© Zenoviy Klymco "Ericeira à noite II" |
Nevoeiro
A Ericeira sob o nevoeiro.
Paisagem tornando-se leitosa,
Esfumando a linha do horizonte;
A terra unindo-se ao céu,
Envolta num lençol translúcido
Onde as formas se perdem,
Ganhando ares de mistério.
Hoje filmei as pás das enormes ventoinhas
De energia eólica, sumindo na neblina.
Apenas o longo tronco daqueles moinhos se erguia
Rumo ao céu.
As pás girando, invisíveis,
Surgindo apenas no instante
Em que pareciam tocar o chão,
Para logo tornarem a sumir no leito celeste.
Admiro o nevoeiro.
Vou escutando a sirene dos navios,
E vendo a dança do farol,
Cuja luz corta o manto níveo;
Sentinelas, os longos triângulos de vapor
Formados pelos faróis dos automóveis.
Nevoeiro lambendo o arvoredo.
Verde multidão a transportar-nos
Para o romantismo de Sintra
Ou uma história de Dickens.
Algo existe de belo na aura de mistério
Que a neblina traz,
Transformando as árvores em espectros
E fazendo-nos acreditar: nada é o que parece,
Nada se encontra à distância que os olhos vêem.
E o que vêem, realmente, os nossos olhos,
Senão a mais pura Incerteza?
(adaptação do poema publicado em Fora do Mundo, Poética Edições, 2014, p.76)
A Ericeira lembra bem o verão. Este teu poema é muito belo. É de quem ama o lugar onde vive.
ResponderEliminarUm beijo, Vera.