia não acaba.
amanhã
só quero acordar e que o sol dê a volta e me devolva à superfície

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Bennett & Legend

Hoje o meu filho deu-me a conhecer esta pérola musical. Não é maravilhoso? Foi feito para celebrar o 80º aniversário do sr. Tony Bennett. Enjoy.

sábado, 18 de agosto de 2012

Blimunda

A revista Blimunda de agosto já está no site www.josesaramago.org e pode ser descarregada. A edição é dedicada ao centenário do escritor brasileiro Jorge Amado, que ocorreu no dia 10 de agosto, com textos de Luis Schwarcz, Carlos Reis, Lilia Schwarcz, Pilar del Río e José Saramago. Também na literatura destinada aos mais novos surge o escritor baiano, com uma análise sobre a receção da obra "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá" nas escolas portuguesas. A morte dos pais na literatura juvenil é outro tema tratado nesta revista, e na secção Saramaguiana encontra "O cão, personagem dos romances de José Saramago".
(informação retirada do mural da Fundação Saramago, no facebook)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Shine

"Shine" é um filme maravilhoso, de 1996, que só há dias descobri. Baseado na história do pianista David Elfgott, de cuja existência eu não fazia ideia. Geoffrey Rush faz um papel extraordinário. Uma história comovente, a não perder.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Luz

No quarto, o homem ainda dormia. Na sala, era impossível: os cães não a deixariam ler, irrequietos, sedentos de brincadeira e de atenções; se se deitasse ali, no sofá, e encostasse as portadas para que eles, de olhos implorantes em expectativa, não a fixassem do lado de fora, não teria luz suficiente para ler. Subiu ao quarto de hóspedes e tornou a ser menina. Só o texto importava. O corpo sentado e correcto não era suficiente. Então fez o que há muito não fazia, estendeu-se atravessada na cama, sobre o lençol fresco de linho branco. Encostado às almofadas, o livro quase na vertical. Uma almofada debaixo da barriga, para atenuar a curva das costas e não fazer doer. Já não tinha corpo de menina. Ele agora queixava-se com pouco, era caprichoso. Leu até que, intercalando as páginas, a consciência a foi lembrando do que tinha de fazer. Era tarde. Para quê? Para as coisas que tinha de fazer. Coisas marcadas pela consciência. A leitura insistia prosseguindo, feita de um agradável egoísmo. Devorava as linhas, uma por uma, agradecida ao autor que lhe reacendia a vontade de escrever. Também queria contar as suas histórias assim, com regras próprias, livre. Então era possível, escrever assim. Só parou quando foi obrigada pelo corpo. Os olhos secos, o antebraço dormente de ela estar há tanto tempo apoiada nos cotovelos, ofendido de suportar o peso do tronco, quando o corpo já se recusava a reposicionar-se mais uma vez. Quando o corpo desistiu.  Estava pronta a desistir das coisas que tinha para fazer. As coisas marcadas. Foi o corpo que a despertou daquele transe. Que a resgatou de uma alegoria passada num país incerto, onde o belo se misturava com a escuridão. Uma escuridão que a fascinava. Algures, enquanto lia, virou uma página e deu com o pequeno carimbo da biblioteca. E lembrou-se do blog de José Fanha, minhas queridas bibliotecas e pensou, tem razão, minhas queridas bibliotecas. A gratidão não chega.
Então ergueu-se da cama, estendeu a coluna vertebral, rodou os ombros e deixou o livro sobre os lençóis. Abriu a porta do escritório que ficava ao lado do quarto de hóspedes, e sentou-se a escrever. Escolheu algumas canções de Enya para lhe fazerem companhia enquanto picava o teclado com os dedos. Escreveu sem se preocupar com a correcção das frases, a simplicidade talvez excessiva das palavras, sem se ralar com as repetições. Repetir também valia. Escrever sem pensar muito, sem tornar cerebral o que queria dizer, sem domesticar o efeito mágico daquela leitura. Esfomeada de espanto, por causa daquela luz inesperada, pensou ainda, antes de pousar o livro sobre os lençóis, quando acabar este, vou lá buscar o morreste-me.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Patrícia Reis



