Vai fazer 13 anos anos, desde que me mudei para o campo, perto do mar da Ericeira. Embora ainda sinta a síndrome do isolamento, muito devido a não ter o meu próprio carro (augura-se, daqui a poucos meses, a solução para esse velho problema, façam figas!), continuo feliz com esta decisão. O privilégio de aqui viver não se nota apenas no que é mais evidente - o ar puro, o custo de vida mais barato, a facilidade em estacionar à porta de casa sem garagem (transformada desde logo em oficina), a beleza natural que me rodeia, a cozinha espaçosa, a lareira etc - mas também no que é subjectivo, no ritmo a que se respira (o ar limpo), na interação pessoal, na simplificação de rotinas e num espírito de entreajuda que não é comum numa grande cidade como Lisboa, onde nasci, apesar de existirem alguns bairros, antigos e recentes, onde esse espírito felizmente sobrevive.
Assim, é normal telefonar para a junta de freguesia a perguntar se a Tânia tem envelopes de autor, com a barra encarnada e taxa de envio especial, para eu enviar um livro pelo correio (que também ali funciona).
- Tenho poucos, mas eu guardo um para si.
E nessa tarde lá vou eu. Estacionamos perto do coreto e da igrejinha, ouve-se um tii-ron! uma sineta com sensor, a avisar quanto a quem entra, e a Tânia lá está, com o meu envelope. Trocamos cumprimentos, aproveito para levantar dinheiro na caixa multibanco, também instalada do lado de fora do pequeno edifício branco e modesto, e o livro segue.
Chego a casa e recebo um telefonema da vizinha, que vive no pinhal em frente, a perguntar se eu quero figos e limões. De oferta, claro. Às vezes, um outro vizinho, gente da terra com quem apenas me dou para um bom dia e boa tarde, deixa-me um balde cheio de ameixas, das encarnadas, carnudas e sumarentas, que não se encontram nos supermercados. Ou vagens de ervilhas ou de favas.
- A vizinha depois atire o balde para lá! (da cerca)
Ao fundo, pastam duas ovelhas. Estão bem longe, não me arrisco a acertar-lhes com o balde. Como diz a personagem do Calceteiro, interpretada por Ricardo Araújo Pereira, e pronto, a minha bida é isto.
Assim, é normal telefonar para a junta de freguesia a perguntar se a Tânia tem envelopes de autor, com a barra encarnada e taxa de envio especial, para eu enviar um livro pelo correio (que também ali funciona).
- Tenho poucos, mas eu guardo um para si.
E nessa tarde lá vou eu. Estacionamos perto do coreto e da igrejinha, ouve-se um tii-ron! uma sineta com sensor, a avisar quanto a quem entra, e a Tânia lá está, com o meu envelope. Trocamos cumprimentos, aproveito para levantar dinheiro na caixa multibanco, também instalada do lado de fora do pequeno edifício branco e modesto, e o livro segue.
Chego a casa e recebo um telefonema da vizinha, que vive no pinhal em frente, a perguntar se eu quero figos e limões. De oferta, claro. Às vezes, um outro vizinho, gente da terra com quem apenas me dou para um bom dia e boa tarde, deixa-me um balde cheio de ameixas, das encarnadas, carnudas e sumarentas, que não se encontram nos supermercados. Ou vagens de ervilhas ou de favas.
- A vizinha depois atire o balde para lá! (da cerca)
Ao fundo, pastam duas ovelhas. Estão bem longe, não me arrisco a acertar-lhes com o balde. Como diz a personagem do Calceteiro, interpretada por Ricardo Araújo Pereira, e pronto, a minha bida é isto.
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