O homem aproximou-se e o chão era um rochedo
organizado. Bicolor – não um tabuleiro de xadrez, não – antes uma série de
degraus nivelados, lances regulares, cor de marfim, onde, a espaços, agrupados
em dois e depois em três, outros degraus, desta feita elevados, onde ele podia
repousar o seu corpo. As suas mãos. Atordoado e exausto de percorrer escalas de
sons movediços, tão distintos, sob a ventania que o chicoteava, os cabelos rebelando-se,
arranhando a superfície dos olhos, sentou-se numa das rochas de ébano e logo se
sentiu cair. O chão negro abatera-se sob os seus pés. Não havia ébano nem
marfim. Apenas um céu de antracite. No ar soou a nota que faltava, a preencher
um intervalo, não mais do que meio tom…produzindo um acorde dissonante. Ainda
foi a tempo de sorrir, admirando o estranho ponto de fuga que a paisagem
bicolor compunha e, rendido, preparou a lente da sua máquina e, leve como um
anjo, tirou a fotografia.
" a nota que faltava "... tom intermédio entre o tudo e o nada, ao encontro do silêncio.
ResponderEliminarTão bem escrito!
O mais bonito que li, em sua homenagem!
Um beijinho, Vera
Muito obrigada, Maria João. Foi muito sentido.E talvez por isso as pessoas lhe encontrem sentido...juntou-se a inspiração da vida à da morte. Nascida de entre muito do que ganhámos com a música do Bernardo e do que perdemos com a sua partida: celebração e dor, de mãos dadas. Beijos
ResponderEliminarLindo, Vera!
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