terça-feira, 21 de outubro de 2014

A espera no recolhimento

Estes dias não me apanharam fora de casa: foram feitos de leituras, de revisão de páginas e páginas e páginas, de agendamento de visitas a escolas, os livros, os autores, a escrita, esse namoro que é uma espiral sem fim.
As horas sucedem-se ao ritmo do melhor que os meus olhos e a concentração têm para dar. Este verão tardio olha-me, cheio de espanto, pelo desprezo a que o votei: nem um pé na água, nem um ombro nu, a aproveitar este calor em pleno Outono, as águas turquesas, o mar.  É assim, o corpo já desistiu, já fez a sua despedida, está pronto para a lareira, o vinho tinto, as castanhas, as leituras de inverno, o frio e o nevoeiro. Pensar no corpo agora é um desencontro. Já subi à minha árvore de folhas douradas, não quero saber de mim mas do vento, das folhas, das árvores nuas, da brisa morna que traz o inverno. Para me despir, só se as minhas vestes forem vegetais e o mar cinzento, num céu de cobre, sem turistas nem guarda-sóis. Novembro virá não tarda, trazendo morte e nascimento. Aguardo com o meu hálito de Outono, na mão a folha dourada, uma alcova a embalar um novo ser. É preciso ser mãe nas quatro estações, ainda que feita de promessas semi-cumpridas.

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