quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Vícios

Dois dias sem café em casa e sem ter forma de sair foi como atravessar o deserto. Pela primeira vez na minha vida compreendi o que é o vício do corpo. Não conseguia pensar, agir ou reagir. Não conseguia concentrar-me em coisa alguma. Só desejei adormecer, dormir e acordar dentro de uma chávena transbordante de café escuro e espumoso, beber-lhe o sabor e o aroma e... renascer.
O meu marido regressou ontem no nosso Smart, quase às sete da tarde e, a meu pedido passou directo no supermercado, pondo assim um fim ao meu isolamento e desespero. Retirei (arranquei é o termo mais correcto) do saco o frasco de Nescafé Gold e bebi o líquido quente como se fosse o elixir da juventude. Foi com um sorriso de consolo infantil que hoje, depois do pequeno-almoço, preparei um café duplo, apaziguada por ver, na bancada da cozinha, a promessa de muitas chávenas de café. 
Nesses dois dias terríveis neguei a mim mesma o consolo de um expresso comprado ao balcão, a quatro quilómetros de caminho...a pé. Julgando que, nessa recusa, me convenceria da inexistência do meu vício, dizendo a mim mesma, Não, não te vais fazer à estrada de propósito, à chuva ainda por cima, só para ir beber café, não podes estar viciada a esse ponto, aguenta. Porém, o alívio que experimentei ao sentir a cafeína circular-me no sangue foi uma espécie de felicidade, de êxtase ilusório que só um vício nos pode trazer. 
Lição: ter vícios é muito feio? 
Não.    
Nunca mais ficar sem café em casa.

1 comentário:


  1. São terríveis as descobertas que fazemos de nós mesmos. A mente insiste, persiste... mas não nos enganemos, os vícios instalam-se quando nem imaginamos.
    É isso, minha querida, para o que der e vier, previne-te com stock duplo do dito cafézito, ou então, para a próxima, não resistas nem insistas e deixa-te levar pela caminhada até ao café expresso mais próximo de ti. É que isto de contrariedades, já bastam as que bastam... ;-)

    Beijinho grande, Vera

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