sábado, 11 de outubro de 2014

Carta da montanha


                                                                    © Nanã Sousa Dias
                                                                                   
De olhos cerrados, o frio lambendo-me a pele
Escuto apenas o som sibilino do vento
na carta derramei um socorro, aliado
O milhafre prendeu as minhas lágrimas
Em garras furtivas, na plumagem negra de negro destino
como a flor de Oscar Wilde, o rouxinol
oferece o tom escarlate à rosa injuriada

No peito guardo a esperança vestida
Com o adejar da minha ave
a folha nívea embalada nas asas
sombrias de um amigo alado
com mil cuidados
se ergue no abismo do meu recolhimento

Quanto tempo terei de aguardar?

O azul que me envolve o peito é cortina de gaze
um véu sobre o outro e outro
e outro ainda
tal como a noite se veste de mil véus até se entrevar

O recorte do horizonte é linha serena
desde pequena que o vejo crescer
Flutuando no desejo, neblina de tantas auroras
e só agora me tento salvar.

O milhafre descola, enfim!
É tempo de espera. É tempo de esperança.
A brisa levanta os meus suspiros, feitos de asas e orações.
(© VERA DE VILHENA, poemas inéditos)

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