A
insónia empurra-me o sono para o meio-dia
Uma
lança de luz espreita da portada azul,
ferindo
a penumbra do meu quarto;
Estalam
trovões, um arrastar de mesas e cadeiras:
a
empregada doméstica dos deuses, limpando o espaço divino,
a
generosos baldes de água, lavando o céu e a terra,
trabalho
celeste que não me deixa dormir.
E
os cães.
Os
cães que ladram, cuspindo a sua voz
para
rasgar o medo em dois.
O
som contínuo, das unhas na porta,
uiva
– deixa-me entrar!
É
o bicho que teima em fugir
para
o interior da toca de pedra:
feito
para enfrentar lobos na serra
Guardar
ovelhas no pasto
Nada
quer com trovoadas.
E,
no labirinto da minha vigília,
perdida
numa vertigem de alamedas
que
preenchem a fronteira entre dois mundos – desisto.
A
minha hora não se cumpre:
Abro
a porta e recebo o aroma da terra morna,
O
pivete do pelo molhado do animal
que
entrou – ele, o alívio e o dilúvio
Que
misturo com os meus versos
e
o ritmo acelerado do belo porte canino
que,
arfando, parece dizer-me – obrigada
por
me salvares da tempestade.
(© VERA DE VILHENA, inéditos)
Lindo! Com cães, só podia ser!!!!
ResponderEliminarAinda bem que lhe abriu a porta....