© BRUEGEL, A queda dos anjos rebeldes |
Hoje dominas a arte de não realizar o que escolheste por missão. De
que servirá escrever? Que diferença fará ao mundo? A falta de fé, a consciência de que é
apenas um capricho teu, de que estás só em absoluto, é, talvez, o que te impede
de escrever. O medo de falhar por inteiro: de descobrir que de nada vale, toda
esta entrega a um anjo que há muito se revoltou.
Queres desistir, libertar-te, pedir misericórdia ao anjo rebelde.
Estás
só na tua teimosia. Um demónio segura-te as mãos. Só tu sabes que são amarras forjadas num capricho. Que em ti nada solidifica. A luz não existe. Apenas sabes mentir com fraca chama. Em ti mesma acendes a mentira. E o que se
revela é de uma imensa tristeza. Estás incapaz de esculpir uma palavra mais.
De nada serve, diz o demónio.
Escreve, apesar de tudo, responde o anjo.
Falta-te a fé em algo que não encontras dentro de ti.
E
por isso escreves: para descobrir. Mesmo que, por ora, o demónio sorria, a cantar vitória.
Ao longe erguem-se enormes asas azuis. E tu escreves, apesar de tudo, para que o anjo te dê a mão e te leve a navegar nas tuas correntes.
O melhor é não ouvir nem o anjo nem o diabo... Navega nas tuas correntes...
ResponderEliminarBeijo, Vera.