De avental, na cozinha, deitei na panela um bom pedaço de azeite alentejano, descasquei uma cebola gorda e três alhos e deixei a refogar em lume forte. Seguiram-se uma dezena de cenouras, um nabo e um alho francês. No fim, juntei duas courgettes, para engrossar, sal grosso e um pedaço de chouriço, para dar sabor. A água ferve, depois de ter afogado todos os legumes. A casa já cheira a sopa. Abro a janela e mantenho o exaustor desligado; prefiro o canto dos pássaros ao mecanismo irritante do ventilador, que leva para longe os vapores leguminosos. Por companhia tenho um bom copo de vinho branco e a Bolota, que dormita enroscada na sua cama, amolecida pelo fim da tarde. Acabou de chover, por breves segundos. A paisagem libertou o perfume de terra molhada. Baixo o lume para o seis, tapo a panela, tiro o avental e ali fico, como parva deslumbrada, a ver o arco-da-chuva que nasceu precisamente no lado nascente, enquanto o sol brinca às escondidas do lado oposto, ocultando-se por trás dos pinheiros e eucapliptos. O vale tomou um duche rápido e ficou assim, lavadinho e perfumado, revelando, na linha do horizonte, um casario caiado e luminoso.
Sim, é certo que estou numa espécie de fim do mundo, mas a cada vez que ele se finaliza assim, sinto que vale a pena.
Sim, é certo que estou numa espécie de fim do mundo, mas a cada vez que ele se finaliza assim, sinto que vale a pena.
© Nanã Sousa Dias |
Eu que nem gosto muito de sopa, fiquei com vontade de experimentar essa...
ResponderEliminarMas fiz agora uma de alface...tá boa!
Quer uma alface? e nabos? e morangos?
Venha cá buscar!...ou diga e eu levo aí amanhã....
Quero e vou, pois! Beijinhos, passo aí amanhã :-)
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