Carruagem 22. Lugar 47. De regresso do Algarve.
De volta ao meu assento, depois de uma sanduiche americana e de um chá preto no bar. As sete pessoas que deixara, encerradas em mutismo, estavam agora em amena cavaqueira, salvo os dois homens junto à janela. As mulheres-mãe, acompanhadas pelos filhos, já conversavam; os meninos trocavam agora brinquedos e guloseimas
- Então? Não ofereces um à menina?
Pergunto-me se é apenas simpatia, ou também uma forma de encurtar a viagem. Conversam como velhas amigas, sabendo que jamais tornarão a encontrar-se. São quase oito horas da noite e falta ainda uma hora de viagem.
Dormir é impossível.
Não me apetece entrar na conversa de chacha das duas mulheres. Resguardando-me n'A Ana de Londres, da Cristina Carvalho, chego à parte em que a acção decorre em Ribamar, uma aldeia que poucos conhecem, tão perto da minha casa. A autora tem casa perto de mim, somos quase vizinhas, cúmplices. Claro que a luz não ajuda à leitura. Dificilmente encontro a luz ideal para ler. Invejo os jovens que podem anular a viagem com os seus portáteis, neste comboio Intercidades com Internet wireless: fogem para dentro do computador, evadindo-se destas horas de espera.
Para as crianças também é fácil, se tiverem mães previdentes. Com elas trazem uma parafernália de brinquedos e comportam-se, imagino, como se estivessem em casa; expondo, sobre a pequena mesa de fórmica, peças de puzzle, livros, Barbies louras e um rol de outros brinquedos, que não páram de sair das mochilas da Minnie e do Winnie de Pooh.
Estou a levantar-me de novo não tarda. Não porque tenha fome; mas o homem acaba de anunciar que estamos a chegar a Grândola e eu desespero. O tempo desliza, sem passar nos carris. Longe, ainda. Tão longe de casa...
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