sábado, 10 de agosto de 2013

Urbano Tavares Rodrigues

Manhã de sábado, seis e meia.
Depois de me ter deitado perto das 2h30, numa noite em que fui cantar ao Golfinho Azul com o trio de jazz e bossa-nova, eis que desperto. A boca pedindo um generoso copo de água, a mente fazendo rodopiar recordações de véspera e intenções futuras, recusando-se a adormecer. A cadela, ainda ensonada mas sempre mimosa, junta-se a mim, feliz com a surpresa matinal.
Lá fora o vale encontra-se ainda inundado de neblina, uma gaze que transforma a paisagem num quadro romântico impressionista. Apenas escuto o ronronar manso do computador e os melros e pardais que acordaram comigo e batem asas, abandonando os telhados e pinheiros, talvez em busca do pequeno-almoço.
De súbito deixo em suspenso o egoísmo e a vaidade dos meus projectos... e lembro-me de que o Urbano morreu ontem. E nesta intersecção de vida e morte só posso olhar o céu e o vale verdejante que o sol faz ressurgir, e entregar-me a um minuto de silêncio dentro do meu próprio silêncio, a pedir ao universo para que não esqueça um bom homem e um grande escritor.

Destino
Trago na fonte
e estrela do fogo
da minha revolta
Nunca aceitaria qualquer tirania
nem a do dinheiro
nem a do mais justo ditador
nem a própria vida eu aceito…
tal como ela é
com todas as promessas
do amor e da juventude
e a parda doença
de envelhecer
a morte em cada dia
antecipada

(poema de Urbano Tavares Rodrigues)

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