Não tem paciência para essas «merdas» da supermulher multidisciplinar.  Usa Nuno Júdice para demonstrar que homens e mulheres podem ser pais, escritores, diretores de revistas e giros (acrescentamos nós). Acha as estrelinhas da crítica injustas e que um primeiro livro pode ser maravilhoso como um filho, ainda que nasça frágil e com cara de joelho. Se quiserem boas ideias, falem com Patrícia Reis. Os orçamentos, ao contrário dos almoços, são grátis.

As críticas que possam ser feitas aos seus livros ainda a preocupam? Qual o papel que acha que a crítica literária ocupa nos dias de hoje?
As críticas nunca me preocuparam. Não é para levar palmadinhas nas costas dos críticos que escrevo. Escrevo por necessidade. Se a crítica gostar, melhor. O papel do crítico é, nos dias que correm, uma orientação para algum público face ao excesso de oferta. No entanto, saliento que o facto de um livro ser lido apenas por um crítico num determinado órgão de comunicação social, atribuindo estrelas de qualidade, é um processo que considero injusto e altamente subjetivo. O livro pode cair nas mãos de um crítico que, de forma óbvia, nunca encontrará qualquer prazer no texto proposto. Injusto? Acontece.

Egoísta é uma espécie de epifenómeno do panorama editorial português, pela qualidade da forma e do conteúdo. Qual o segredo para, ao fim de todo este tempo, continuar com o dinamismo que vemos?
O segredo é, como todos, segredo, logo ficará comigo. O que posso dizer é que, felizmente, temos um proprietário, a Estoril Sol, que nos acolhe com entusiasmo e participa nesta aventura, ao mesmo tempo que promove três prémios literários por ano: Fernando Namora, Agustina Bessa-Luís, Grande Prémio das Correntes d’Escritas. Se considerarmos este aspeto de apoio à cultura e ao incentivo à Literatura especialmente, é fácil de perceber que é um privilégio. Nada seria possível, ao fim de 11 anos de edições, sem a excelente equipa do atelier 004, que, desde o início, assegura as questões editoriais, escolha de artistas, de autores, design e paginação.

Qual a estratégia para ser empresária, mãe, escritora, editora de uma revista, blogger, entre outros?
A estratégia está em saber desligar quando é preciso, ter uma organização muito pragmática, não entrar em pânico e levar o cão à rua. Vocês também perguntarão aos escritores homens como é que se organizam a partir das «potenciais desventuras ou pesos» da paternidade? Nesse caso: uso a mesma estratégia que Nuno Júdice, por exemplo, usa para ser professor universitário, pai, avô, escritor, diretor de uma revista e ensaísta.

Se um dia criar uma editora, que tipo de livros vai querer publicar?
Se um dia criar uma editora será a maior surpresa de todas, por isso vamos deixar isso para tempos de vacas mais gordas, pode ser?

Quais as maiores dificuldades que um autor sente para publicar um primeiro livro?
Um principiante precisa de ter uma história, de a escrever de forma eficaz, de conseguir chegar a uma editora e de cativar um editor que se disponha a investir num desconhecido. Um autor é um investimento a longo prazo. Um primeiro livro é sempre uma espécie de filho que nasce antes do tempo, com algumas maleitas, com algumas fragilidades, mas pode ser maravilhoso como é próprio dos filhos.

O que podemos encontrar em Por Este Mundo Acima que ainda não vimos nos outros?
Deixei a pele neste livro. Foram quase quatro anos a escrever e a reescrever. Cortei muitas páginas, sempre a pensar na ideia do «osso do texto» de que falava o José Cardoso Pires. Não foi um processo fácil. O que se encontra neste livro é, porventura, uma evolução, outra maturidade. No entanto, tenho de reconhecer que todos os livros que escrevo são sobre o Bem e o Mal e sobre pessoas. O resto não me interessa.

