Uma
velha muito velha vivia numa casa escondida no meio de uma floresta,
onde a luz mal conseguia entrar. Sobre a casa pairava um nevoeiro
esverdeado com laivos de ouro, que as lanças do sol formavam ao
trespassar os ramos do arvoredo, enquanto a lua não chegava com o
seu vestido de feiticeira.
Durante
o dia o silêncio era rei daquele lugar. Apenas o vento se escutava,
silvando, a fazer dançar o tédio dos salgueiros, a tristeza dos
ciprestes que rodeavam a casa de musgo. Durante a noite, porém, os
ruídos surgiam, feitos de bichos alados, rasteiros e marinhos; com
muitas patas e antenas e dentes e pelagem coberta de imundice.
Nessas
horas, em que a lua era soberana, as trevas revelavam tons de prata.
Cristais de gelo e uma poalha azul-cobalto cobriam a folhagem,
inundando a floresta de segredos que se escondem na sedução do
frio, como tímida flor nascendo, por miragem, num manto de neve.
Assim
se comportava o jardim selvagem
que rodeava a casa da
velha, escondida na floresta onde a luz mal se atrevia. Estranho
comportamento é certo,
tão contrário às leis naturais, não fosse a floresta o cenário
verdadeiro da história que aqui se conta, tal como aconteceu.
Do
lado onde o sol se deitava estendia-se um pântano de águas
lamacentas cor de caramelo de leite, habitado
por crocodilos, rãs e serpentes, e onde
dormiam espectros de afogados e esqueletos de velhas embarcações
naufragadas,
que as correntes do rio
haviam empurrado até
àquele fim de mundo sem saída.
Um tempo houve em que o pântano era outra coisa, que não aquele
tristonho composto de terras peganhentas e infectas. Agora a chuva
limpa, vinda dos céus,
não caía ali, como se
uma imensa abóbada de
humidade e calor
sobrevoasse o que agora
mais não era do que um
lamaçal,
fruto de uma qualquer maldição: que
maldição seria
essa?
(conto juvenil em construção, 2015)
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