sexta-feira, 28 de setembro de 2012

luz

Hoje, que as preces estão contigo, acendo esta vela na nossa vigília. Ainda estás connosco, mas...tudo é tão incerto. Tão frágil. Quando o momento chegar, que a luz te seja de paz e de alívio. Que possas, na tua nova morada, decorar os céus de cores vivas, com a elegância criativa com que sempre iluminaste os lugares entregues aos teus cuidados. Querida M. Tudo é tão cedo, tão cedo...

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Maria do Rosário Pedreira

PROCUREM, PEÇAM, COMPREM, OFEREÇAM. Foi lançado ontem e promete ser maravilhoso.
Pudesse eu morrer hoje como tu me morreste nessa noite —
e deitar-me na terra; e ter uma cama de pedra branca e
um cobertor de estrelas; e não ouvir senão o rumor das ervas

que despontam de noite, e os passos diminutos dos insectos,
e o canto do vento nos ciprestes; e não ter medo das sombras,
nem das aves negras nos meus braços de mármore,
nem de te ter perdido — não ter medo de nada. Pudesse

eu
fechar os olhos neste instante e esquecer-me de tudo —
das tuas mãos tão frias quando estendi as minhas nessa noite;
de não teres dito a única palavra que me faria salvar-te, mesmo
deixando que eu perguntasse tudo; de teres insultado a vida
e chamado pela morte para me mostrares que o teu corpo
já tinha desistido, que ias matar-te em mim e que era tarde
para eu pensar em devolver-te os dias que roubara. Pudesse

eu cair num sono gelado como o teu e deixar de sentir a dor,
a dor incomparável de te ver acordado em tudo o que escrevi —
porque foi pelo poema que me amaste, o poema foi sempre
o que valeu a pena (o mais eram os gestos que não cabiam
nas mãos, os morangos a que o verão obrigou); e pudesse

eu deixar de escrever nesta manhã, o dia treme na linha
dos telhados, a vida hesita tanto, e pudesse eu morrer,
mas ouço-te a respirar no meu poema.

Maria Do Rosário Pedreira, in "Poesia Reunida",Editora Quetzal

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Salvação

                       
Este ano lectivo, em que o meu filho vai estudar os Maias, resolvi retirar esse volume da colecção que em boa hora recebi dos meus pais quando arranjei a minha primeira casa. Um dos melhores presentes que recebi. Quem me conhece, dá-me livros. Quase sempre. Os meus pais sabiam que eu amava esta colecção. A edição do Círculo de Leitores é boa, pois sendo já de 1981, está em excelente estado. Desde criança que nunca precisaram de me ordenar que lesse. Eu mesma surripiava das estantes dos pais, irmãos ou de quem fosse, os livros que chamavam por mim. Foi desse modo que, no início da adolescência e lá para o meio, li Os Maias com gosto, por duas vezes, durante as férias de verão. Quando, no 11º ano, eu e os meus colegas tivemos de ler o calhamaço que fazia parte do programa escolar, já eu falava entusiasticamente dos amores dramáticos de Carlos e Eduarda, do Ramalhete e do requinte com que o Eça descrevia pessoas e lugares. Muitos olhavam para mim como se eu fosse um alien. Uma vez que  não havia computadores nem internet e "dava um trabalhão ler quase setecentas páginas ou ir para as bibliotecas à procura de uma versão mais curta" (diziam eles), foi também com prazer que cheguei a escrever alguns resumos para dar aos amigos mais preguiçosos.
Ah, a colecção verde com os livros do Eça! As manhãs passadas com o meu pai, no café perto de Sesimbra, a ler, com um garoto e um bolo sobre a mesa! A despreocupação da época balnear, em que podia ficar assim, mergulhada num livro, sem pensar em mais nada...! Depois crescemos e nunca mais conseguimos fazer o mesmo. Não assim. A nossa mente divaga, foge das páginas, a pensar no arroz que está a cozer, na roupa que temos que engomar, naquele trabalho que nunca mais se confirma, nos telefonemas que temos de fazer, no familiar doente, no apelo de um amigo, na angústia de pagar as contas, nos prazos que temos de cumprir. 
Abro o livro que tenho aqui ao meu lado e, como marcador, encontro uma folha A5 grossa, já amarelada pelo tempo, escrita à máquina: é o índice da colecção de vinte volumes, que há trinta anos a minha mãe escreveu, para facilitar a consulta, uma vez que nas lombadas não consta o nome de cada obra, uma pequena falha do Círculo de Leitores, que temos de perdoar. Apenas as extremidades da primeira página ganharam um tom caramelizado: leio "A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente o Ramalhete."
Enfio o nariz no centro do livro que não abria há tantos anos, mudando-o das estantes para caixas de cartão, das caixas de cartão para novas estantes, de casa em casa, e com ele assim, finalmente reaberto, aspiro aquele cheiro a velho, a mofo, que me transporta para a casa de Sesimbra - um cheiro que ele guardou para sempre, talvez para me obrigara a ser criança outra vez. Aspiro-o novamente, pois este cheiro que amo nunca me cansa e... o passado é uma tela que me passa diante dos olhos fechados. Há uma espécie de paz que me inunda o peito. Sinto gratidão por ele, por continuar igual a si mesmo, o mesmo cheiro, cada palavra no mesmo lugar, apesar de tanto caos. Por instantes já não estou aqui, deixei de ser esta mulher de meia idade, para tornar a ser a menina que podia passar horas e dias a ler. Nas margens, aqui e ali, há pequenas manchas acastanhadas. Tenho quase a certeza de que são salpicos muito antigos de café, uma migalha de bolo gordurosa, uma gota de garoto adocicado com um pacote de açúcar Nicola. 
Não são apenas as histórias que nos fazem viajar, as narrativas que se escondem dentro dos livros: muitas vezes são os próprios livros, o livro como corpo que também, tal como nós, vai sendo levado pela sua própria vida. 
Comecei hoje a minha terceira leitura d' Os Maias. Um passado dentro do meu próprio passado, num tempo em que pensar no futuro nos provoca tanto medo. É preciso retirar os livros das estantes. Sujá-los, relê-los, fazê-los viver, conhecer cada divisão da nova casa, andar nas nossas mãos. Todos precisamos de salvação. Até os livros.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

