terça-feira, 23 de março de 2010

Desaparecidos há 1 ano

O GASPAR e o BERNARDO, os dois cães mais amigos que eu já conheci, alegraram a nossa casa entre o inverno de 2006 e a primavera de 2009. Foi uma alegria intensa e breve que terminou há precisamente 1 ano, quando correram mata abaixo, como muitas vezes faziam, para regressarem minutos ou horas depois. Para nossa grande tristeza, quando partiram nesse dia, foi a última vez que os vimos.
Eram dois rafeiros: um de golden labrador, outro de rotweiller com serra da estrela. Andavam sempre juntos, como podem ver pelas fotografias.
A DORMIR...

OU ACORDADOS...


O GASPAR, o labrador, tinha um tique nervoso: às vezes roía as patas dianteiras até fazer ferida. Depois tinha de andar com aqueles abat-jours ridículos, para elas sararem. E adorava o calorzinho da lareira. Gostava de se pôr mesmo em frente dela, com a peitaça a ferver, assim:                                          
 

O BERNARDO, o castanho-escuro arruivado, tentava imitar-nos a falar, fazendo ruídos estranhos, tipo, UVAF! BEEH-BAH, até que um dia conseguiu dizer com a vogal bem aberta e a voz muito grossa: BAAB! Fartei-me de rir sozinha e tenho pena que mais ninguém tenha ouvido. Comia sempre deitado, com o prato entre as patas (mesmo quando já era adulto), assim:
E tinha a mania de atacar o canteiro e de enfiar as fuças na terra húmida, assim:
Éramos apaixonados por estes cães. Chorei durante semanas, e a primeira coisa que fazia ao acordar era ir directo à janela, na esperança de os encontrar ali, deitados junto ao portão azul. Mas tal nunca aconteceu. O passar dos meses foi dobrando o desgosto em pedacinhos cada vez mais pequenos, até que consegui guardá-lo num canto discreto e deixar de chorar a cada vez que pensava neles. Hoje faço apenas um sorriso triste e só espero que, onde quer que se encontrem, estejam bem, felizes e bem tratados. As saudades vão existir sempre e o Chico e o Gastão, que chegaram uns meses depois para nos consolar, são outros cães, com outra personalidade, outras manias, e outras formas de nos fazerem rir, desesperar ou alegrar-nos a casa. Por uns, pagam os outros. Estes não sabem o que é correr por essas matas fora, à caça de coelhos ou de uma cadela. Mas, se Deus quiser, hão-de andar connosco durante muito tempo ainda, sem um adeus tão prematuro como este foi.

A primeira vez em que o Gaspar e o Bernardo ficaram presos à corrente...

8 comentários:

  1. Fiquei triste com esta história e lembrei-me dos meus,que o Deus canino os tenha. Pena não ter espaço e vida para voltar a ter destes companheiros inseparáveis,por isso fico contente quando os meus amigos acolhem estes seres de 4 patas.Tenho de ir conhecer o Gaspar e o Bernardo.Prometo!
    Bjs,
    Paulo Riskas

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  2. Querido amigo, é verdade, só quem tem vocação para os cães é que sabe do que estou a falar. Difilmente poderás conhecer o Gaspar e o Bernardo que são, precisamente os que desapareceram há um ano. Aqueles que te esperam, quando vieres visitá-los, são o Chico e o Gastão, O tal consolo depois do desgosto. São um podengo médio/grande (CHICO - cão de caça, super-vivaço e um atleta surpreendente, com 1 ano e pouco) e um Serra da Estrela (GASTÂO - de grande porte,muito meigo, ainda com 10 mesinhos).
    Cá vos esperamos!
    Um grande beijinho, com espírito de cão, que é o melhor que se pode esperar da amizade.

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  3. Conheci, acho que posso dizer bem, essa rapaziada. Confesso, até eu fico meio tocado por essa "brincadeira" que eles fizeram.
    Desceram o monte, naquele galope que só os cães felizes são capazes. E não voltaram.
    Tiveram junto de vós a melhor vida que um cão pode ter e isso a sorte nunca lhes vai tirar.
    Cumprimentos e umas quantas palmadecas lombeiras para o Chico e para o Gastão.
    Fernando Correia

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  4. Após alguns meses a viver Thoreau fintei a madrugada. Esta estranhou eu não a esperar á janela com a habitual caneca de café e pediu á manhã para me iluminar o rosto por entre o algodão que esconde o azul...assim acordei e ao som do "exagerado" Cazuza e ligo o pc que estranha as minhas digitais.
    Pretendia criar o meu próprio blog mas
    Googlo "Thoreau" e dou de caras com esta agradável surpresa que me preenche o que resta da manhã e me leva a desistir de tal ideia... acho que,por enquanto,me vou limitar a seguir o teu... :)
    Obrigado pelos pedacinhos partilhados, onde posso comprar o teu livro?

    Sorrisos!!

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  5. Obrigada, Fernando, pela solidariedade. Também eles tiveram a sorte de te conhecer e de receber umas boas festinhocas e "palmadecas lombeiras" tuas. Adoravam receber visitas. Aliás, nisso temos tido sorte, os nossos cães têm sido muito bons anfitriões.
    Um grande e agradecido abraço

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  6. Impossível esquecer.
    Um sentimento de perda brutal.
    E ainda há gente que não entende este afecto!!!
    Maria João

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  7. (resposta ao 4º comentário, "após alguns meses...":
    Caro anónimo, obrigada tuas palavras. Conhecemos-nos? Isto do anonimato, sem sequer uma assinatura no fim, torna tudo muito estranho. Para responder à tua pergunta, tenho sido, até agora, escritora "de gaveta" (por isso me considero, até à data, apenas "escrevinhadora", como fiz notar no meu perfil). Lá para Setembro/Outubro sairá o meu primeiro romance e irei assinar contrato com uma editora para o mês que vem. Estará disponível por todo o lado, até nos hipermercados. Claro que darei notícia do lançamento, além de que será divulgado por aí...espero eu :-) Até lá, este é o meu cantinho. Obrigada pelo carinho, votos de dias inspirados e boas madrugadas.

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  8. Olá Vera;

    Só depois de ter enviado o comentário percebi que não me tinha identificado :)
    Não nos conhecemos.. simplesmente dei uma olhada no blog e identifiquei-me com algumas das tuas palavras.
    Assim que passar a altura das candidaturas, pre-requisitos e todas essas burocracias vou ganhar coragem pra me sentar ao computador e escrevinhar qualquer coisa também.

    Até lá vou passando sempre que puder e a paciência me permitir sujeitar-me ás maravilhas da informática :)

    Boa sorte com o livro e muita inspiração,como convém ao artista...

    Cumprimentos identificados;

    Gabriel.

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