A chuva regressou, enfim, cerimoniosa, no sangue correndo-lhe ainda uma essência estival, como quem pede licença para anunciar o tempo das castanhas. Presenteou a terra com novos aromas, deu outro viço às folhas sedentas, que não chegaram a matar o cúmulo da sua sede. As espreguiçadeiras e a piscina foram abandonadas e olham para mim tristonhas, maltratadas, conscientes de verem interrompido o seu reinado, perdido para céus pardos, ventanias que invadem as tardes e viram do avesso as varetas dos nossos guarda-chuvas.
É tempo de arejar as roupas de malha, de guardar os linhos e os algodões. A pele vai ganhando o tom amarelado que nos lembra a distância dos dias de sol e nada poderá impedir que novamente escondamos o nosso corpo sob camadas e camadas de camisolas e casacos, as botas engraxadas, as gabardinas junto à porta, a lenha pronta a arder, na grande cesta da lareira.
A criançada regressa aos liceus, tolerando e agradecendo o atraso na colocação de professores, que lhes dá uns dias extra de férias. Mas em breve todos terão nos braços os novos manuais, os novos horários, os novos "stores", as novas disciplinas.
Sim, a primeira chuva vem lavar-nos do verão, como quem nos desperta; como quem censura ócios e vaidades, pressentindo que algures, sob a pele ainda bronzeada e os figos maduros, já espreitava a saudade.
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