a.m. pires cabral

Pelo nome do autor, que pouco ou nada me dizia, pelo título e pela sobriedade da capa, peguei neste livro sem grandes expectativas (também...quem é que tem expectativas hoje em dia?), julgando estar prestes a encontrar-me com uma escrita maçuda, intelectualizada, de difícil descodificação, quiçá plena de referências políticas, históricas, filosóficas, antropológicas, sei lá.
E qual o meu espanto ao ver, logo nas primeiras páginas, que a sua leitura iria constituir um prazer.
Uma narrativa rica, com boas personagens, uma história bem portuguesa, cheia de regionalismos, com graça, homenageando o Douro e a região Transmontana, um cenário ao jeito antigo, narrativa muito bem contada, com bons diálogos, sem que o entusiasmo da nossa leitura esmoreça. Uma surpresa, este Cónego. Uma tiragem de 1200 exemplares, edição da Cotovia, de 2007. Ainda no Natal de 2011 andava aí, vendendo pouco, injustamente. Por diversas vezes me deu a sensação de que lia Camilo. Ganhei um novo autor que desconhecia, vergonhosamente, para mais, tendo já sido por várias vezes premiado, inclusive com o Prémio D. Dinis! Irei mergulhar nos seus versos, certamente, e procurar outras obras. Obrigada, P. :)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Downton Abbey

Tenho costela inglesa e sempre tive um fascínio por certas épocas, tais como o período Romântico e o início do séc. XX. Na infância, séries como "Revivendo o Passado em Brideshead" ou "A Família Bellamy" deixavam-me pregada ao televisor. Filmes como "Beatrix Potter", "O Regresso a Howard's End", "A Juventude de Jane" (Austen) ou "The Remains of the Day" encontram-se dentro de um género que recebo de braços abertos, porque - nada a fazer, chamem-me snob se quiserem - está em mim. O gosto pelo requinte e pelo pormenor, o vestuário, a diferença de classes, o contraste entre o decoro e as paixões, a mudança dos tempos, os primeiros avanços tecnológicos, as mansões, os jardins... e finalmente consegui conhecer a famosa Downton Abbey, que já conta com uns quantos prémios e inúmeras nomeações. É absolutamente irresistível, uma série que recomendo para nos acompanhar nas próximas estações.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Eutanásia

