Um dia de vento em rompantes de fúria, que não chega a ser temporal; uma casa de janelas fechadas, tão ao contrário do costume; a casa sem poder respirar, a conter o fôlego, inspirando, ainda, a presença de um bolo de iogurte acabado de cozer. Horas que poderia ter desperdiçado, não fossem gravadas em longos diálogos com pessoas que amo há décadas; a mudança da hora iminente, a dar entrada ao horário de inverno; o silêncio, apenas o arquejar dos cães, a meu lado. Tento não pensar na vitória inevitável e incompreensível de Bolsonaro, amanhã, e calar os meus queixumes que, ao lado da humanidade mais carente, nada valem. Enquanto faço por me auto-realizar, embora tantas vezes pague as contas com dificuldade - dois extremos sem meio, na corda bamba dos dias -, outros passam fome verdadeira, sem a falsidade dos sonhos. Ao menos a liberdade de nos podermos queixar. Ao menos.
Resta-me o vento agreste do lado de fora do vidro e a textura de flores bordadas, em luz quente e aconchego, do lado de cá. O silêncio, o vento em fúria que não me atinge e um chá verde com gengibre e mel, para adoçar a liberdade.
Resta-me o vento agreste do lado de fora do vidro e a textura de flores bordadas, em luz quente e aconchego, do lado de cá. O silêncio, o vento em fúria que não me atinge e um chá verde com gengibre e mel, para adoçar a liberdade.
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