Escrevo para dizer que escrevo
Enquanto os cravos vermelhos são tudo
o que os olhos alcançam
por estes dias e eu
escondida em vida silvestre
continuo a abraçar papoilas
cujo tom escarlate, salpicando os prados,
sempre me lembrou a liberdade
mais verdadeira
onde a natureza escuta os nossos gritos
e nos afaga a solidão
com a doçura de um beijo molhado no vento.
Sim, são papoilas, os meus cravos.
Escrevo para dizer que escrevo.
enquanto os salgueiros compõem a manta morta
húmus, folhas secas, cadáveres e raminhos,
decomposição mal disfarçada
em festins e algazarras, encravada em ideais
dentes de leão na brisa caindo desmembrados
sobre quatro décadas de terra que era fértil
Escrevo para dizer que escrevo a liberdade
que a cada dia tentamos segurar
como quem prende nos dedos uma rosa de espinhos
nada somos no silêncio
E é por isso que existem as flores.
Roubei a aguarela aqui
"nada somos no silêncio
ResponderEliminarE é por isso que existem as flores"
Belíssimo poema. As papoilas são irmãs dos cravos. E é legítimo ter uma flor preferida quem assim escreve.
Um beijo.
Obrigada, querida Graça. As suas palavras têm sempre um sabor especial. Gosto de saber que me compreende. Bem haja. Beijo.
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