Ontem passámos o serão na companhia de "Uma Vida Melhor" (You Don't Know Jack", 2010), um filme que conta a história de Jack Kevorkian, o médico reformado de origem arménia que se tornou famoso por defender, até às últimas consequências, o suicídio assistido junto de doentes terminais (eutanásia). Foi ao longo de anos por várias vezes acusado, perseguido, preso e, por fim,  condenado por homicídio. Al Pacino faz aqui um papel notável que lhe valeu um Globo de Ouro em 2010. 
Jack Kevorkian foi um homem exemplar, de uma integridade e determinação à prova de bala. Vale a pena conhecê-lo através deste excelente filme realizado por Berry Levinson.

sábado, 15 de setembro de 2012

Bom fim de semana :)

Alguém um dia afirmou mais ou menos isto:
"Nada é impossível, apenas existe uma percepção limitada daquilo que é possível".
Deixo-vos na companhia de imagens impossíveis :)


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Jacob Collier

Que as vozes de todos os que se manifestarem sejam ouvidas amanhã. E a propósito de vozes, deixo-vos com Jacob Collier, e Isn't She Lovely, um puto que faz arranjos maravilhosos e tem uma voz que...é assim.
Bom fim de semana, sim? Tentem ser felizes. :)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Outro o disse...e bem.

Autoria: Nuno Camarneiro


Não sei escrever sobre política, não sei nada de economia (alguém sabe de economia?), não tenho partido, e já há algum tempo que arrumei as utopias ao lado da ficção científica.
Mas sei um bocadinho de pessoas porque vi muitas e até falei com algumas.
Sei que metade dos meus amigos volta a Portugal em Agosto e abana muito a cabeça.


Sei que quanto mais sabemos menos nos deixam  ensinar.


Sei de gente que quase não come.


Sei de alguns que se matam.


Sei de quem trocou a vergonha por um cartão e agora 


administra o que a gente não tem.


Sei que a estupidez veste de escuro, e usa gravata e 


mocassins.


Sei que a Dona Ermelinda fechou a loja.


Sei que o miúdo gosta de ler mas não há dinheiro para livros.


Sei que o "empreendedorismo", e os "layoffs", e as 



"deslocalizações", e as "sinergias" são palavras que dão de 


comer a quem as diz, e nunca a quem as ouve.

 que estamos todos muito cansados.

 sei que não podemos descansar.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Carta aberta

Hoje, no dia em que evocamos a calamidade acontecida em 2001, ser´, decerto, apropriado partilhar convosco uma carta de Eugénio Lisboa magistralmente escrita, dirigida ao nosso Primeiro-Ministro no âmbito  das últimas medidas deste Governo. Não costumo incluir aqui alusões à realidade política, pois este blogue quer-se lugar de refúgio; mas esta carta reflecte tão bem o sentimento de um querido país que se desmorona, que não o pude evitar. Foi retirada do blogue "Da Literatura", da autoria de Eduardo Pitta:

O autor foi presidente da Comissão Nacional da UNESCO / conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Londres entre 1978-1995 / professor catedrático especial de Estudos Portugueses na Universidade de Nottingham / professor catedrático visitante da Universidade de Aveiro / e coordenador do ensino da língua portuguesa na Suécia. É Doutor Honoris Causa pelas universidades de Nottingham e Aveiro. A Câmara de Cascais outorgou-lhe a medalha de Mérito Cultural.
Em Moçambique foi sucessivamente administrador e director das petrolíferas SONAPMOC, SONAREP e TOTAL.

CARTA AO PRIMEIRO-MINISTRO DE PORTUGAL

"Exmo. Senhor Primeiro Ministro

Hesitei muito em dirigir-lhe estas palavras, que mais não dão do que uma pálida ideia da onda de indignação que varre o país, de norte a sul, e de leste a oeste. Além do mais, não é meu costume nem vocação escrever coisas de cariz político, mais me inclinando para o pelouro cultural. Mas há momentos em que, mesmo que não vamos nós ao encontro da política, vem ela, irresistivelmente, ao nosso encontro. E, então, não há que fugir-lhe.