A música parece muito presente no seu quotidiano. Qual a importância dela no seu processo criativo?
Não vivo sem música. Faço tudo ao som de qualquer coisa e não tenho preconceitos: gosto de fado, de rock, de lounge, de pop, de música clássica, de ópera... Para escrever há um disco que é quase uma fatalidade: A melody at night with you de Keith Jarrett.

Alguém se faz escritor num curso de escrita criativa?
Ninguém. O que as pessoas podem assimilar numa oficina de escrita é a capacidade maior ou menor para contar histórias, para usar a linguagem de forma diferenciada. Ao mesmo tempo, uma oficina de escrita pode ser uma excelente forma de partilhar textos, e a mais-valia está nessa partilha. Um escritor não se fabrica. Não se junta água e agita e PUM: eis um escritor. Da mesma forma que não há grandes romancistas com 20 anos. A maioria dos romancistas de que gosto têm todos mais de 50 anos ou andam por aí. É preciso ter uma vida para se ser escritor. Ao mesmo tempo, tenho quase a certeza de que não podemos decidir ser escritores: ou somos ou não somos, mesmo que não cheguemos a publicar no mercado tradicional.

Como é que um escritor vive o papel de jurado num prémio literário como o das Correntes D’Escritas?
Com angústia, com dificuldade e, ao fim de tantos anos, com algum à-vontade. É sempre difícil decidir, geralmente o número de candidatos é grande, e, felizmente, temos literatura e poesia muito boa. A escolha é o mais complexo, mas acabamos sempre por chegar a um entendimento que parte das premissas do regulamento do prémio.

Que palavra já não consegue ouvir?
Crise.

Qual o seu maior ódio de estimação?
Não tenho ódios, tenho mais que fazer do que perder o meu tempo com merdas. Aliás, acho que vamos todos morrer, não é? Não sabendo quando, optei por gastar as minhas energias apenas nas pessoas e nas coisas de que gosto. Egoísta? Como queiram. Depois dos 40 anos já não preciso da aprovação de ninguém, e odiar deve ser uma trabalheira enorme.

Se pudesse fazer uma pergunta ao secretário de Estado da Cultura, qual seria?
Felizmente posso fazer as perguntas que entender. Tenho uma boa relação com o Francisco José Viegas há muito tempo e quando penso nele, confesso, nem me lembro que «está» SEC.

O novo Acordo Ortográfico é um erro? Porquê?
Não é um bom acordo, gastou-se uma fortuna, as ideias iniciais não podem ser cumpridas. Uniformizar não faz qualquer sentido. Por outro lado, a ideia de que os manuais escolares farão com que as novas gerações partilhem de um património comum tem graça, mas um menino brasileiro nunca utilizará o idioma, do ponto de vista gramatical, da mesma forma que um angolano, moçambicano ou português. É bom saber que o português possui geografias distintas e é, por isso, mais rico.

Dê-nos uma boa ideia para o setor editorial português.
Então? Eu tenho uma empresa no mercado, se tiver uma ou mais ideias vou vendê-las, não acham? Faz parte do meu valor de mercado☺.

Que pergunta não fizemos e deveríamos ter feito?
Porque é que um texto deve ser lido em voz alta? A resposta é simples: ajuda a editar e a apurar as arestas do texto. 

