Hoje retomei as minhas caminhadas diárias, essenciais sobretudo agora, que a idade está a mudar e o corpo se vira contra nós. Aquele que era um extenso pinhal e eucaliptal foi eliminado, algures no meu percurso, restando apenas a terra. O terreno arenoso desconcerta-me e o sol é visível, onde antes se escondia entre ramagens, a deixar passar não mais do que umas tímidas lanças de luz. Nos ouvidos tenho por companhia o programa de rádio "A Páginas Tantas", que não perco. O programa de ontem, que, como é meu hábito, escutei em diferido, teve como tema os Epílogos. Mais uma boa conversa entre Patrícia Reis, Inês Pedrosa e Rita Ferro, com Ana Daniela Soares. A transpiração e alguma dor mostraram-me a derrota do corpo. Passo pelas hortas e o verde abundante é um consolo. As duas oliveiras lembram-me um excerto que escrevi naquele que será o meu próximo livro, animais enterrados junto aos legumes e hortaliças, há muito transformados, primeiro em ossos, depois em pó, talvez em alimento e na nossa memória. Se os cães tiverem alma, andamos decerto a comê-la.
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