Para ser inteiramente franco, escrevo-lhe, não tanto por acreditar que vá ter em V. Exa. qualquer efeito  —  todo o vosso comportamento, neste primeiro ano de governo, traindo, inescrupulosamente, todas as promessas feitas em campanha eleitoral, não convida à esperança numa reviravolta! — mas, antes, para ficar de bem com a minha consciência. Tenho 82 anos e pouco me restará de vida, o que significa que, a mim, já pouco mal poderá infligir V. Exa. e o algum que me inflija será sempre de curta duração. É aquilo a que costumo chamar “as vantagens do túmulo” ou, se preferir, a coragem que dá a proximidade do túmulo. Tanto o que me dê como o que me tire será sempre de curta duração. Não será, pois, de mim que falo, mesmo quando use, na frase, o “odioso eu”, a que aludia Pascal.

Mas tenho, como disse, 82 anos e, portanto, uma alongada e bem vivida experiência da velhice — a minha e da dos meus amigos e familiares. A velhice é um pouco — ou é muito – a experiência de uma contínua e ininterrupta perda de poderes. “Desistir é a derradeira tragédia”, disse um escritor pouco conhecido. Desistir é aquilo que vão fazendo, sem cessar, os que envelhecem. Desistir, palavra horrível. Estamos no verão, no momento em que escrevo isto, e acorrem-me as palavras tremendas de um grande poeta inglês do século XX (Eliot): “Um velho, num mês de secura”... A velhice, encarquilhando-se, no meio da desolação e da secura. É para isto que servem os poetas: para encontrarem, em poucas palavras, a medalha eficaz e definitiva para uma situação, uma visão, uma emoção ou uma ideia.

A velhice, Senhor Primeiro Ministro, é, com as dores que arrasta — as físicas, as emotivas e as morais — um período bem difícil de atravessar. Já alguém a definiu como o departamento dos doentes externos do Purgatório. E uma grande contista da Nova Zelândia, que dava pelo nome de Katherine Mansfield, com a afinada sensibilidade e sabedoria da vida, de que V. Exa. e o seu governo parecem ter défice, observou, num dos contos singulares do seu belíssimo livro intitulado The Garden Party: “O velho Sr. Neave achava-se demasiado velho para a primavera.” Ser velho é também isto: acharmos que a primavera já não é para nós, que não temos direito a ela, que estamos a mais, dentro dela... Já foi nossa, já, de certo modo, nos definiu. Hoje, não. Hoje, sentimos que já não interessamos, que, até, incomodamos. Todo o discurso político de V. Exas., os do governo, todas as vossas decisões apontam na mesma direcção: mandar-nos para o cimo da montanha, embrulhados em metade de uma velha manta, à espera de que o urso lendário (ou o frio) venha tomar conta de nós. Cortam-nos tudo, o conforto, o direito de nos sentirmos, não digo amados (seria muito), mas, de algum modo, utilizáveis: sempre temos umas pitadas de sabedoria caseira a propiciar aos mais estouvados e impulsivos da nova casta que nos assola. Mas não. Pessoas, como eu, estiveram, até depois dos 65 anos, sem gastar um tostão ao Estado, com a sua saúde ou com a falta dela. Sempre, no entanto, descontando uma fatia pesada do seu salário, para uma ADSE, que talvez nos fosse útil, num período de necessidade, que se foi desejando longínquo. Chegado, já sobre o tarde, o momento de alguma necessidade, tudo nos é retirado, sem uma atenção, pequena que fosse, ao contrato anteriormente firmado. É quando mais necessitamos, para lutar contra a doença, contra a dor e contra o isolamento gradativamente crescente, que nos constituímos em alvo favorito do tiroteio fiscal: subsídios (que não passavam de uma forma de disfarçar a incompetência salarial), comparticipações nos custos da saúde, actualizações salariais — tudo pela borda fora. Incluindo, também, esse papel embaraçoso que é a Constituição, particularmente odiada por estes novos fundibulários. O que é preciso é salvar os ricos, os bancos, que andaram a brincar à Dona Branca com o nosso dinheiro e as empresas de tubarões, que enriquecem sem arriscar um cabelo, em simbiose sinistra com um Estado que dá o que não é dele e paga o que diz não ter, para que eles enriqueçam mais, passando a fruir o que também não é deles, porque até é nosso.

Já alguém, aludindo à mesma falta de sensibilidade de que V. Exa. dá provas, em relação à velhice e aos seus poderes decrescentes e mal apoiados, sugeriu, com humor ferino, que se atirassem os velhos e os reformados para asilos desguarnecidos, situados, de preferência, em andares altos de prédios muito altos: de um 14º andar, explicava, a desolação que se comtempla até passa por paisagem. V. Exa. e os do seu governo exibem uma sensibilidade muito, mas mesmo muito, neste gosto. V. Exas. transformam a velhice num crime punível pela medida grande. As políticas radicais de V. Exa, e do seu robôtico Ministro das Finanças — sim, porque a Troika informou que as políticas são vossas e não deles... — têm levado a isto: a uma total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página.

