quarta-feira, 29 de abril de 2009

Carlos Ruiz Zafón

Quando terminei a leitura d'"A Sombra do Vento", em Junho de 2007, concluí que há muito tempo não ficava tão agarrada a um livro. Ganhou inúmeros prémios nacionais e internacionais, e é um autor que provoca vendas estrondosas, o que transforma Zafón num escritor de bestsellers, é verdade, mas o facto não merece que olhemos para os seus livros com desconfiança. Digo isto, pois sei que existe por aí o preconceito face à Quantidade, como se, para se ser magistral, fosse forçosa a postura do Escritor Maldito, Sofredor, vivendo numa miséria imoral, enrodilhada os vícios de álcool, drogas, prostitutas e outras tragicomédias do género. Não, Zafón parece ser uma pessoa normal, um tímido rato de biblioteca, que vive pacatamente entre os seus livros, os seus fãs, as obrigatórias manobras de marketing e os compromissos que a editora lhe exige. Enfim, é um escritor dos tempos modernos. So what? Agora leiam os livros dele e tirem as vossas conclusões.
"O Jogo do Anjo", uma prequela d' "A Sombra do Vento", foi-me oferecido pelo meu filho, no Natal de 2008.

Contrariamente à opinião de alguns leitores, gostei ainda mais deste segundo romance, passado também em Barcelona, mas desta feita, nos Anos 20 (no primeiro, a acção decorre nos Anos 50). Carlos Ruiz Zafón escreve divinalmente. Algumas personagens, inspiradas noutras épocas, são tão irresistíveis, que dei por mim a reler "A Sombra do Vento" este ano, pois coração e cérebro recusavam-se a despedir-se. Até Janeiro de 2008, nunca consegui escolher um "livro favorito", pois são tantas as fases por que vamos passando, tantos os humores, tantas as leituras, tantos os autores, tantos os registos utilizados e sensações que nos provocam, que não podemos, sem mais nem menos, retirar desse enorme baú UM livro apenas. Agora posso. São muitos os livros que amo, mas "O Jogo do Anjo" conquistou-me por completo, a ponto de rir e de chorar sozinha e ficar (imagine-se!) abraçada ao livro quando terminei as 568 páginas. Este livro é meu, meu, MEU! Encheu-me as medidas de tal forma, que se me tornou sagrado.
Zafón consegue, em ambos os livros, uma união perfeita entre a época da narrativa e o universo Romântico (assume as suas influências: Dickens, irmãs Bronte, Vitor Hugo, etc.) oferecendo-nos páginas deliciosas, dramáticas, inteligentes, sensíveis, preenchidas por enredos de cortar a respiração. Brinda-nos com passagens maravilhosas, com diálogos cheios de humor, com parágrafos que nos obrigam a reflectir, ou que nos provocam risos e sorrisos. Fermín de las Torres ficará para sempre como uma das minhas personagens preferidas de todos os livros.
Que talento magistral para construir e escrever histórias. Obrigada, querido Zafón, por ter escolhido ser escritor.

1 comentário:

  1. Permita-me que faça minhas as suas últimas palavras: "Que talento magistral para construir e escrever histórias. Obrigada, querido Zafón, por ter escolhido ser escritor."
    Já hoje escrevi num outro blog que o meu livro favorito só poderá ser um: 'A sombra do vento'. Aguardei ansiosamente mais de quatro anos pela nova obra. Resisti à ansiedade e tentação e não o li logo em castelhano por recear perder-me não dominando a língua a 100%. Comprei-o mal foi editado em português. Li-o de imediato e gostei muito. Mas confesso que a leitura foi mais calma, pois a surpresa já acontecera com 'A sombra do Vento'. 'O Jogo do Anjo' foi a confirmação irrefutável. Quero, ainda, acrescentar a minha secreta vontade de tentar a leitura em castelhano. Apenas para confirmar que não terá havido nada que se tenha perdido na conversão para a nossa língua. Magistral Zafón!

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