segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Um céu generoso

Esperei que a chuva terminasse de cair e fui passear o serra da Estrela. A temperatura subiu, a frente fria da Sibéria passou e não irá deixar saudades. Fui pela estrada fora, junto à vegetação verde e molhada, fechando por vezes os olhos, a aspirar os aromas renascidos da terra. O sol intermitente jogava às escondidas, surgindo detrás das nuvens cor de violeta, cumulonimbus de recortes de neve, plenos de luz. O cão caminhava ao meu lado, arfando na sua pelagem de inverno, como um lobo bom. E foi então que, sem aviso, o céu transmitiu uma mensagem. Num momento tão inesperado. Tão ansiado. Não foi bem uma mensagem, foi antes uma oferenda: a já há muito desejada sensação de bem-estar. De uma felicidade que embate com a força de uma onda, para nos entrar dentro do peito. E outro remédio não tive senão reter a respiração, com receio de que se fosse embora, sedenta que estava de agarrar a felicidade para sempre, aquela estranha mistura de paz e de fé, que nos diz que tudo está bem. Caminhei de regresso a casa, o cão ao lado, fiel a si próprio na sua fidelidade canina, olhando-me de quando em vez como se me dissesse, com espanto, que está farto de saber que é mesmo assim, que a vida é para se levar dançando e caminhando sob a chuva ou sob o sol, com um peito que escuda um coração teimosamente feliz.

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