O cão entrou-me no quarto a sapatear com as unhas no soalho de madeira. Oito da manhã, o sol lá fora, a querer despertar-me, puxar-me para fora dos lençois. Prendi-o no pátio com a corrente - ao cão, não ao sol, entenda-se - e, envergonhada, tornei a deitar-me. Acordei com sentimentos de culpa: tinha dormido de mais. O que significa dormir de mais? Descansar de mais? Talvez adormecer o corpo à força, dar-lhe um descanso que ele não quer nem pediu. Um excesso de generosidade para com esta coisa que nos sustenta o pensamento e os gestos.
Depois do pequeno-almoço, entreguei-me à leitura dos Ares Difíceis, de Almudena Grandes. O livro é gigantesco, a letra miúda, sinto-me num sonho-pesadelo, caminhando sem sair do lugar. Mas é bom, merece que eu insista em avançar. Prossigo lentamente, com os meus olhos frágeis, esforçados. Os cães a dormitar ao meu lado, o meu filho a ver Dexter no computador. A chuva lá fora. É isto, um Domingo, só pode ser. Tagliateli à bolonhesa para o almoço, com muito queijo parmesão ralado. Depois a leitura de um texto que ainda não é livro, mas será...e bom. Parece que ultimamente já quase só leio futuros-livros, ando nos bastidores da escrita. Privilégios do ócio. O sol regressa, a roupa vai secando no estendal, dengosa, sem vento, tão preguiçosa como eu. O céu ameaça novamente rebentar em choro. Retiro a roupa do estendal, mesmo a tempo. Regresso à leitura, o meu filho a estudar sax no quarto ao lado. Arrumar as coisas, atenção para não esquecer nada. Saímos, voltamos, compramos pão muito muito caseiro no "pão c/ chouriço e sem": três sem, por favor. Aldrabamos o jantar, apenas sopa e pão sem (chouriço), manteiga, fiambre, doces de figo e de ameixa. Venho aqui escrever este texto, retomo a leitura do futuro-livro e deito-me na companhia de Carson McCullers, o livro que me serve de canção de embalar: "A Balada do Café Triste". Foi um bom Domingo.
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