Este pequeno texto não tem grande pretensão literária, pois assim anda o meu espírito nos últimos meses. Não estou preocupada. Culpa zero, ao contrário do que é em mim habitual. Como um cão vadio que salta o muro e sempre regressa a casa, para junto dos donos, assim anda a minha veia. E se não voltar, adoeceu de vez, apanhada por um vírus qualquer, foi atropelada ou alguém a levou, pouco importa. Escrever sempre foi uma necessidade. O que fazer quando não a sentimos, senão deixar de escrever? Poderiam apontar-me o paradoxo, enquanto me lêem, mas não me refiro a estas pequenas confissões, falo do resto, dar andamento ao que me aguarda. Os livros terão de esperar. Ao contrário do meu amor pelos cães, ando neste estranho desapego.
Continuo especialmente dedicada à casa e à jardinagem, mal pego num livro, muito menos na pena e não tenho pena alguma.Para celebrar o aniversário deste blogue empoeirado, venho partilhar convosco um presente que recebi em Fevereiro. A maior parte das pessoas verá nas imagens apenas um automóvel. Um carro fofo, vá, bem ao gosto vintage. Sobretudo para as senhoras. O carro é um mimo, não se resiste. Para mais com tecto panorâmico e em tom pérola.
Acontece que eu não conduzia há quase quatro anos. Dependia por inteiro de terceiros para sair de casa sobre rodas, sendo que vivo num lugar bucólico, é certo, mas bem isolado.
Enfim recuperei a minha liberdade e tenho agora o melhor dos dois mundos. Embora com limitações devido aos problemas de visão, posso pegar em mim e no meu "paneleirinho", como lhe chama o meu marido com carinho, e livrá-lo da rota dos supermercados, da engomadoria e da farmácia; posso mandar fazer bainhas numas calças, pôr um fecho-éclair num casaco e despachar todas essas tarefas domésticas, que nada possuem de criativo mas que têm de ser feitas. E também posso ir aos viveiros comprar terra e adubos, vasos, plantas, flores e sementes, ir ao café, ver montras, passear pelas ruas, almoçar com amigas ou simplesmente percorrer os poucos quilómetros que me separaram do mar, só para lhe dizer bom-dia, ouvir a rebentação, pôr os pés na areia...
E tudo ao meu ritmo, como se fosse dona do tempo.
A Primavera está a chegar e os meus dias já começaram a florescer.
Estou tão feliz com o meu novo amigo. Nunca pensei abraçar um carro, mas foi o que fiz, quando me trouxe de regresso a casa, pela primeira vez. É bom poder ir e voltar. E Ficar é um verbo que tem agora todo um outro significado. Escolher, como verbo Auxiliar. Amanhã vou vadiar um bocadinho também. Pode ser que, pelo caminho, me cruze com a minha veia.
Tão lindo Vera!
ResponderEliminarMas é mesmo assim. Goze!
Goze a vida, goze o "paneleirinho", goze essa liberdade.
As coisas têm de ser feitas quando nos apetece!
Sai tudo melhor!
Obrigada pelas suas palavras, querida Bé, é isso mesmo! E que bem que vocês os dois sabem viver... :-)
EliminarQuerida Vera ( acho que lhe posso chamar assim ) adorei e mais adorei porque entendo tão bem essa liberdade que eu não tenho ... porque não guio ( uma longa história que até dá vontade de rir pela teimosia e obstinação desta aquariana!).
ResponderEliminarComo diz a Bé goze a vida e esses pequeninos momentos que são tão preciosos... e a Vera merece!
E o "paneleirinho" é lindo de morrer!
Parabéns com muito carinho !
Querida Helena - retribuo o miminho - muito lhe agradeço o carinho das suas palavras. É como diz a Bé, as coisas têm de ser feitas quando nos apetece, sai tudo melhor! Já não escrevia há um tempo e hoje senti esse desejo e foi tão fácil. De uma maneira ou de outra, temos de conquistar uma qualquer espécie de liberdade. Esta era a que me faltava a mim. Espero que, embora a Helena não tenha carta, a sinta também. É estranho como, muitas vezes, somos nós mesmos a construir as nossa prisões. Tenho muitos medos, não sou uma pessoa audaz, mas lá vou aprendendo a encolher os ombros e a dizer ao medo, "Olha, não sejas parvo, deixa-me lá". Beijinhos com todo o carinho!
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