«Percorro os fonemas como se dançasse,
Envolta numa túnica de água
guarnecida de espelhos.
Sou Ariadne vestida de espanto.
Nos meus dedos cintilam longuíssimos fios
de um novelo de versos e de sonhos
com que me quero salvar.
Já não me lembro de que mitologia saí.
O meu labirinto tem a forma de um pássaro
conivente com a noite.»
(in «Labirintos», 1997, © GRAÇA PIRES, imagem © Sharon Johnstone)
«Caminhamos por entre as árvores
com a boca a saber a menta e a malvas.
Trazemos nas mãos um herbário
de tão fugaz esperança
que nenhuma outra se tece sem desvios
na dobra do peito.
Talvez existam anjos com olhos de musgo
à beira dos abismos por onde se esgueiram
os dias que nos roubam a eternidade.
Talvez a turbulência verde na borda dos ribeiros
unja de seiva a passagem do tempo.»
(in «A incidência da luz», 2011, © GRAÇA PIRES)
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