sexta-feira, 22 de julho de 2016

Ericeira

© Zenoviy Klymco "Ericeira à noite II"
Nevoeiro

A Ericeira sob o nevoeiro. 
Paisagem tornando-se leitosa, 
Esfumando a linha do horizonte; 
A terra unindo-se ao céu, 
Envolta num lençol translúcido
Onde as formas se perdem, 
Ganhando ares de mistério. 

Hoje filmei as pás das enormes ventoinhas 
De energia eólica, sumindo na neblina. 
Apenas o longo tronco daqueles moinhos se erguia 
Rumo ao céu.
As pás girando, invisíveis, 
Surgindo apenas no instante 
Em que pareciam tocar o chão, 
Para logo tornarem a sumir no leito celeste.

Admiro o nevoeiro.
Vou escutando a sirene dos navios, 
E vendo a dança do farol, 
Cuja luz corta o manto níveo; 
Sentinelas, os longos triângulos de vapor 
Formados pelos faróis dos automóveis. 

Nevoeiro lambendo o arvoredo. 
Verde multidão a transportar-nos 
Para o romantismo de Sintra 
Ou uma história de Dickens.

Algo existe de belo na aura de mistério 
Que a neblina traz, 
Transformando as árvores em espectros 
E fazendo-nos acreditar: nada é o que parece,
Nada se encontra à distância que os olhos vêem. 
E o que vêem, realmente, os nossos olhos, 
Senão a mais pura Incerteza?

(adaptação do poema publicado em Fora do Mundo, Poética Edições, 2014, p.76)

1 comentário:

  1. A Ericeira lembra bem o verão. Este teu poema é muito belo. É de quem ama o lugar onde vive.
    Um beijo, Vera.

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