quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Balzac (1799-1850)

Depois da euforia natalícia, os dias tornaram a ser vulgares. Para sair da minha vulgaridade, descubro a vida e a obra de Honoré de Balzac. 
Escreveu mais de uma centena de obras, muitas delas menores, assinadas com pseudónimo, para ganhar dinheiro e pagar dívidas. Aos 27 anos já tinha escrito nove romances. Só a colecção "A Comédia Humana" inclui 95 obras acabadas e outras 48 que não chegou a terminar. Entre outros géneros escreveu peças de teatro, novelas, contos, panfletos e tratados filosóficos. Isto só assim, para vos dar um aperitivo.
De origens modestas, foi desprezado e entregue a uma ama. Na sua primeira infãncia, esteve quatro anos sem ver a família, a favor do seu irmão mais novo, filho ilegítimo do amante da mãe (é preciso ver que a senhora fora dada em casamento aos 21 anos com um velho de mais de cinquenta, como paga de negócios e que por isso nunca foi capaz de amar o marido ou de lhe ser fiel).
Mais tarde, à excepção da sua progenitora, burguesa com negócios mercenários, que lhe emprestava dinheiro à distância (sim, emprestava, o filho chegou a dever-lhe 50 mil francos!) teve pouco ou nenhum apoio da família. O pai mandou-o para um colégio interno bastante austero e rigoroso onde Balzac, com uma mesada ridícula (que mais tarde o pai cortou), passava vergonhas junto dos colegas mais abastados. Era mau aluno, indisciplinado, e mandavam-no frequentemente para uma masmorra, de castigo. Foi aí que aproveitou para ler tudo o que apanhava pela frente, até dicionários, que lia com gosto, à falta de outros livros. Chegou a ser enviado para casa num estado de quase coma. Ao vê-lo, uma parente comentou: "é neste estado que nos devolvem um rapaz tão bonito!".
Só uma das irmãs acreditou desde cedo no seu talento e no sonho em tornar-se escritor e lhe desejou muito sucesso, na sua vida na capital. Mas no fim da sua adolescência o pai pô-lo no mercado de trabalho. Depois de Honoré ficar farto de leis ao trabalhar como estagiário numa sociedade de advogados através de um amigo do pai, ao longo de três anos, recusou sociedade e mudou-se para umas águas-furtadas em Paris, verdadeiramente espartanas, a viver com quase nada e onde apenas contou com o auxílio de uma senhora idosa. No romance "O Notário", escreveu sobre um rapaz obrigado a lidar com "as rodas oleosas de cada fortuna, a disputa horrenda de herdeiros sob corpos ainda não totalmente frios, e o coração humano às voltas com o Código Penal.". Confessa que ali seria "como todos os outros, vivendo com fome num lugar onde nada lhe davam para satisfazer o seu apetite."
Tinha vinte anos quando confessou essa sua frustração e a intenção de se tornar escritor, pois desesperava-o a ideia de ser "um funcionário, uma máquina, um mercenário numa escola de equitação, comendo e bebendo e dormindo em horários fixos."
Aos vinte e dois anos conseguiu publicar alguns contos, com a ajuda de um amigo. Ao fim de várias obras mediocres, com os cobradores à porta e os editores à perna, Balzac trabalhava uma média de vinte horas por dia (!) e ainda assim arranjou maneira de serem consideradas obras-primas por alguns críticos. Quando mais tarde descobriu o projecto colossal d "A Comédia Humana", entrou pela casa da irmã adentro a dizer "estou prestes a tornar-me num génio!"...e tinha razão. Assumiu as obras que escrevera anteriormente e começou a assinar como "Honoré de Balzac", até para dar um ar mais aristocrático ao seu nome e esconder as origens modestas. Tornou-se mestre na análise das classes sociais, a construir personagens e a descrever ambientes e lugares, criando as famosas mulheres "balzaquianas" e influenciando autores como Flaubert, Proust, Zola, Italo Calvino, Dickens, Dostoievski, Henry James, Camilo Castelo Branco, Eça, Machado de Assis...chegava a dedicar-se quinze horas a um excerto, rabiscando sobre uma ardósia, escrevendo, apagando, rasurando, reescrevendo num estado quase febril, até ficar satisfeito com aquele pedaço de prosa, limpo, simplificado, puro.
Escreveu, viajou, gastou, esbanjou, sem nunca parar de escrever.
Na verdade era feio e gordo, mas viveu rodeado de mulheres que se apaixonavam por ele.  Quando a fortuna chegou, gastou-a numa vida viciosa e entregou-se a projectos que tinham como base boas ideias, que não conseguia levar a bom porto por não perceber nada de negócios (por exemplo, edições extremamente baratas, de papel de má qualidade, nomeadamente das obras compiladas de Molière; a exploração de minas de prata...que afinal não tinham prata; uma sociedade com uma amante numa impressora que lhe deixou dívidas tremendas, etc.).
Morreu aos 51 anos, pouco depois de ter finalmente contraído matrimónio com uma nobre polaca que amou e namorou durante dezoito anos por correspondência, e com quem fez longas viagens clandestinas, uma vez que a senhora era casada e só enviuvou e pôde casar com ele quando Honoré tinha cinco meses de vida.
Já não se ama assim. Já não há vidas nem homens destes. Já não se constrói uma obra literária assim, a escopro e martelo, ao longo de uns breves e admiráveis trinta anos de escrita.
Somos tão pequeninos.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal

