Na 2ª feira fui a Lisboa. Cada vez me sinto mais uma turista na cidade onde nasci. Já não me entendo a andar de Metro, é tudo muito moderno e sofisticado. Escolhi a zona do Chiado para fazer tempo até chegar a hora de assistir ao ensaio do meu filho na Big Band Junior do Hot Clube.
Souberam-me bem estas horas na cidade, apesar da confusão urbana e do que vou relatar a seguir: isolo-me demasiado no meu recanto bucólico e às tantas sinto falta das multidões, das caras estranhas, do Metro, das ruas e das luzes, das lojas, do ritmo.
Souberam-me bem estas horas na cidade, apesar da confusão urbana e do que vou relatar a seguir: isolo-me demasiado no meu recanto bucólico e às tantas sinto falta das multidões, das caras estranhas, do Metro, das ruas e das luzes, das lojas, do ritmo.
Depois de um bom tempo na livraria da Fnac, de onde saí com uma lista de livros para incluir na carta ao Pai Natal, resolvi ir fazer um pouco de companhia ao Pessoa e lanchar n '"A Brasileira". Sentada na esplanada junto à estátua do poeta, fui abordada várias vezes por mendigos. No campo, onde vivo há quatro anos, não os há. Só nesse momento me apercebi de que já não faziam parte dos meus dias há muito tempo. Os pedintes habitam nas grandes cidades, onde a vida é mais cara e mais difícil, e onde há mais gente a quem pedir, o que não deixa de ser irónico. Uma mulher mostrava uma pobreza recente, acabada de estrear, ainda inconformada e espantada com a sua má sorte.
Os turistas marcaram também presença, sentando-se na cadeira de bronze, a eternizar o encontro anacrónico com o Pessoa.
Já não estou habituada aos preços inflacionados da capital. Estou acostumada a pagar entre 50 e 60 cêntimos por um café. Ali paguei 1,50: pedi um café curto com adoçante e veio um café cheio (e demorado...) com açúcar. Estou habituada a comer tostas mistas com pão saloio que custam cerca de 2 euros e chegam para duas pessoas ou quase. Ali paguei 3 euros e veio morna, atrasada e em pão de forma tipo Panrico. O chocolate quente veio morno. Mandei-o para trás, para que fizessem o grande favor de reaquecer. No total, desembolsei 7,25 euros por um péssimo serviço, já para não falar nos desgraçados dos pedintes que nos deixam constrangidos e cheios de sentimentos de culpa por estarmos ali, em pleno luxo, numa afronta à sua triste pobreza. O Pessoa não serviu para me tranquilizar, pelo contrário, honrou-me com o seu Desassossego. Depois de beber o meu café morno (o adoçante também chegou com atraso...), ergui-me e fui falar com a gerente, que nem de propósito...era brasileira. Desculpou-se, que eu tinha razão, que os rapazes (que eram 4, para 12 mesas pequenas...) não recebiam formação, blablabla.
A minha amiga Isabel é que tem razão: se o coitado do Pessoa pudesse, levantava-se e escolhia outro café.
A tradição já não é o que era, ou sou eu que estou a transformar-me num bicho do mato?
Os turistas marcaram também presença, sentando-se na cadeira de bronze, a eternizar o encontro anacrónico com o Pessoa.
Já não estou habituada aos preços inflacionados da capital. Estou acostumada a pagar entre 50 e 60 cêntimos por um café. Ali paguei 1,50: pedi um café curto com adoçante e veio um café cheio (e demorado...) com açúcar. Estou habituada a comer tostas mistas com pão saloio que custam cerca de 2 euros e chegam para duas pessoas ou quase. Ali paguei 3 euros e veio morna, atrasada e em pão de forma tipo Panrico. O chocolate quente veio morno. Mandei-o para trás, para que fizessem o grande favor de reaquecer. No total, desembolsei 7,25 euros por um péssimo serviço, já para não falar nos desgraçados dos pedintes que nos deixam constrangidos e cheios de sentimentos de culpa por estarmos ali, em pleno luxo, numa afronta à sua triste pobreza. O Pessoa não serviu para me tranquilizar, pelo contrário, honrou-me com o seu Desassossego. Depois de beber o meu café morno (o adoçante também chegou com atraso...), ergui-me e fui falar com a gerente, que nem de propósito...era brasileira. Desculpou-se, que eu tinha razão, que os rapazes (que eram 4, para 12 mesas pequenas...) não recebiam formação, blablabla.
A minha amiga Isabel é que tem razão: se o coitado do Pessoa pudesse, levantava-se e escolhia outro café.
A tradição já não é o que era, ou sou eu que estou a transformar-me num bicho do mato?