©Daniel Mordzinski

Patrícia Reis nasceu em 1970. Começou a sua carreira jornalística em 1988 no semanário O Independente, passou pela revista Sábado e realizou um estágio na revista norte-americana Time, em Nova Iorque. De volta a Portugal, foi convidada para o semanário Expresso, fez a produção do programa de televisão Sexualidades, trabalhou na revista Marie Claire, na Elle e nos projetos especiais do diário Público. Escreveu para a Expo ‘98 o livro sobre a exposição de Paris 1989, um livro sobre o Pavilhão de Portugal e um sobre os espaços públicos do recinto da mesma exposição. Escreveu a curta biografia de Vasco Santana e o romance fotográfico Beija-me (2006), em coautoria com João Vilhena, a novela Cruz das Almas (2004) e os romances Amor em Segunda Mão (2006), Morder-te o Coração(2007), que integrou a lista de 50 livros finalistas do prémio Portugal Telecom de Literatura, No Silêncio de Deus (2008) e Antes de Ser Feliz (2009). O último romance de Patrícia Reis foi publicado em abril de 2011 pela Dom Quixote e intitula-se Por Este Mundo acima.

domingo, 12 de agosto de 2012

Domingo

Depois de entregues os miúdos, ficámos só nós quatro outra vez. Nós, entenda-se, o casal e os cães.

Um pouco de jogo de bola para fazerem exercício e ala para Santa Cruz ver o neto. O Tomás está...está...não vale a pena gastar palavras, está assim :)
Momentos de pura felicidade, uma bebida fresca, os pés na areia, colinho e estrafegos como pedem todos os bebés do mundo.
O poente em Santa Cruz foi assim...com biscoitos e um copo ou dois de vinho branco, em família.

E o jantar acabou por ser no GOLFINHO AZUL: uma bela sopa de peixe, cenourinhas salteadas com azeite, alho e coentros, pasta de atum, pão e tostas. A proprietária do que já vai sendo há um tempo um dos nossos lugares preferidos para apreciar o fim da tarde, juntou-se à nossa mesa trazendo um prato de gambas fritas com azeite e alho. Lá tivemos de comê-las, com grande sacrifício :)
No fim, não nos deixou pagar. Acham normal? O maravilhoso é que sim, já vai sendo normal. Parece que aqui a gratidão e a amizade traduzem-se em petiscos vindos do mar  e em excelente companhia. Foi um dia bom.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

José Luís Peixoto


O Vagabundo regressa a casa

Após uma viagem longa, após semanas ou meses, quando se chega, assim que se põe um pé fora do aeroporto, estranha-se as cores, estranha-se a espessura do ar, estranha-se que, de repente, toda a gente fale em português. Os taxistas falam em português, a rádio passa publicidade em português, os cartazes ao longo do caminho anunciam qualquer coisa em português. Mas, nos passeios, as pessoas avançam sem reparar em nada, fazem o seu caminho, seguem sem encontrar novidades. Nos semáforos, os motoristas dos outros carros estão mal-humorados, ignoram completamente o sol de junho, que não é demasiado quente, ignoram a claridade e a temperatura perfeita.


A casa está exactamente como ficou. Se houve uma última caneca que ficou por lavar no lava-loiças, continua lá, suspensa, pronta a retomar o movimento do mundo. Então, antes de desfazer a mala, apetece sentar no sofá, senti-lo. Nos próximos dias, haverá prazeres simples para apreciar: assistir a matinés de fim de semana na televisão, tomar duches quentes com champô de tamanho normal, comer certas comidas, não necessariamente bacalhau. Essa fase pode demorar bastante tempo. Se houver disponibilidade, pode demorar vários dias. A mala pode ficar por desfazer durante mais de uma semana.

Então, a casa é mesmo casa. O corpo recupera segurança, como se a segurança fosse gasolina, como se a casa fosse uma bomba de gasolina e como se tivéssemos um depósito interno para atestar de segurança. A casa é como aquele lugar em que não podíamos ser apanhados quando brincávamos à apanhada. A casa é como um abraço.

Esse período pode ser muito reconfortante e melancólico. Reconfortante porque todas as lembranças e cicatrizes assentam, são processadas pela memória, narradas a nós próprios devagarinho, encontram um lugar na organização da cabeça. Melancólico exactamente pelo mesmo motivo. Esse é um período em que se contempla um tempo que, ali, se sabe com muita certeza que não voltará. Saber que aquilo que foi bom existiu é, também, saber que já não existe.

