quinta-feira, 26 de abril de 2012

Smart


O meu Smart não é lá muito esperto.

É um cabriolet, tem mudanças automáticas e condução sequencial, como se queira. Acontece que, após uma descida, em que meti em sequencial pedindo-lhe uma 3ª, para travar com o motor, ele começa, já de regresso ao automático, armado em Chico-esperto. O que é que faz? Mete uma 4ª ou até uma 5ª numa subida, julgando-se o máximo. É claro que depois não tem força para subir e é obrigado a reduzir novamente...
Quando íamos hoje os dois a subir aquelas curvas e contra-curvas, meteu-me a 5ª na subida íngreme e eu perguntei-lhe:
- Uma 5ª, a sério?...
Claro que foi de imediato obrigado a dar razão ao meu sarcasmo, concluindo que não iria ser capaz de fazer aquele pedaço de estrada em 5ª... 
Já lhe disse várias vezes que tem de baixar as expectativas, que a vida é feita de desilusões...que podemos até estar, numa dada fase da nossa vida, lançados que nem campeões...mas que, ao virar da esquina, se nos depara um buraco ou um obstáculo, e outro remédio não temos senão meter travões a fundo ao descer (neste caso com ABS, felizmente) ou reduzir drasticamente os nossos sonhos...
Digo-lhe que muitas vezes a nossa visibilidade é reduzida, que é preciso estudar a estrada que temos à nossa frente, antecipar os perigos e tirar o melhor partido da condução: as duas mãos no volante, de preferência, olhos na estrada, e o bom senso...para não sermos obrigados a desperdiçar energia, a ficar para trás ou, pior ainda, a chegarmos à conclusão de que não conhecemos o nosso próprio motor.
Pois é, meu amigo Smart, além de te armares em esperto, pecas por um excesso de optimismo que não te fica bem, vai por mim.

1 comentário:

  1. A vida em modo automático. Bem compreendo a frustração de não dominar a máquina. Caixas de velocidade automáticas tem vantagens, mas como em tudo, a última decisão deve ser humana. O Automatismo, e os melhoramentos tecnológicos que beneficíamos em todos os aparelhos que usamos têm origem económica. Menos mão-de-obra, menos custo. Mas também mais venda, porque o boom pós-guerra da sociedade de consumo chega hoje a um ponto ridiculo e perigoso. Na ansia de chegar a todos vendem-se automóveis porque são seguros, têm Abs, chassis deformáveis, cintos com pré-tensores, controle automático de estabilidade e aderência... instaura-se uma sensação falsa de segurança o que faz com que qualquer condutor mediano se sinta excessivamente confiante. E depois temos os gadgets. Para que quero um tecto de abrir panoramico? para que quero um televisor com centenas de canais? ou um corrector automático no Ipad? ou uma máquina de lavar com 30 programa de lavagem diferente? E o comando para o aparelho de Cd's?
    Acabamos por usar uma infima parte das possibilidades dos aparelhos que compramos.

    Oferecam-me apenas um ferro de engomar que engome, um brinquedo que não tenha livro de instruções, um telefone que seja só para falar.

    E tu Smart, faz o que a tua dona te diz.

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