O farol, o nevoeiro
A Ericeira banhada em nevoeiro.
A paisagem, tornando-se leitosa,
Esfuma-se na linha do horizonte;
A terra unindo-se ao céu,
Envolta num lençol translúcido
Onde as formas se perdem,
Ganhando ares de mistério.
Filmei as pás das enormes ventoinhas
De energia eólica, sumindo em
neblina.
Apenas o longo tronco dos moinhos se
erguia
Rumo ao céu.
As pás girando, invisíveis, arranhando
Surgindo apenas num instante,
Prestes a roçar o chão,
Para logo sumir no leito celeste.
Amado nevoeiro!
Escuto a sirene dos navios,
Vejo a dança do olho ciclope,
Cuja luz corta o manto níveo;
E os longos triângulos de vapor
Formados pelos faróis dos
automóveis.
Arvoredos que nos pousam
Na Sintra Romântica
Ou em histórias de Dickens.
Algo de belo existe na aura de
mistério
Que o nevoeiro traz,
Transformando as árvores em
espectros
E fazendo-nos acreditar que nada é o
que parece,
E o que vêem, realmente, os nossos
olhos,
Senão a mais pura Incerteza?
(©Vera de Vilhena, inédito, pré-publicação - "Fora do Mundo", Poética Edições)
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