Em jeito de oferenda natalícia, no dia em que celebramos o nascimento do menino Jesus...
«A Casa suspirou, abrindo fendas minúsculas nas
paredes. Aqueles seus olhos insatisfeitos pareciam não lhe pertencer. Também
ela sabia que o mundo era maior do que aquilo que podia observar a partir das suas
janelas, pois escutara os relatos de viagens que os donos realizavam, quando a
encerravam durante muitos dias e muitas noites. Por mais que a vida do jardim
se modificasse à passagem das estações, não parecia suficiente; por mais contacto
que tivesse com pessoas distintas e testemunhasse o crescimento das crianças, o
lugar era sempre o mesmo. Era a
sua casa. E na verdade seria assim tão terrível pertencer a uma casa, a um lugar seguro?
Como
eram ingratos, os seus olhos, pensava a Casa.
A
Janela, porém, não se conformava com a sua imobilidade.
À noite, sonhava em partir, como tapete
voador quadriculado, sobrevoando outras casas; as torres das igrejas, lagos e
planícies; cidades modernas e bem iluminadas; florestas e desertos; aldeias
paradas no tempo. À hora em que todos dormiam e a escuridão brilhava lá fora,
no esplendor das suas trevas, podia apenas imaginar, sob as pálpebras cerradas,
que percorria esses lugares encantadores.
Por vezes, a Janela
da Casa perguntava à Lua:
− Tu, que tens um
corpo de redonda luz, que vês quando a Noite vem?
E a Lua, inchada no
seu orgulho, sempre respondia:
− Tudo vejo em
sombras tingidas de azul. Mas o que mais admiro, é o meu corpo de prata,
estendido sobre as águas negras.
Como
era vaidosa, a Lua, pensava a Janela.»
(© Vera de Vilhena, excerto inédito, in "O jardim dos desejos)
FESTAS FELIZES PARA TODOS
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