sexta-feira, 24 de julho de 2009

O que ando a ler

Há livros que nos fazem viajar pelo mundo, pelo tempo, pela literatura.
Este, de Alain de Botton, é um desses casos. Recheado de imagens a preto e branco, de citações, de parágrafos escritos em tom de ensaio ou de diário. Uma leitura irresistível. Obrigada, Pedro e João.



"(Flaubert) expõe os seus sentimentos numa carta a Louise Colet, escrita durante uma viagem a Londres, em Setembro de 1851, passados apenas alguns meses após o seu regresso do Egipto:"
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"Acabamos de voltar de um passeio pelo cemitéro de Highgate. Que enorme degradação da arquitectura egípcia e etrusca, tudo aquilo! Tudo aquilo tão limpo e arranjado! Dir-se-ia que os seus mortos morreram calçando luvas brancas. Odeio os jardinzinhos à volta das sepulturas, com os canteiros bem cuidados e as suas flores desabrochadas. É um contraste que sempre me fez pensar no desfecho de um mau romance. Em matéria de cemitérios, prefiro os que estão em ruínas e ao bandono, invadidos de silvas e ervas bravas, e onde aparece a pastar alguma vaca, vinda de um campo vizinho. Temos de reconhecer que é preferível isso a um polícia fardado! A ordem é tão estúpida!"
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E a propósito do desdém de Flaubert em ser de nacionalidade francesa, e da sua paixão pela civilização árabe, o Egipto e os dromedários, transcreve uma carta que o autor escreveu ainda no tempo de escola, depois de umas férias na Córsega:
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"Repugna-me voltar a este maldito país onde se vê o Sol no céu com a mesma frequência com que se descobre um diamante no rabo de um porco. Não dou uma merda pela Normandia e pela belle France... creio que foi o vento que me trouxe até esta terra de lama; nasci com certeza noutro lugar - sempre tive em mim como que a recordação ou a intuição das praias perfumadas e dos mares azuis. Nasci para ser o imperador da Cochinchina, para fumar cachimbos de cem pés, para ter seis mil esposas e mil e quatrocentos efebos, cimitarras para decepar as cabeças cujo aspecto não me agradasse, cavalos númida, piscinas de mármore..."
(GUSTAVE FLAUBERT IN "A Arte de Viajar",de Alain de Botton, edições Dom Quixote)

1 comentário:

  1. Estava relendo Decamerão (Boccaccio), tenho esta mania de reler livros, mas vou comprar "A arte de Viajar", gostei da sinopse que fizeste.
    Me deixou com água na boca, que feio, (risos).
    Até mais e lembranças para Chico e o Gaston.

    Renata Vasconcellos.

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