Dois dias sem café em casa e sem ter forma de sair foi como atravessar o deserto. Pela primeira vez na minha vida compreendi o que é o vício do corpo. Não conseguia pensar, agir ou reagir. Não conseguia concentrar-me em coisa alguma. Só desejei adormecer, dormir e acordar dentro de uma chávena transbordante de café escuro e espumoso, beber-lhe o sabor e o aroma e... renascer.
O meu marido regressou ontem no nosso Smart, quase às sete da tarde e, a meu pedido passou directo no supermercado, pondo assim um fim ao meu isolamento e desespero. Retirei (arranquei é o termo mais correcto) do saco o frasco de Nescafé Gold e bebi o líquido quente como se fosse o elixir da juventude. Foi com um sorriso de consolo infantil que hoje, depois do pequeno-almoço, preparei um café duplo, apaziguada por ver, na bancada da cozinha, a promessa de muitas chávenas de café.
Nesses dois dias terríveis neguei a mim mesma o consolo de um expresso comprado ao balcão, a quatro quilómetros de caminho...a pé. Julgando que, nessa recusa, me convenceria da inexistência do meu vício, dizendo a mim mesma, Não, não te vais fazer à estrada de propósito, à chuva ainda por cima, só para ir beber café, não podes estar viciada a esse ponto, aguenta. Porém, o alívio que experimentei ao sentir a cafeína circular-me no sangue foi uma espécie de felicidade, de êxtase ilusório que só um vício nos pode trazer.
Lição: ter vícios é muito feio?
Não.
Nunca mais ficar sem café em casa.
ResponderEliminarSão terríveis as descobertas que fazemos de nós mesmos. A mente insiste, persiste... mas não nos enganemos, os vícios instalam-se quando nem imaginamos.
É isso, minha querida, para o que der e vier, previne-te com stock duplo do dito cafézito, ou então, para a próxima, não resistas nem insistas e deixa-te levar pela caminhada até ao café expresso mais próximo de ti. É que isto de contrariedades, já bastam as que bastam... ;-)
Beijinho grande, Vera