AMOR
CONFORTO
SAÚDE
ALEGRIA
PAZ
ABUNDÂNCIA
SUCESSO
HARMONIA
BOA VONTADE
HUMOR
TERNURA
SABEDORIA
12 PRESENTES QUE PUS NO VOSSO SAPATINHO,
PARA QUE SEJAM FELIZES.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

lendo...

"Porque será que estamos condenados a ser assim tão solitários? Qual a razão de tudo isto? Há tanta, mas tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, todos irremediavelmente afastados. Porquê? Continuará a Terra a girar unicamente para alimentar a solidão dos homens?
Virei-me de costas sobre a laje de pedra, fitei o céu por cima de mim e pus-me a pensar na quantidade imensa de satélites que naquele preciso momento deviam girar à volta da Terra. No fio do horizonte era ainda possível distinguir uma réstia de luz, e as estrelas começavam a brilhar no céu de um profundo tom púrpura. Procurei com o olhar a luz de um satélite, mas havia demasiada claridade para distinguir fosse o que fosse a olho nú. As estrelas que estavam à vista permaneciam imóveis, cada uma no seu sítio, como se cravadas no céu. Fechei os olhos e prestei atenção para ver se conseguia ouvir os descendentes do Sputnik que continuavam a dar voltas à Terra, tendo como único elo de ligação ao planeta a gravidade. Solitários pedaços de metal que se encontram de repente nas trevas do espaço, cruzam-se no seu caminho e depois separam-se para sempre. Sem trocarem uma palavra, sem fazerem uma promessa."
(excerto de "Sputnik, meu amor", de HARUKI MURAKAMI, 2002)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Charles Dickens

Vi este filme com o meu filho. Maravilhoso. Realizado por Robert Zemeckis, com 7 personagens interpretadas por Jim Carrey. Uma versão irresistível do conto "A Christmas Carol", com o melhor da tecnologia, para nos fazer sonhar.

Adeus, Outono

Por razão nenhuma de especial, tenho andado arredada da internet (emails, facebook, blogs, inclusive o meu). O espírito anda a pairar por outros cenários. Venho aqui mostrar estes cogumelos que fotografei há três dias, numa caminhada perto de casa: uma explosão dourada no meio da erva. Não resisti a esta despedida de mais um Outono.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Chiado

