O chão queima, não consigo pousar, diz um anjo. A terra murcha, à sede, a ameaçar-lhe as asas com o hálito febril. O solo já coberto de anjos caídos como folhas secas. O choro deles vai compondo serpentinas invisíveis - hoje há vento, dizem os cegos - e só alguns conseguem ver: sonhadores furtivos caminhando sobre o manto estaladiço, em busca de sonhos quebrados que possam bordar, no tecido do tempo, e usar ao peito; sonhos em segunda mão, flores remendadas na lapela gasta de um mendigo. Talvez um dia sejam, também eles, anjos na terra. Talvez seja possível pousar num amanhecer, sem se tornarem cinza.
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