Já há muito tempo que a Brasileira é assim. Ainda me lembro de lá ter ido lanchar com uma amiga há uns anos-Pedimos as coisas ao balcão (e,claro, demoraram e já foram caras) e quando nos íamos a sentar numa mesinha, informaram-nos que para comer sentadas tínhamos que pagar mais!Devolvemos tudo e fomo-nos embora.:)Nunca mais lá fui!
ResponderEliminarBeijinhos
da prima Mafalda
Um Natal de muita Paz e um ano novo repleto de realizações.
ResponderEliminarQue as luzes que enfeitam esta data iluminem sua vida o ano de 2011 inteiro.
Feliz Natal e Próspero Ano Novo.
Renata
Obrigada, querida Renata, um Natal muito feliz e um 2011 cheio de motivos para sorrir.
ResponderEliminarBeijinhos
Vera
Querida Vera,
ResponderEliminarO teu "desassossego", para além do dele, Pessoa, é o meu, devia ser o de grande parte de todos nós, mas começa a ser de muito poucos, com a obscena indiferença de outros tantos que deviam desassossegar-se.
Não obstante os diferentes níveis de dificuldades, somos ainda uns privilegiados.
Desassossegue-mo-nos pois.
Se isso ajudar, melhor. Há de facto cada vez mais pessoas a precisar de ajuda, não de caridade.
Beijocas
Zé
Não somos bichos do mato...somos é mais exigentes e queremos a perfeição, que cada vez está mais longe de ser encontrada.
ResponderEliminarEnquanto uns são mais exigentes, outros (a maioria, infelizmente) está mais desleixada, um pouco em nome de liberdade, mas que me parece desumanidade ...
Olá Vera
ResponderEliminarPois é, bem-vinda ao clube. Eu raramente vou a Lisboa, e nas áfricas por onde ando, a cidade mais cosmopolita em que mergulho é Dakar e aqui como já uma vez lhe disse, o camelo ainda co-existe com o automóvel. Então, quando me vejo em Lisboa, para mim é confusão em demasia.
Curioso que, o que mais me deprime em Lisboa tal como a si, é sem dúvida o espectáculo dos sem abrigo, dos pedintes, dos indigentes acampados um pouco por toda a parte. Portugueses, romenos, eslavos, indianos, paquistaneses, enfim uma autentica multinacional da indigência.
E então, quando vejo idosos a habitarem caixas de cartão, ou com o saco de plástico com todos os seus pertences, sinto um desconforto, uma angústia enorme, quase inexplicável; por vezes sinto-me como que envergonhado. Que sociedade é esta que abandona os seus velhos como se fossem lixo não reciclável? È verdadeiramente indigna a forma como se descarta quem já não pode produzir. Recorda-se, que naquele meu conto ‘O Homem de Ferro’ abordo esse tema; a pobreza e a solidão do ostracismo.
É por isso que eu assim que posso fico no meu canto, no Lugar da Paz ali aos Salgados, onde não tenho a percepção de coisas dessas. Não é talvez, a melhor atitude, é um pouco a atitude da avestruz, mas digo-lhe com toda a honestidade que sinto muito medo de ser velho em Portugal.
Mas Lisboa tem também coisas muito boas; tem uma luz única, tem livrarias de sonho, autênticos templos, tem alfarrabistas fabulosos, tem Alfama nas faldas de quem eu nasci ali ao Campo de Santa Clara, tem a Mouraria, tem os Amarelos da Carris, tem o 28, tem a Feira da Ladra onde me gosto de perder, tem o ‘Metro e Meio’ e acima de tudo tem o Tejo, um rio de meter inveja.
Sabe que os rios têm um efeito curioso em mim, acalmam-me, transmitem-me segurança. Eu não gosto de coisas sem princípio nem fim e o mar é isso mesmo. Ora um rio eu sei onde nasce e onde se desfaz e mistura, porque na realidade ele não morre nem acaba. Há lá coisa mais bonita que um cacilheiro garboso a barafustar contra a vazante que o empurra para a foz?
É por tudo isto que o Pessoa não sai de onde está. Apesar de tudo, Lisboa é uma cidade linda e quente, é definitivamente o fim do Mediterrâneo e o dealbar do Atlântico. É por isso que nós portugueses passamos a vida a ir e a vir, sem nunca verdadeiramente partirmos nem nunca chegarmos. Chama-se Fado esse destino!
Com amizade, desde Dakar
Mário de Sousa
Ó Mário! Obrigada pelo bálsamo das suas palavras, sempre inspiradas. Tem toda a razão: Lisboa tem tudo isso e muito mais, de realmente bom, e é impossível cortarmos o cordão que nos prende a ela.
ResponderEliminarCom amizade, do oeste português,
Vera