sexta-feira, 25 de abril de 2014

Papoilas encravadas


Escrevo para dizer que escrevo
Enquanto os cravos vermelhos são tudo
o que os olhos alcançam
por estes dias e eu
escondida em vida silvestre
continuo a abraçar papoilas
cujo tom escarlate, salpicando os prados,
sempre me lembrou a liberdade
mais verdadeira
onde a natureza escuta os nossos gritos
e nos afaga a solidão
com a doçura de um beijo molhado no vento.

Sim, são papoilas, os meus cravos.

Escrevo para dizer que escrevo.
enquanto os salgueiros compõem a manta morta
húmus, folhas secas, cadáveres e raminhos,
decomposição mal disfarçada
em festins e algazarras, encravada em ideais
dentes de leão na brisa caindo desmembrados
sobre quatro décadas de terra que era fértil

Escrevo para dizer que escrevo a liberdade
que a cada dia tentamos segurar
como quem prende nos dedos uma rosa de espinhos

nada somos no silêncio
E é por isso que existem as flores.

Roubei a aguarela aqui

2 comentários:

  1. "nada somos no silêncio
    E é por isso que existem as flores"
    Belíssimo poema. As papoilas são irmãs dos cravos. E é legítimo ter uma flor preferida quem assim escreve.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, querida Graça. As suas palavras têm sempre um sabor especial. Gosto de saber que me compreende. Bem haja. Beijo.

      Eliminar