Falei da velhice porque é o pelouro que, de momento, tenho mais à mão. Mas o sofrimento devastador, que o fundamentalismo ideológico de V. Exa. está desencadear pelo país fora, afecta muito mais do que a fatia dos velhos e reformados. Jovens sem emprego e sem futuro à vista, homens e mulheres de todas as idades e de todos os caminhos da vida — tudo é queimado no altar ideológico onde arde a chama de um dogma cego à fria realidade dos factos e dos resultados.Dizia Joan Ruddock não acreditar que radicalismo e bom senso fossem incompatíveis. V. Exa. e o seu governo provam que o são: não há forma de conviverem pacificamente. Nisto, estou muito de acordo com a sensatez do antigo ministro conservador inglês, Francis Pym, que teve a ousadia de avisar a Primeira Ministra Margaret Thatcher (uma expoente do extremismo neoliberal), nestes  termos: “Extremismo e conservantismo são termos contraditórios”. Pym pagou, é claro, a factura: se a memória me não engana, foi o primeiro membro do primeiro governo de Thatcher a ser despedido, sem apelo nem agravo. A“conservadora” Margaret Thatcher — como o “conservador”Passos Coelho — quis misturar água com azeite, isto é, conservantismo e extremismo. Claro que não dá.

Alguém observava que os americanos ficavam muito admirados quando se sabiam odiados. É possível que, no governo e no partido a que V. Exa. preside, a maior parte dos seus constituintes não se aperceba bem (ou, apercebendo-se, não compreenda), de que lavra, no país, um grande incêndio de ressentimento e ódio. Darei a V. Exa. — e com isto termino — uma pista para um bom entendimento do que se está a passar. Atribuíram-se ao Papa Gregório VII estas palavras: “Eu amei a justiça e odiei a iniquidade: por isso, morro no exílio.” Uma grande parte da população portuguesa, hoje, sente-se exilada no seu próprio país, pelo delito de pedir mais justiça e mais equidade. Tanto uma como outra se fazem, cada dia, mais invisíveis. Há nisto, é claro, um perigo."

De V. Exa., atentamente,
Eugénio Lisboa

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Calceteiro

Para não julgarem que isto é só angústia, aqui vos deixo hoje - um dia tão bom como outro qualquer - um dos meus "soquetes" preferidos dos "Gatos" que nunca deixa de me fazer rir :) Cada palavra, cada expressão facial, cada hesitação, cada silêncio  são perfeitos, a tornar este momento humorístico numa pérola inestimável!
Votos de bom fim de semana para todos, sim? Sejam alegres.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Alma

Está sozinha, aproveita a solidão para ver aqueles filmes que são apenas seus, cujos diálogos sabe de cor. A TVBox é sua cúmplice, guardando 
Comer Orar Amar
A Última Estação
As Good Has It Gets
Julie & Julia
The Shipping News
Enid
When Harry Met Sally
Howard's End
Stranger Than Fiction
O Tigre e a Neve
O Grande Peixe
Moulin Rouge
Um Conto de Natal
O Amor e a Vida Real
The English Patient
E tantos outros que ela sabe reservados para a sua sensibilidade, as várias facetas do seu carácter; os filmes que guarda para o Inverno, os serões aquecidos pelas chamas na lareira, o chocolate quente; e aqueles que alimentam as suas fantasias, porque isto de crescer, de envelhecer, de tornar-se cínica não tem piada nenhuma. É preciso não perder o "ventre da sua alma", como diz Santo Agostinho, não esquecer aquilo que a define.

domingo, 2 de setembro de 2012

Medo

Como é que ela chegava a conseguir convencer-se de que não era na escrita que tudo ganhava sentido? Por mais desculpas que inventasse para se defender, era forçada a concluir que tudo não passava do velho medo. Medo de falhar, de não ser grande, de não ser grande coisa. Essa era a verdade. Envergonhada da sua falta de originalidade, sentou-se na cadeira e escreveu. E fosse o que fosse, sempre era melhor.