quinta-feira, 12 de abril de 2012

Maria do Rosário Pedreira


Por Maria do Rosário Pedreira
Não passaria pela cabeça de ninguém esperar que um pintor fizesse um desenho ou pintasse uma tela gratuitamente – a menos, claro, que se tratasse de um acto beneficente. Quando se convida um economista ou um político para fazer uma palestra, o pagamento combina-se previamente e há muito boa gente que recebe pela tarefa mais do que vários dos meus salários mensais. (Diz-se que Clinton vive actualmente de fazer conferências, por exemplo, mas há muitos outros na mesma situação.) Se quisermos um cantor para animar um qualquer acontecimento, é bom prever um cachet jeitoso, ou ele não se dará ao trabalho de lá pôr os pés. Ora, vem esta introdução a propósito de um interessante artigo da jornalista e escritora Alexandra Lucas Coelho (ALC) no Público sobre o facto de em Portugal se partir do princípio de que um escritor não cobra senão os direitos de autor dos seus livros: se o querem num encontro, pagam-lhe, quando muito, as despesas de deslocação e, salvaguardadas as excepções (pouquíssimas), tudo o mais é por sua conta e risco, isentando-se quem encomenda o «serviço» de perguntar sequer quantos dias andou o pobre à volta do tema sobre o qual tem de dissertar ou escrever. O hábito instituiu-se e não é fácil corrigir a situação de uma hora para a outra, até porque, se um autor exigir ser pago por uma intervenção, haverá, diz ALC, uma dezena de outros que a farão de graça. Porém, numa altura em que cada vez há mais escritores a tempo inteiro, seria simpático pensar que a produção de um texto rouba se calhar tanto ou mais tempo do que um ensaio de meia dúzia de temas batidos a um cantor – e que por isso deve ser objecto de uma justa retribuição. De acordo com ALC, no Brasil o procedimento é já este. Está, pois, na hora de aprendermos com o lado de lá e batermos o pé.
(retirado do blog de MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA

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