É indecoroso ser famoso
Porque não é isso que eleva.
E não vale a pena montar arquivos
Nem perder tempo com manuscritos antigos.
O caminho da criação é a entrega total,
E não fazer barulho ou ter sucesso.
Isso, infelizmente, nada significa
E é como uma alegoria a viajar de boca em boca.
É preciso, porém, viver sem pretensões,
Viver de tal modo que no fim das contas
Um amor ideal nos alcance
E ouçamos o apelo dos anos que virão.
O que é preciso rever
É o destino, não velhos papéis;
Nem parágrafos e capítulos de uma vida
Anotar ou emendar.
E mergulhar no anonimato,
Silenciar nele os nossos passos,
Como foge a paisagem na neblina
Em plena escuridão.
Outros, nesse rastro vivo,
Seguirão o teu caminho passo a passo,
Mas tu mesmo não deves distinguir
Derrota de vitória.
E não deves nem por um instante
Recuar ou trair o que tu és,
Mas estar vivo, só vivo,
E só vivo — até o fim.
Boris Pasternak
(obrigada, P,...e Maria Teresa)