Querido blogue,
Ironicamente, já que vocês são uma espécie de concorrentes, fica sabendo que foi o facebook a lembrar-me de que hoje completas 10 anos. Deves estar ofendido comigo e não te censuro. Nem sempre te dei atenção. Não veio qualquer mal ao mundo por causa disso, tens de admitir. No princípio, obrigava-me a escrever diariamente - numa primeira tentativa de nomear-te, com a presunção de ser dona do meu ânimo, escolhi a designação nulla die sine linea, mas depressa me avisaram de que o nome já existia...claro. Se não escrevesse, ao menos não deixar de partilhar algo que valesse a pena, um filme, um ilustrador, uma canção, um fotógrafo, um poema, uma entrevista, um livro... Pequenas narrativas ou prosas minhas originais, nascidas em ti, foram surripiadas, transformadas em verso, para serem publicados no Fora do Mundo (Poética Edições, 2014). Não te zangaste. Contigo partilhei também, em 1ª mão, as minhas Filosofices, uma brincadeira pueril quanto à fonética das palavras, desafios da imaginação, um toque de humor e loucura. Em certos momentos da vida, ao longo da última década, mal me lembrei de que existias. Votei-te ao desprezo, traí-te, abandonei-te à fome, o corpo tão magro e miserável, coitado. Ainda assim, moribundo, resististe. Sobram-te uma dúzia de leitores que, sem conta no facebook, ainda te visitam. Espreitam e estranham o meu silêncio, "Não tens lá ido", como quem faz uma censura velada, com carinho, a quem se recusa a visitar um velho parente. Dez anos, para um blogue, é muito. Como eu, envelheceste. Perdeste paixão, vigor, elasticidade; andas de articulações doridas, angustiado com o teu futuro, sofrendo de uma insistente falta de vontade. Não sei como este fundo, a tua pele, não passou ainda a rosa-velho, sinceramente. Anyway, como diriam os americanos, olha, não prometo cuidar melhor de ti de hoje em diante, tu sabes que entre nós não há dessas coisas, há franqueza e verdade. Se tiver alguma coisa para te dizer, digo. Já bastam os filtros enganadores que se usam por aí, de alegria, o corpo em paraísos privados, dias glamorosos, relações perfeitas, a mascarar a tristeza, a solidão e a incerteza com fotografias que mentem, como os advérbios de modo. Contigo, não. És um bom ouvinte, sabes ficar calado, à espera que passe o monólogo da minha indiferença. E nisto, olha, passaram dez anos. Ando muito apagada, tu sabes. Preciso de recuperar a minha luz, mas é um processo de cura que só eu posso fazer. Tem paciência. E já agora, parabéns.
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