Sem roaming, é possível telefonar aos amigos com especial facilidade. Quando atendem e quando têm conseguem encontrar uma hora nas suas agendas cheias, marca-se um encontro numa esplanada ou à frente de uma paisagem simpática. Cresce então o entusiasmo para lhes contar como foi nadar ou andar de bicicleta numa cidade tão distante, entre imagens tão incríveis, entre perfumes e fedores. Eles ouvem, dizem: ãh, ãh. Reparam em qualquer coisa que está à acontecer atrás de nós, uma criança, um cão, um pombo. E o entusiasmo vai esmorecendo. Quando morreu completamente e se misturou com a paisagem, são esses amigos que se entusiasmam a perguntar: sabes com quem é que o Manel anda? E começam a falar dos lugares onde se costuma ir. Todo o interesse que colocam nos detalhes dessa descrição contrasta com o desinteresse com que se ouve. E há uma voz interior, por baixo dessa, a ditar pensamentos e a anotar tudo isso. Nesse preciso momento, fica claro que mudámos enquanto pessoa. Foi a viagem que nos mudou.  

José Luís Peixoto, in revista Volta ao Mundo (Julho de 2012)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Caetano Veloso

O senhor Caetano Veloso completa hoje 70 anos, imaginem. Escolhi um video de um concerto a que tive a bênção de assistir, no Coliseu dos Recreios, há uma série de anos, noutra vida. Mas é neste álbum, o "Prenda Minha", com arranjos de Jaques Morelenbaum, em que eu penso, quando penso em Caetano Veloso. E adoro esta letra, que incluo abaixo :)
Parabéns, leãozinho! :) Obrigada pela voz, pelas canções.


Me larga, não enche
Você não entende nada, eu não vou te fazer entender
Me encara de frente
É que você nunca quis ver, não vai querer, não quer ver
Meu lado, meu jeito,
O que eu herdei de minha gente, nunca posso perder
Me larga, não enche,
Me deixa viver (4x)

Cuidado, oxente!
Está no meu querer poder fazer você desabar
Do salto, Nem tente
Manter as coisas como estão porque não dá, não vai dar.
Quadrada, demente,
A melodia do meu samba põe você no lugar
Me larga, não enche
Me deixa cantar (4x)

Eu vou clarificar a minha voz
Gritando: nada mais de nós!
Mando meu bando anunciar
Vou me livrar de você

Harpia, aranha,
Sabedoria de rapina e de enredar, de enredar
Perua, piranha
Minha energia é que mantém você suspensa no ar
Pra rua!, se manda,
Sai do meu sangue, sanguessuga, que só sabe sugar
Pirata, malandra,
Me deixa gozar (4x)

Vagaba, vampira,
O velho esquema desmorona desta vez pra valer
Tarada, mesquinha,
Pensa que é a dona, eu lhe pergunto: quem lhe deu tanto axé?
À toa, vadia,
Começa uma outra história aqui na luz deste dia D
Na boa, na minha,
Eu vou viver dez,
Eu vou viver cem,
Eu vou viver mil,
Eu vou viver sem você

Vagaba, vampira,
O velho esquema desmorona desta vez pra valer
Tarada, mesquinha,
Pensa que é a dona, eu lhe pergunto: quem lhe deu tanto axé?
À toa, vadia,
Começa uma outra história aqui na luz deste dia D
Na boa, na minha,
Eu vou viver dez,
Eu vou viver cem,
Eu vou viver mil,
Eu vou viver sem você, eu vou viver sem você,
Na luz desse dia D
Eu vou viver sem você.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Jorge, Amado