Na 2ª feira fui a Lisboa. Cada vez me sinto mais uma turista na cidade onde nasci. Já não me entendo a andar de Metro, é tudo muito moderno e sofisticado. Escolhi a zona do Chiado para fazer tempo até chegar a hora de assistir ao ensaio do meu filho na Big Band Junior do Hot Clube.
Souberam-me bem estas horas na cidade, apesar da confusão urbana e do que vou relatar a seguir: isolo-me demasiado no meu recanto bucólico e às tantas sinto falta das multidões, das caras estranhas, do Metro, das ruas e das luzes, das lojas, do ritmo.
Depois de um bom tempo na livraria da Fnac, de onde saí com uma lista de livros para incluir na carta ao Pai Natal, resolvi ir fazer um pouco de companhia ao Pessoa e lanchar n '"A Brasileira". Sentada na esplanada junto à estátua do poeta, fui abordada várias vezes por mendigos. No campo, onde vivo há quatro anos, não os há. Só nesse momento me apercebi de que já não faziam parte dos meus dias há muito tempo. Os pedintes habitam nas grandes cidades, onde a vida é mais cara e mais difícil, e onde há mais gente a quem pedir, o que não deixa de ser irónico. Uma mulher mostrava uma pobreza recente, acabada de estrear, ainda inconformada e espantada com a sua má sorte.
Os turistas marcaram também presença, sentando-se na cadeira de bronze, a eternizar o encontro anacrónico com o Pessoa.
Já não estou habituada aos preços inflacionados da capital. Estou acostumada a pagar entre 50 e 60 cêntimos por um café. Ali paguei 1,50: pedi um café curto com adoçante e veio um café cheio (e demorado...) com açúcar. Estou habituada a comer tostas mistas com pão saloio que custam cerca de 2 euros e chegam para duas pessoas ou quase. Ali paguei 3 euros e veio morna, atrasada e em pão de forma tipo Panrico. O chocolate quente veio morno. Mandei-o para trás, para que fizessem o grande favor de reaquecer. No total, desembolsei 7,25 euros por um péssimo serviço, já para não falar nos desgraçados dos pedintes que nos deixam constrangidos e cheios de sentimentos de culpa por estarmos ali, em pleno luxo, numa afronta à sua triste pobreza. O Pessoa não serviu para me tranquilizar, pelo contrário, honrou-me com o seu Desassossego. Depois de beber o meu café morno (o adoçante também chegou com atraso...), ergui-me e fui falar com a gerente, que nem de propósito...era brasileira. Desculpou-se, que eu tinha razão, que os rapazes (que eram 4, para 12 mesas pequenas...) não recebiam formação, blablabla.
A minha amiga Isabel é que tem razão: se o coitado do Pessoa pudesse, levantava-se e escolhia outro café.
A tradição já não é o que era, ou sou eu que estou a transformar-me num bicho do mato?

domingo, 12 de dezembro de 2010

Parabéns, Patrícia

Parabéns, querida amiga, pelos teus 40 anos. Estás longe, a 8 ou 9 horas de diferença no fuso horário, mas sempre no meu coração. Votos de uma celebração feliz.
Aqui estão os livros maravilhosos da Patrícia Reis, para quem não conhece. Todos com a chancela da Dom Quixote:

sábado, 11 de dezembro de 2010

sol portátil

- Soooool, que bom! Hoje está perfeito para passear! Praia, aqui vou eu!
Ao ler aquele comentário da amiga no facebook, ela afastou a cortina e confirmou o céu cinzento, a ameaçar chuva. Ora a amiga vivia perto, estava em casa. Teria ela um sol privativo? Portátil? Então pensou que bom seria, podermos transportar o sol assim, dentro de uma mala térmica, e lançá-lo bem alto para que ficasse suspenso no ar, formando uns quantos metros quadrados de verão sobre a nossa cabeça, como um pequeno oásis.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A cobra

A mulher encontrou uma cobra na banheira e em vez de se assustar sorriu, cheia de paz e pensou que aquilo era um sinal de que já começava a mudar de pele.
Obrigada, P.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Livros Pedidos

O atelier 004 começou a fazer livros personalizados, a pedido. Excelente notícia! Elaboram livros para todas as ocasiões (namoro, casamento, divórcio, aniversário, baptizado...), com o selo de qualidade de quem edita a revista Egoísta há 10 anos.
Para mais informações, espreite o site:
http://livrospedidos.blogs.sapo.pt/ ou o twitter em egoista004

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Prémio Leya 2010

Devido a "limitações na composição narrativa e fragilidades estilísticas", o juri que compõe o Prémio Leya (no valor de 100 mil euros) presidido por Manuel Alegre decidiu, por unanimidade, não atribuir o prémio este ano. Foram 325 obras a concurso (!) - entre as quais inéditos de autores consagrados dos vários países lusófonos - e, ao que parece, nenhuma das quatro obras finalistas tinha qualidade suficiente...

Para mais informação, clique aqui