terça-feira, 24 de setembro de 2019

Ladys in Lavender

Duas das minhas actrizes preferidas, num dos meus filmes preferidos. Ouro sobre...lavanda.




segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Contra o meu silêncio

À medida que a idade avança - e no mês passado completei cinquenta anos -, tendo para uma sinceridade maior. Como se não houvesse tempo a desperdiçar e escrevesse agora apenas para mim, diários sem maquilhagem nem vestidos de seda que façam os outros dizer "que bonito". A confessar a simplicidade dos meus dias, se eles forem simples; a tristeza, se forem tristes; a solidão se forem sós; a alegria, se forem felizes; o tédio, se nada forem. Em vez de me calar se nada tiver, escreverei que nada tenho. Tudo menos o silêncio multiplicado que paralisa e adormece.
Por hoje digo que o Outono chegou. O corpo desistiu de se acobrear. Acobardou-se, amuou. As toalhas, os fatos de banho e os grandes lenços de praia foram lavados e guardados, mal chegando a recordar o sabor do sal ou a rebentação das ondas. Foi um Verão muito mal aproveitado, mas também ele tem culpas, que chegou com atraso. Ainda não foi desta que pintei os muros da minha casa. Em breve as chuvas e temporais, pintar para quê? Agora é tarde. O jardim de vasos também aguarda. Uma espera que já criou raízes. Para começar, as escadas de madeira da piscina desmanchada levaram vasos com plantas. Agrada-me o efeito, a planta da Bé a crescer e a avançar como um longo cacho de uvas brancas, a espinhosa do meu irmão, vinda do Algarve de mota, com ele, a dar as primeiras  flores. Espero que não cometa suicídio, ao descobrir que veio das terras quentes para a zona Oeste, das mais húmidas do país. As poucas floreiras permanecem vazias. Os sacos de terra fertilizada, os vasos, plantas, treliças, ervas, arbustos, flores trepadeiras e todo um pequeno universo de jardinagem chamam por mim, nos viveiros.  O investimento não foi possível. Ainda não. Mas tenho o conforto e o ânimo de um projecto por cumprir. Um prazer adiado. Como escreveu Jorge Luis Borges, "a verdade é que vivemos a adiar tudo o que é adiável". E a terra pode esperar.

sábado, 21 de setembro de 2019

Coisas do campo

Vai fazer 13 anos anos, desde que me mudei para o campo, perto do mar da Ericeira. Embora ainda sinta a síndrome do isolamento, muito devido a não ter o meu próprio carro (augura-se, daqui a poucos meses, a solução para esse velho problema, façam figas!), continuo feliz com esta decisão. O privilégio de aqui viver não se nota apenas no que é mais evidente - o ar puro, o custo de vida mais barato, a facilidade em estacionar à porta de casa sem garagem (transformada desde logo em oficina), a beleza natural que me rodeia, a cozinha espaçosa, a lareira etc - mas também no que é subjectivo, no ritmo a que se respira (o ar limpo), na interação pessoal, na simplificação de rotinas e num espírito de entreajuda que não é comum numa grande cidade como Lisboa, onde nasci, apesar de existirem alguns bairros, antigos e recentes, onde esse espírito felizmente sobrevive.
Assim, é normal telefonar para a junta de freguesia a perguntar se a Tânia tem envelopes de autor, com a barra encarnada e taxa de envio especial, para eu enviar um livro pelo correio (que também ali funciona).
- Tenho poucos, mas eu guardo um para si.
E nessa tarde lá vou eu. Estacionamos perto do coreto e da igrejinha, ouve-se um tii-ron! uma sineta com sensor, a avisar quanto a quem entra, e a Tânia lá está, com o meu envelope. Trocamos cumprimentos, aproveito para levantar dinheiro na caixa multibanco, também instalada do lado de fora do pequeno edifício branco e modesto, e o livro segue.
Chego a casa e recebo um telefonema da vizinha, que vive no pinhal em frente, a perguntar se eu quero figos e limões. De oferta, claro. Às vezes, um outro vizinho, gente da terra com quem apenas me dou para um bom dia e boa tarde, deixa-me um balde cheio de ameixas, das encarnadas, carnudas e sumarentas, que não se encontram nos supermercados. Ou vagens de ervilhas ou de favas.
- A vizinha depois atire o balde para lá! (da cerca)
Ao fundo, pastam duas ovelhas. Estão bem longe, não me arrisco a acertar-lhes  com o balde. Como diz a personagem do Calceteiro, interpretada por Ricardo Araújo Pereira, e pronto, a minha bida é isto.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Culpas e desculpas

Nas notas biográficas autorizadas que circulam por aí, sobre esta que vos escreve, o texto acaba com a frase "Mantém o blogue...e  o site....". E como hoje tive de enviar uma pequena biografia para uma revista que há-de publicar um novo texto meu, de ficção, dei-me conta de que já chega de silêncio, é preciso alimentar a máquina sem a desculpa de que somos pequenos e pouco lidos, não nos resta tempo, as redes sociais levam tudo, nada temos para dizer, blablabla. Ou se tem ou não se tem. E a ter é preciso dar-lhes  de comer,  como se fossem animais de estimação. Pelo menos água, caramba, para não morrerem à sede. Por isso aqui venho tirar o pó a este canto e deixar-me de suspiros. A tristeza anda de costas largas, bem sei, às vezes sinto-me presa por um fio, um sentimento de "p'ra quê?" em relação a tudo, mas a preguiça leva com uma boa parte das culpas. Pedem-me um texto e eu escrevo-o. Se tiver um prazo, melhor ainda. Mas com a minha própria "casa" está visto que faz jus ao ditado Em casa de ferreiro espeto de pau. Mas o que vem a ser isto? Quase dois meses, a sério? Shame on me. É certo que ninguém se rala, mas mesmo assim.