10 Agosto 1912 - 6 Agosto 2001
Carta a Jorge Amado 

Amado Jorge,

Nasci tirada a ferros do ventre da minha mãe, no dia em que morreste. Não no mesmo ano, entenda-se, mas no dia. 6 de Agosto. E como no dia em que celebramos o aniversário nos sentimos um pouco crianças, e uma vez que temos os dois o dia de hoje em comum, venho recordar os tempos que vivemos juntos.
A casa de férias de Sesimbra, onde passei os fins de semana e os verões entre 1973 e 1988 (quase toda a  infância e toda a adolescência), tinha (e ainda tem, graças a Deus), as paredes forradas de livros. Tenho a bênção de contar com uma mãe bastante liberal que me foi passando livros e orientando as leituras. Foi assim que li "Capitães da Areia", "Jubiabá", "Mar Morto", "Os Velhos Marinheiros" e até o ousado "Dona Flor e Seus Dois Maridos". 
Enquanto a minha irmã preferia subir às árvores e levantar pedregulhos para encontrar bichos de muitas patas, gritando quando um deles saía do buraco - incomodado e cheio de espanto por se ver assim, de casa escarafunchada -, eu ficava a ler dentro de casa ou no terraço, atrás das lentes grossas dos óculos que usei durante tantos anos, viajando com os muleques pelas ruas da Baía, partilhando o suor dos homens nos campos de cacau, navegando os mares do sul. Passava as tardes a ler no cadeirão de xadrez do meu pai, sob o enorme abat-jour, ou na cadeira de palha à sombra do alpendre de cana. Lia de pernas penduradas junto à proa do pequeno veleiro, rumo ao mar alto, com o meu pai ao leme e o seu eterno cachimbo na boca, como verdadeiro marinheiro que realmente foi; lia durante as manhãs, no café da aldeia, acompanhada pelo meu pai, um bolo e um garoto muito doce, com dois pacotes de açúcar; lia na cama até o sono vencer, de cabeça inundada por personagens cujas vidas tinha já alguma dificuldade em distinguir da minha pacata existência. Foram muitos, os autores, inúmeros os livros. Você, querido Amado (passo a redundância) foi um deles. Obrigada, Jorge, pelo riso, as aventuras, as viagens e sensações. Agosto, que nos deu nascimento aos dois, levou-te no dia em que eu completei 32 anos. Já passaram alguns mais, hoje sou uma mulher de meia-idade;, que há muito deixou de poder dar-se ao luxo de se diluir em manhãs, tardes e noites de leitura, mas a paixão resiste e os livros vão-se mastigando mais devagar. E sempre que me lembro de ti sou criança outra vez, porque era uma criança quando te descobri.
Dedico este post à minha mãe, que há 43 "aninhos" me pôs no mundo, apesar de eu hesitar em fazer parte dele, toda embaraçada no nosso cordão umbilical.

sábado, 4 de agosto de 2012

Alain de Botton

Hoje, ao dar uma série de sugestões de leitura a um dos meus irmãos, lembrei-me de Alain de Botton e, para o apresentar ao meu irmão, fui à caça de um link e dei com esta conferência no canal TED. Oiçam com atenção e estou certa de que irão entender por que razão gosto tanto deste homem e dos livros bem-humorados e interessantíssimos que escreve.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Garota de Ipanema

Hoje o tema GAROTA DE IPANEMA completa 50 anos. Não "a garota" propriamente dita, essa deve andar pelos setenta e tais, oitenta!, mas a canção composta por Tom Jobim (música) e Vinicius de Moraes (letra).
Este video, com a versão original, intercala fotografias de época, bastante interessantes, e frases ditas por ambos em gravações e entrevistas, que mostram bem o espírito brincalhão de António Carlos Jobim e, em especial, do poeta Vinicius, que não resistia a uma bela (e jovem...) mulher :)
Deixo-vos também uma notícia do JORNAL SOL, com uma interpretação ao vivo do próprio Jobim, no Japão, e mais alguma história sobre o tema Garota de Ipanema, que hoje está de parabéns :)