(dedicado aos alunos do 1º Curso de Escrita Criativa “Escrevo o meu primeiro conto”)
Considero-me uma daquelas pessoas abençoadas: pagam-me para fazer aquilo de que gosto: cantar, escrever, fazer leituras atentas, dar oficinas de Escrita Criativa.
Na 1ª sessão do curso “Escrevo o meu primeiro conto”, enfrentei, com um nervoso miudinho de que só eu tinha consciência, um grupo de estranhos que esperava de mim a segurança e a experiência de quem ensina algo a alguém. Não as podia ter: era a primeira vez que ia tentar transmitir, em doze horas apenas, o que tenho aprendido nos últimos oito anos sobre a escrita de contos, o que os caracteriza, o percurso desse género literário, as ferramentas de que dispomos, os vícios de que nos devemos livrar, as leituras que não podemos dispensar, como nos organizarmos, onde buscar as ideias, a inspiração, a vontade, o rigor, enfim, uma missão de grande responsabilidade. Na 3ª sessão, já havia esquecido os meus fantasmas. Esta gente misturada – diversa como uma caixa de bolinhos sortidos – fez com que me arrependesse de não ter partido para tais oficinas mais cedo. Talvez este seja o tempo de acontecer. Talvez tudo tenha um tempo certo. Muito mais do que seis sessões com um grupo heterogéneo de pessoas sem nada melhor para fazer às 6ªas feiras, senti um entusiasmo crescente da parte dos “meus alunos”, que me ensinaram tanto. Todos nos rimos com as tiradas da D. Helena, perdoámos as longas intervenções apaixonadas da Maria Henriqueta, nos enternecemos e deslumbrámos com os belos textos do Mário, sorrimos com o “conto secreto” da Ana, nos “miacoutámos” durante várias horas, inventando neologismos, reproduzindo a doçura do escritor moçambicano, homenageámos Saramago cuja morte nos surpreendeu horas antes duma das sessões, partilhámos intimidades, trocámos contactos e muita correspondência virtual. Tudo isso transformou estes encontros numa experiência ímpar, irrepetível. Sei que o final do curso não foi um fim, mas um começo. Ouvi confidências e desabafos que me fizeram um bem imenso à alma, acolhi o apoio e o entusiasmo que manifestaram face ao que eu própria escrevo, senti-me útil por ajudar, ensinar, confortar e dar conselhos. As expectativas transbordaram generosamente da minha taça. Na despedida, saí com um ramo de rosas, sete, o número mágico e simbólico, que para mim representou também 6+1 = ao número de sessões + a vontade de estar novamente convosco.
Terminado o curso, faremos o que qualquer português que se preze sabe fazer como ninguém: estar horas à mesa a conversar, comer, beber, rir, cantar, declamar ou fazer discursos. Excepção feita e convite extensível à Carmen Cóbar que, sendo guatemalteca, teve a coragem de escrever em português. Uns mais tímidos, outros mais arrojados; uns mais inseguros, outros mais convictos; uns, amantes de prosa, outros de poesia; mas todos unidos pelo amor à literatura e aos livros, que, por entre letras e palavras, linhas e páginas, vão reunindo um punhado de boa gente que se vai Contando em cada Conto, e encantando quem se deixa Encantar.
CONTO CONVOSCO, queridos alunos (perceberam o trocadilho? Ferramenta preciosa para um escritor: saber jogar com as palavras, não se esqueçam! CONFIEM NAS PALAVRAS! Explorem e saboreiem o seu imenso valor).
Votos de boas leituras para todos e, sobretudo… de BOA ESCRITA!
Estou por aqui, sempre que precisarem de mim.
Foi um orgulho ter pertencido a este grupo! Até breve, Vera
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