«Mersault continuava a traduzir "vegetables, vegetables", de olhos postos no candeeiro, com o abat-jour de cartão verde plissado. Tinha em frente dele um calendário de cores garridas que representava "O perdão dos Terra-Novas". Sobre a mesa, alinhavam-se a esponja para os selos, o mata-borrão, o tinteiro e a régua. Das janelas podiam ver-se enormes pilhas de toros de madeira trazidos da Noruega por cargueiros pintados de branco e de amarelo. Apurou o ouvido. Do lado de lá daquela parede, a vida respirava a grandes golfadas, surdas e profundas, sobre o mar e o porto. Tão longe e, ao mesmo tempo, tão perto...»
(Albert Camus, in "A Morte Feliz", p.54, obra póstuma, a partir de manuscritos e notas que antecederam "O estrangeiro").
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