quarta-feira, 7 de agosto de 2013

a não esquecer

É indecoroso ser famoso

Porque não é isso que eleva.

E não vale a pena montar arquivos

Nem perder tempo com manuscritos antigos.

O caminho da criação é a entrega total,

E não fazer barulho ou ter sucesso.

Isso, infelizmente, nada significa

E é como uma alegoria a viajar de boca em boca.

É preciso, porém, viver sem pretensões,

Viver de tal modo que no fim das contas

Um amor ideal nos alcance

E ouçamos o apelo dos anos que virão.

O que é preciso rever

É o destino, não velhos papéis;

Nem parágrafos e capítulos de uma vida

Anotar ou emendar.

E mergulhar no anonimato,

Silenciar nele os nossos passos,

Como foge a paisagem na neblina

Em plena escuridão.

Outros, nesse rastro vivo,

Seguirão o teu caminho passo a passo,

Mas tu mesmo não deves distinguir

Derrota de vitória.

E não deves nem por um instante

Recuar ou trair o que tu és,

Mas estar vivo, só vivo,

E só vivo — até o fim.


Boris Pasternak


(obrigada, P,...e Maria Teresa)

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