A meta de um novo livro parece fugir, à medida que vou correndo para o fim. A afastar o sopro do desalento tenho os cães a meus pés, e a chuva caindo com violência, batendo na vidraça do meu escritório, como quem grita, Avança e não te atormentes mais. Stacey Kent canta aos meus ouvidos com um sorriso infantil na voz, La Vénus du Mélo, indiferente ao meu cansaço. Quando a chuva se interrompe revela uma lua gorda, vestida de noite, a bainha uma fileira de luzes trémulas, cor de mel, os torreões da basílica são borbotos de uma saia de lã, picando o céu azul-cobalto. E eis que chegam os violinos de La Javanaise, a evocar, no timbre doce de Madeleine Peyroux, a valsa de Luísa e Salvador Sobral, que tem o País quase inteiro de si enamorado, agarrado pelo coração, amando pelos dois.
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