quarta-feira, 8 de abril de 2009

Chico Esperto

Chegou de olhos tristes e ar miserável, tremendo de frio ou de pânico. Uma orelha torta, permanentemente espetada, como se alguém lhe tivesse instalado uma pequena armação de arame ou sofresse quaisquer efeitos colaterais, algo deslocalizados, ao cair num caldeirão de Viagra. Aconchegou-se nos nossos braços, tão indefeso e meigo, que foi impossível resistir-lhe. Ao fim de uma hora, já corria atrás da bola de ténis, e a cauda saiu de entre as patas traseiras e começou a abanar. Comeu ração, pediu mais, bebeu água, ladrou, desafiou-nos para novas brincadeiras. Desde ontem que anda colado a nós o dia inteiro, junto aos nossos pés, escada acima, escada abaixo, pois não se deixa intimidar pela altura dos degraus. É extremamente vivaço, curioso, brincalhão, meigo, leal e muito esperto; todas as ferramentas para vir a tornar-se num bom cão. O resto, a educação e os cuidados e mimos, são por conta dos donos que teve a sorte de encontrar. Agora é o nosso Chico Esperto. Ia ser abatido em breve, apenas com dois ou três meses de idade. Terá sido por isso que nos chegou abatido? Por um instinto paralelo ao que seria o seu destino? Foi uma boa forma de festejarmos o Dia Mundial da Saúde. Bem-vindo a casa, Chico!

1 comentário:

  1. É pena o Chico não poder ler. Se pudesse, certamente diria, como eu, que bela descrição, que soberba maneira de descrever sentimentos por um animal - já sentenciado ao abate - agora com uma casa, com gente que até gosta dele!
    Tás uma contista de gema!

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